#PERPETUA-SE O EQUÍVOCO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Deus tem pleno sentido, Deus só tem sentido existencial se for resposta à busca radical do ser humano por luz e por caminho a partir da experiência de escuridão e de errância, de solidão e sombras. Ou simplesmente pela experiência iluminadora de sentido que deriva da vida, da majestade do universo, da inocência dos olhos da criança.
Deus olhou suas criaturas e com divino e paternal cuidado constatou que a solidão não lhes faria bem, não realizaria suas vidas. Olhou-as com olhar preocupado, sentimento de alguém que só quer o melhor para elas, pois na vontade divina não cabe a solidão. Con-templo agora nós, geração marcada por estar assim, tão só. Mergulho em alguns temas procurando respostas... Vejo a solidão com três faces: a primeira, espiritual. Quanta gente só, diante do mistério, diante do inefável, diante da Vida. Não escuta Deus, não fala com Ele, não o encontra, não o pensa, e ainda tem a petulância de ser ateu, o maior inconsciente é aquele que negligencia a inconsciência. Falar de Deus os homens somos capazes mesmo sem palavras, mas falar com Deus é necessário haver palavra que possa Ele ouvir, e esta só poderá ser dita através do Amor e da Compaixão. Que solidão terrível, esta: a criatura desencontrada do seu criador, semente sem campo para germinar, alma que não encontrou o caminho da própria casa.
Quem sabe devesse tecer considerações que penso e sinto serem primordiais no sentido de tornar lúcido o que dentro trago em mim, o paradoxo, que, por vezes, não encontro modo de definir, as situações indecorosas em que me envolvo, muitas vezes tendo de calar-me, nada dizendo, deixando-me exposto a todos os ventos e sibilos deles de entre serras e montanhas. Há quando penso comigo que questiono a natureza da arte, expressá-la de modo exemplar e único, estilo particular e singular, tendo de carregar a tinta no que há de contraditório, sem senso, quem sabe atingindo o efeito pretendido, o que requer submissão às constantes análises sobre a produção. A idéia assume o papel de motor que faz a arte.
E, em me referindo ao ambíguo, não posso deixar de registrar, ainda que penso não devesse estar tecendo tais considerações, para que irão servir, pergunto-me, angustiando-me, pois que não saberia responder por elas. O ambíguo se me apresenta num campo aberto de sentidos, revelando ou sugerindo diversos significados, às vezes até opostos, sem confirmá-los jamais, se o fizesse, creio, perderia a originalidade, pois que intencionam ser imagem do mistério. Como o objeto ambíguo aponta aspectos e valores múltiplos!...


Perpetua-se o equívoco, que não se extingue, mesmo quando, por instante, penso que encontrei o sentido verdadeiro.


(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE JUNHO DE 2017)


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