**LÍRIOS BRANCOS NAS PÁGINAS DOS DESEJOS** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Cáritas eidéticas do sublime, pretéritos não me são póstumos, não me são efêmeros, não me são. Passados me não são pósteros.
Inverno in-verso de outros frios sentidos, vivenciados, sentimentos e emoções inda des-conhecidos perpassando a alma, miríades de imagens campesinas a-nunciam-se longínquas, serenitudes.
Idílios re-versos de poesia, há de vir lírios brancos nas páginas dos desejos que se lançam ao além, perspectiva do absoluto re-nascido no crepúsculo do não-ser, concebido no alvorecer nublado - lembranças de estar encostado do parapeito da janela, manhã fria, quase quatro décadas de existência esta lembrança, ouvindo Stand by me cantada por Lennon -, quiça o ser preceda a vida, o verbo do frio projeta-se no infinito, a busca incólume do que trans-cende o instante, momento, instante-limite do nada. Sonho do Verbo Vida. Vida do Verbo Sonho. Verbo do Sonho Vida. Sorrelfa de ídílios compactos.
No fim do arco-íris um pote de ouro. O re-nascer: é a alma se presentificando e os desejos sarapalhados alhures e algures, nada vazio. Não me sou pretérito. Não me sou há-de vir, não me sou. Sem margens, sem pressa o rio de sonhos, antes de quaisquer origens e esperanças, antes de quaisquer fontes e quimeras do in-audito. Quem sabe a vida jamais tenha existido, existe o verbo de carne e ossos, e nas suas conjugações do tempo e contingências intemporais a querência seja carne e ossos a tornarem-se vida, tornarem-se ser, tornarem-se arbítrio da morte. Idílios de sorrelfas compactas.
Solidão. Silêncio. Ausência. Carência. Medo. As estrelas têm cinco pontas. O tempo tem cinco conjugações: infinitivo, indicativo, subjuntivo, gerúndio, particípio. Sou-me quem tece de vazios e nadas, nonadas e travessias, temas e temáticas , o mundo chegando e ninguém, o éden retros-pectivando e nenhuma terra. Cócito de águas límpidas, sombras de árvores arbítrias de espírito, livres de alma.
Há-de vir me não é subjuntivo, me não é gerúndio. Cocito a esperança, o sonho. Res-pondo o nada, o vazio entre-laçados na ausência da primeira pessoa do uni-verso presente do mais-que-perfeito. O verbo precede o ser.
Mesmo que o verbo preceda a vida, mesmo que a poesia preceda a esperança do ser, mesmo que o ser venha depois do absoluto, me não seria a mim pura e nobre contingência, se o coração não pulsasse o silêncio, a luz eidética do trans-cendente, do que trans-eleva o limite-instante do eterno-divino.
Metáforas do inaudito. Inaudito da metafísica. Semântica do amor à luz do sublime desejo do amor. Linguística do espírito à mercê do celeste azul que cintila horizontes do in-finitivo in-finito do não-verbo.


(**RIO DE JANEIRO**, 29 DE JUNHO DE 2017)


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