#SONINHA SON Sonia Gonçalves COMENTA A PINTURA DE Graça Fontis E O AFORISMO: "#EU VOU, TU VAIS, ELE VAI, NÓS VAMOS, VÓS IDES, ELES VÃO... PARA AS PREFUNDAS DO HADES#


Boa tarde, Manu... Sim! Um texto belíssimo, sem paranóia, sem hipermodernalismo, sem ego inflado e inflamado, febril, cheio de de idiotices que tanto vejo por ai... Um texto sério, bonito e real e que casa muito com o que poste sobre a janela indiscreta, dessas bestas úteis tão inutilmente dando sentido ao viver. SIm! És um homem além das águas, além dos mares e além desse tempo ordinário que estamos vivendo. Seu texto expressa tudo de verdade e em verdade o que faço minhas palavras ok? Aplaudo-te de pé, meu querido amigo... Bjãooo pra ti e para minha e sua linda Gracinha talentosa... Meus parabéns a ela: obra linda demais... Amei muito!!! Até. Grata por essa maravilha de texto.


Soninha Son(Sonia Gonçalves)


#EU VOU, TU VAIS, ELE VAI, NÓS VAMOS, VÓS IDES, ELES VÃO... PARA AS PREFUNDAS DO HADES#
Graça Fontis: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Digo-o sem qualquer pejo, sem pestanejar, necessito ser sincero, e não tenho interesses outros de negar-me.
Há até verdade, e esta só o tempo revela e mostra. Mas em vossa voz não há pureza; por um ínfimo menor capricho, mais ínfima vaidade ou orgulho da raça expondes a vossa verdade à mostra, no opróbio, nas cantinas e bares, nos botequins de vermelho deslavado, escavoucado cá e lá, e verdurarias, no baixo meretrício e nos supermercados, no mercado municipal, nos bordéis próximos ao Presídio Municipal, nos açougues da periferia, nos campos de guerra, campos da fome e da sede, campos de exilados famintos, sedentos, e presidente se recusando a receber exilados em seu país...
Acaso tendes esta certeza tão incólume de que o dito e revelado a todos seja sim a vossa verdade? Não acredito eu que por um átimo de segundo não tenhais tido alguma dúvida? Não tenhais pensado poderia haver equívoco enorme, e tudo se tenha transformado em um motivo de riso e galhofa, causa de mangofa irônica, satírica ao estilo de vós fostes iluminado, pousou-vos na águia, emborcado, braços abertos, mãos segurando suas asas, passeais pelo espaço, não con-cordais há quem se sente instalado no mundo, monte no seu cavalo alado e começa as estripulias aéreas? Mas não. O que primeiro foi sentido logo encontrou nas palavras abrigo de consciência e verdade. Engraçado!... Por mim, antes de qualquer afirmação acerca de mim, por-me-ia em questionamento, analisando isto e aquilo até que conseguisse assegurar-me de meus sentimentos e emoções todas.
Sou tão misericordioso e solidário por vezes, então envio-lhe estas palavras em homenagem à sua pachorra da verdade, é merecedor: "De mãos atadas aos pés por algemas, eu vou, tu vai, ele vai, nós vamos, vós ides, eles vão para as prefundas de Hades; nada há mais de contestar".
Do outro lado da abóbada que conduz a um pátio, por trás dos muros de telhas desbotadas e sem brilho, há um grande jardim com lilases e roseiras, nas paredes vasos de orquídeas suspensos. Desço ao longo das ruas tranquilas ladeadas de jardins, de pequenas casas de campo afogadas em verdura e flores, de terrenos baldios com largas faixas de areia de um amarelado ocre demarcados com cercas de arame farpado. Uma bruma luminosa suaviza as linhas, atenua as cores, dá um aspecto fantasmagórico e fenomenológico a essa paisagem sem pitoresco, mas de uma fluidez e de uma simplicidade sedutoras.
Cores vão se achando a si mesmas, atraindo-se e se repetindo num movimento contrapontístico, re-versa-se, inversa-se, multiplica-se, se des-cobrem até que se des-cobrem pólos de um mesmo conjunto, transformando-se, então, em áxis cromática de uma idéia, de um pensamento, de uma utopia da imagem, de esperanças e sonhos, desejos e fé.
Vós quereis realmente dar sentido e significado, identificar a própria crença e íntimo credo, dizer alguma coisa, mas por temor escondeis o vosso último juízo, vossa derradeira palavra, com a intenção exclusivíssima de estadismo, porque não sentes segurança capaz, tendes firmeza para enunciá-la, declará-la a plenos pulmões, mas apenas uma fútil ousadia, um covarde atrevimento. Vós vos gabais de inteligente, útil, capaz, consciente, mas vós apenas titubeais, e o titubear-se é uma rede sedenta de plenos vacilos, porque embora a vossa inteligência funcione, a vossa alma, o vosso espírito, coração estão ofuscados pelo desequilíbrio, desestrutura, insanidade, perversão, e sem uma alma, espírito, coração ingênuos, puros, inocentes não haverá um eu, uma consciência plenos e justos. E quanta impertinência há em vós, como sois impositivo, como se lhe surge na face a empáfia, como sois cheio de nove horas e regra de nove. Mentira, mentira e mentira. Quê absurdo! Apocalipse agora!
É evidente que eu mesmo imaginei, criei, e por que não dizer que inventei todas essas vossas palavras, bebi num cálice de verbo a oratória sem cor e sabor, odor, para matar a minha sede de censura e rejeição, realizar a paranóia que é só minha - estais em silêncio apenas ouvindo. Se fostes mesmo real, estivesse pisando no solo de vossos caminhos, o que diríeis, fico aqui a in-vestigar nos cofres da inconsciência, fá-lo-ia, sim, por per-versão, ironia, para ver de perto os vossos risos e deboche. Bosque. Não sois, contudo. Criei a vossa palavra para deleite e exultação de estar curtindo este dia de cerração à beira-mar. Isto é também de um homem além das águas. Olhando-as, contemplando-as, buscando entendê-las, tenho passado trinta e oito anos consecutivos observando com perspicaz atenção, por uma frincha, a essas vossas palavras. Sou eu quem as expresso, sou quem mesmo as inventou, pois é apenas isso que se tem de fazer à beira-mar num dia de cerração observando a neblina obscurecendo a visão das águas comungando-se às nuvens, olhando a água, as ondas espraiando-se, inventar alguma coisa.


Não é de se espantar, assustar, não é de causar qualquer admiração que estas palavras hajam sido decoradas e assumido forma literária.


(**RIO DE JANEIRO**, 02 DE JUNHO DE 2017)


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