#CARIOQUICÉIAS DO ESPÍRITO# - Graça Fontis: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Instalei sensibilidades a demais em meu observar e ele veio a transbordar doces gotas, a saltar em um precipício momentâneo e sisudo...


Adejo. Adejo. Adejo. Resido abalando à demanda do que me faculta alma...
Clima ameno de início de inverno, suavemente as folhas das árvores balançam à mercê do vento, madrugada houve com chuvinha caindo, molhando a natureza, raios de sol sereno nos solsticios do espírito numinam os hares do krishna dos pensamentos que trans-versam de inícios o genesis do caos que se tornou cosmos, a genesis do início que se tornou carne-verbo na sedução trans-viada do tempo-ser, aquilo mesmo de "As folhas caem... o inverno já chegou..." no ritmo e melodia da alma pulsando no peito as éresis do soneto do tempo, no sono as linguísticas da imagem anunciando as pers do sonho, no sonho as metáforas do passado.
Obscura é a existência e enigmático entendê-la. Com a acuidade que todo vate incumbe possuir, arrestou algo da complexidão do feito de viver. É obscuro o empenho de compreender aquilo que não se esvazia. A existência é assim intrincada, como o é seu promotor. O misterioso só se aplica aquele que ainda idealiza. Esse espanto pleno que abrange o ser numa cerração de surpresa e pasmo esvazia toda e qualquer aspiração de enumeração íntegra do ser. Somos um perene “vir a ser”; em outros vocábulos, não somos, residimos, em processo, sempre, préstito sem termo…
O homem verdadeiramente sábio não é aquele que persegue cegamente uma verdade. É somente aquele que conhece constantemente todos os três caminhos, o do Ser, o do não-ser e o da aparência. Um saber que ultrapassa, transcende todo saber e superioridade só é concebido àquele que experimentou o ímpeto alado do caminho para o Ser. A mão que escreveu "impeto alado do caminho para o Ser", há segundos, não soube que estava escrevendo, mas é provável que, se soubesse, não desse a mínima, estivesse nas tintas para isto.
Metafísicas dos vazios. Poesia das pontes partidas. Metáfora de nonadas. Taos de veredas por onde as esperança trilham as veredas da vacuidade no desejo do além prefigurado de sin-estesias do aquém.
Limitado no sertão de meu ser, meu horizonte não coincidia com o do mundo. Ser oculto, irrevelado, descobri o mundo exterior e suas antíteses, aos poucos fui manipulando a dialética através da in-versão, re-versão, olhava para frente, eram risíveis as coisas de ponta-cabeça, passar por elas requeria malícia e perspicácia, por vezes maledicências, alfim este adeus ao sertão de meu ser ao mundo exterior e suas antíteses, trazia em si a intenção, objetivo, projeto era sair das aparências, atingir-me. Do pináculo do templum aquele que se encontra em epifania não pode aceitar aquilo que a tentação lhe oferece, pois, na verdade, tudo lhe pertence.
Penumbras de genesis deslizam suaves, serenas nas bordas do infinito, luzes distantes, longínquas cintilam nas nonadas do tempo início das genesis, esplendendo no espaço de poéticas do belo e verdade o sonho do infinito delineado de perspectivas numinosas do perene, tempo de graças no eidos do espírito, tempo de júbilos nos interstícios da alma, tempo de glórias na poesia da liberdade, dialéctica da poesia que supera as antíteses em que o ser prosaico se deixa debater, a pro-jeção de um olhar a quem falta o conhecimento da espessura da realidade torna-se um caminho.
Início das genesis, nos versos in-versos da plen-itude de sentimentos e emoções pervagam símbolos, signos do ser à busca de iríadas do eterno que preencham os vazios do nada, que solsticiem no crepúsculo do efêmero, começo do eterno, o oriente verso-uno das estrelas a iluminarem as trevas que circundam as bordas do silêncio, os ocasos que habitam o núcleo da solidão, e no início do silêncio desértico o re-nascer das dimensões trans-cendentes, e no entardecer da inspiração do soneto-verdade do espírito a concepção das in-verdades da melancolia, nostalgia que, perpassadas de a-nunciações do sublime, giravam o catavento nos auspícios da montanha solitária no vale das ilusões, quimeras, fantasias, miríades do absoluto performando o baile das essências notívagas, no corpo do mundo as contingências do nada, pro-jectando a imagem, transpassa e transcende.
Despedida... Lembranças... Recordações...
Instantes de alegria, felicidade, prazer, na memória luzes do há-de vir de outros momentos, no presente, aqui e agora, sentimentos e emoções, iríadas dos sonhos perpassando o tempo, éresis das esperanças do uno-verso, verbos do eterno entrelaçados de gerúndios da felicidade. O que me foi - pretérito? Não pretérito, mas semente, o vir-a-ser de novos horizontes, o ad-vir de outros infinitivos da ribalta a luzirem de miríades dos desejos a plen-itude do sonho - verbo da liberdade para o Ser, o porvir do orvalho a tocar as folhas viçosas da primavera, as pétalas suaves das flores a exalarem o perfume sublime, diário da sedução da carne e do espírito.
Despedida. Ladainha de sensações, volúpias, êxtases, os versos, estrofes esperando as palavras tocarem o íntimo das saudades, vontades de outro encontro, cântico do pleno, canção do ser que se torna verbo, do não-ser que se torna travessia de nonadas para o além de contingências figuradas de buscas e querências.
Despedida. Início do genesis. Aceno de ilusões, fantasias. Genesis do início. Início da genesis.
É devagar, devagarinho que na continuidade dos desejos, vontades, sonhos, esperanças que se chega, que se realiza o reencontro, com outras utopias do verso liberdade do verbo, idílios do desejo-estrofe que se pro-jeta de luzes no soneto do "é liberdade... é entrega, é o ser"


Ainda que saiba, conheça, seja cônscio das mineirices da liberdade nada seria sem as carioquicéias do espírito, projetos da liberdade, ironia que ironiza as aparências, sem as carioquiríases da alma, ondas, ressacas, brisas, maresias do mar, nada seria.


(**RIO DE JANEIRO**, 06 DE JUNHO DE 2017)


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