#É NA POEIRA QUE SE ALEVANTAM OS PÓS DA VERDADE - MANIFESTO DE UM PROJETO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


**... veneno e ácido misturados numa taça são doses cavalares, os homens são carentes de afago, toques, e se esquecem de como regem suas ec-sistências..."


Não quero aforismo que re-verencie os absolutos e eternos, que aquiesça ser re-nascido das cinzas e aprendido outros ornamentos, ilustrações, arrebiques de como reger a vida com intelectos que se criam e re-criam continuamente, com convicções irreversíveis, que dite as normas e regras da alma que perquire, questiona, indaga, in-vestiga, avalia.
É tempo de partir, quem fica acumula saudades, nostalgias, melancolias do não-vivido, do não-vivenciado, aos horizontes mandar o grito errante da vedeta, o olhar vagabundo à guarita de sentinela.
É tempo agora para quem sonha a glória, para quem deseja a luz que guia o barco nas águas límpidas e cristalinas, iluminando as margens, a natureza, e a luta... E a luta, essa lareira, onde re-ferve o bronze das estátuas, o branco resplandecente dos cristais, as cores di-versas das pedras preciosas, que a mão dos séculos no futuro talha e ornamenta à mercê de um livro a decifrar, de uma idéia ou sentimento a in-vestigar, de uma sensação ou intuição a avaliar.
Não quero aforismo de berços esplendidos do ácido crítico, do veneno moralístico, da "tapa de luvas" ética, que firam as susceptibilidades, alfim veneno e ácido misturados numa taça são doses cavalares, superior ao que Socrates fora condenado a morrer, os homens são carentes de afago, toques, e se esquecem de como regem suas ec-sistências, numa palavra única, são dignos de comiseração.
A cada berço levar a esperança e a fé, esperança e fé na con-tingência, as trans-cendentes esvaíram-se no tempo, para nada mais servem, é na poeira que se alevantam os pós da verdade.
A cada campa levar o pranto. A cada cruz nas margens solitárias da estrada a vontade de a vida ser puramente a paz, a violência esquecida.
Estrada eu sou, e a percorro acompanhado dos íntimos da contingência e dos desejos do espírito. E pendido através de dois abismos, com os pés na terra e a fronte no infinito, pedir ao in-audito a benção dos homens, levantar o grito de amor e paz.
Não quero aforismo poético que decante com versos e estrofes sublimes os sentimentos, a solidão, o silêncio, que declame ao som de harpa, violino, cítara as ilusões, quimeras, sorrelfas do vir-a-ser, apenas com algumas notas agudas para re-velar náuseas e angústias daquelas coisas que se cristalizam.
Cantar o campo, as selvas, as tardes, a sombra, a luz; soltar minh´alma com o bando dos pássaros a sobrevoarem o chapadão, o sertão infinito e aberto; ouvir o vento que geme, sentir a folha que treme.
No horizonte desvendam-se as colinas, serras e montanhas, até mesmo de montes de terra, CUPINS, sacode o véu de sonhos de neblinas a terra ao despertar. Tudo é luz, tudo aroma e murmúrio, tudo esplendor e silêncio. No descampado o cedro curva a fronte, folhas e prece aos pés do Onisciente mandam a lufada erguer.
O sonho do verbo de minhas letras habitou-me sempre como a Estrela Vésper que alumia aos pastores nos fraguedos; ave que no meu peito se aquecia ao murmúrio talvez dos meus segredos, revoltas, ódios e raivas, conflitos e traumas, ao sussurro quiçá de meus silêncios e enigmas, o cochicho de minha consciência e inconsciência, até da língua solta e livre das quimeras e sorrelfas,
contra as hipocrisias sociais e históricas, aparências individuais.
Mas por longo tempo sinistra ventania mugiu nas selvas, rugiu nos rochedos, condor sem rumo, errante, que esvoaçava, deixei-me entregue ao vento de sorrelfas e fantasias, dos risos e gargalhadas sensaboronas - amo-os sem trincheira, por intermédio deles é que a felicidade se me manifesta plena.
"Quase me perdi, vi os sonhos todos se esvaecerem juntos com a neblina que cobre as serras e montanhas.", não quero aforismo que re-clame, suspire por haver-se deixado levar pelos ventos, em nome de "frases de efeito", adágios, ditados populares, sim que alevante mais os pós da verdade, na poeira da estrada.
Creio no porvir, na infância da inocência e ingenuidade, na juventude dos sentimentos, no amadurecimento da consciência e dos objetivos, na velhice das experiências e sabedorias, sol brilhante do céu da liberdade, e que aprendo a arrancar-me de dentro e mostrar outros uni-versos e horizontes que me povoam o espírito e a alma.


(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE JUNHO DE 2017)


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