#FILOSOFIA DE UMA VEZ VAGABUNDO, VAGABUNDO ATÉ O CREPÚSCULO DO APOCALIPSE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Sou de aqui. De alhures, exilei-me. De algures, expatriei-me. De aqui, finquei raízes.
Vagabundo de ideais da verdade e do ser, vagabundo de esperanças do absoluto e sublime, vagabundo de utopias da justiça e solidariedade, vagabundo de sonhos do amor e sinceridade, vagabundo de metafísicas do entardecer sob os finíssimos pingos de chuva, musicalizando a passagem do vento suave e ameno e o cair das folhas, do emurchecer das flores, mercadores e ladrões, famintos de poder, olhando o sol se despedir no infinito do mar. Uma vez vagabundo, vagabundo até o crepúsculo do apocalipse.
Sou de agora. De antes, isolei-me. De depois, afastei-me.
Sendeiro da luz eterna nas trilhas do que é dignidade e honra, peregrino do rio de águas límpidas sem pressa, sem margem, sonhando a consciência, idealizando a ética, desejando a estesia das silvestres sendas da contingência.
Viajante nas sendas e veredas das imanências do ser e não-ser...
Bendita primavera, cerne da ec-sistência, eidos do estar-no-mundo, inebriante perfume de flores ao qual não há recusa. Êxtase, volúpias curtidas por antiga essência, voluptuosidades com-partilhadas com os éritos de tempos idos e olvidados.
Nem mesmo a Babel dos deuses, a Eiffel de Paris. Nem o brilho cadente das estrelas, nem a magia de todas as re-velações estacionais, e nem mesmo a liberdade de um pássaro vítima do cárcere... São comparáveis àquele tempo de ideais, utopias, há quase quatro décadas, mas não era o tempo inda, águas e mais águas deveriam passar por debaixo da ponte, fui deixando inscrito nos tabernáculos do caminho em letras góticas: "A esperança é a última que morre", fui deixando inscrito nos templos de beira de estrada em letras cursivas "Quem ri por último, ri melhor", fui deixando inscrito nas tabacarias de esquinas de ruas passadas em letras escorreitas de sentimentos e emoções "Um dia é da caça, outro, do caçador", tropecei em pedras, catei cavacos pelas alamedas, becos e avenidas, violeiro do eterno à busca do presente real e verdadeiro, violeiro da verdade às cavalitas das contradições e dialéticas, violeiro do amor à luz dos encontros e des-encontros...
Tempo de aqui-e-agora, onde as vozes dos anjos sussurram às almas os tempos prévios, pós colheita de alguns frutos, degustar-lhes o sabor, viajo em suas asas, o além espera-me de braços abertos, coragem para a mudança das guardas, o que me transcende prepara-me o banquete, o que me contingencia arruma-me as cositas na algibeira, "depois da tempestade, vem a bonanza", consciente das dialéticas da história, contradições da vida, nuanças do sim e não, tecendo com os aforismos dos ideais e utopias reais e concretos o capote da honra e da dignidade, sinceridade, verdade, com o couro curtido fazendo a bota de cano longo dos princípios éticos e morais, à moda de Patti Smith, virtudes educacionais e gnósticas, sinto-me neste tempo, sou neste tempo, estou neste tempo da ec-sistência à eternidade, eterno de verdades colhidas nas experiências, eterno de sonhos a-nunciados nas vivências de labutas, eterno de esperanças re-veladas na visão da vida imanente, eterno de fé evangelizada no sentimento da ressurreição, eterno de amor questionado no desejo do "nós", história e homem.
Da ec-sistência à eternidade...


Como não posso seguir esta alameda, se é paisagem, se é sonho, se seus caminhos vertentes são jardins, são flores, são esperanças?


(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE JUNHO DE 2017)


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