**IRMÃO DO TEMPO, AMIGO ÍNTIMO DO SER** - Graça Fontis: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Vejo, sinto o porto visto das águas, é bom tomar
distâncias, elas aumentam o olhar, a alma voa mais
livremente.
Posso viver, hoje, os caminhos, como se meu sorriso
não fosse forçado. Posso falar com o coração sem o medo de silenciar a boca.
Posso fazer gestos, como se meus braços fossem velas ao mar, prontas a envolver
luas e estrelas, universos e horizontes. Posso soltar a voz e olhar de frente
para o futuro, para o afluir-a-ser, como um irmão do tempo, amigo íntimo do
ser. Posso con-templar a morte deixando de ser temática acidental e vai se
avolumando à medida que a vida-obra decorre. Posso tornar os versos
introdutórios de uma composição como explicadores da temática da morte diária
através de uma continua evsão. Ainda que calejadas pelo remo, minhas mãos
trazem a textura de pétalas finas das rosas, pois, se se deram aos motivos do
coração, pode haver algo mais sensível, mais suave de se sentir íntimo, de
afagar no peito? Posso olhar o futuro sem as costas amarradas a nada. Posso
viver sem ter que provar nada a quem quer que seja, de explicar isto ou aquilo,
o perdão que a vida me concedeu.
Sem justificar meu silêncio ou meu canto quando alguém apontar seu dedo em direção ao meu olhar, dar-lhe-ei minhas mãos, pois sei que os infelizes são os mais dignos de compaixão, os desgraçados são os mais susceptíveis à solidariedade, os discriminados são os mais sujeitos à comiseração.
Sem justificar meu silêncio ou meu canto quando alguém apontar seu dedo em direção ao meu olhar, dar-lhe-ei minhas mãos, pois sei que os infelizes são os mais dignos de compaixão, os desgraçados são os mais susceptíveis à solidariedade, os discriminados são os mais sujeitos à comiseração.
Mas o
que mais dói é ouvir daqui que a maioria fez da vida uma canção, cuja lírica
possui apenas uma palavra: HIPOCRISIA!
(**RIO
DE JANEIRO**, 06 DE JUNHO DE 2017)
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