Ana Júlia Machado ESCRITORA E POETA ENSAIA A SÍNTESE DA FILOSOFIA E DA POESIA NO AFORISMO /**ÍMPETO ALADO DO CAMINHO PARA O SER, SEM PALAVRAS DIVIDIDAS**/
No
texto de Manoel Ferreira Neto acerca de #ÍMPETO ALADO DO CAMINHO PARA O SER,
SEM PALAVRAS DIVIDIDAS# leva a uma pequena volta à história do ser…. Poderia
ser enorme… mas vou ser o mais lacónica possível. Parece ser um texto
acessível….de modo algum…. seu Ser, já o acompanha nos primórdios da filosofia,
sabedoria e poesia… até aos dias de hoje…. e afinal o que é o caminho para o
SER… é eternamente a dúvida…. a teoria altera… os pensamentos alteram…. como se
pode verificar nesta pequena dissertação que faço e que está incluída no texto
de Manoel, mas laconicamente…quem pretender saber mais….que puxe pela cabeça…
A
poesia e a filosofia possuem um vasto antigamente a ser recordado; um íntegro
agora a ser pressentido; e um vasto devir defronte do qual, no entretanto,
podemos somente pressagiar. Cogitar a poesia e a filosofia, a conexão de cada
uma delas com a existência e principalmente entre si
têm-se
erudição que a poesia antecedeu a filosofia. Então, se “no início era o verbo”,
esse verbo essencial foi inspirador. Muito antes de homens meditarem naquelas
ilhas gregas da antiguidade, Hesíodo, um camponês que vivia nas proximidades de
Téspias, na Beócia, em suas próprias palavras, uma aldeia amaldiçoada, cruel no
inverno, penosa no verão, jamais agradável, já poetizava sobre a vida
simplesmente ao dizê-la. Homero, autor da Ilíada e da Odisseia, foi outro
antigo grego que proferiu poeticamente o universo.
E
a poesia satisfazia! Mais do que isso, causava remanescer interfaces para a
gente compreender o autêntico e para este entendê-la. Tanto que os rudimentares
homens que, depois, foram apelidados de “os primeiros filósofos”, quais sejam,
os prés- socráticos, muitos deles se auxiliavam da suficientemente
familiarizada índole poética para verbalizarem da existência por uma via outra
que não mais exactamente poética. Estes, contudo, poetas não eram mais.
Essa
mestiçagem entre poesia e filosofia permanece translúcida no poema do filósofo
Parmênides de Eléia, Sobre a natureza, no qual o pré-socrático socorreu-se do
hábito poético de seu tempo para encetar sua conversação com o ledor e desse
modo ostentar a tese filosófica da qual cuidaria sem, verbalizemos assim, criar
pasmo. Não desprezemos, consistimos proferindo de uma agremiação absolutamente
tradicional, na qual a mudança era vista com ruins olhos. Tanto apelidavam-na
de podridão!
Antes
de apartarmos de vez poesia e filosofia, compete contudo evocar dos sofistas,
homens que circulavam pela Grécia antiga, cuja produção mental era algo entre
poesia e filosofia. Desde sempre anómala, a sofística dizia o que se passava
com o homem e com seu mundo. De um lado, com uma independência semelhante à
poesia. Porém, de outro, com uma objetividade bastante costumeira, inerente do
pensar filosófico. Com efeito, os sofistas concebiam e negociavam dissertações
de eloquência poética, contudo ardilosamente políticos, que até o perpendicular
verbo platônico se inverter contra eles, eram confundidos com filosofia, mas
que após persistiram verberados.
Como
sabemos, o idealismo platônico nega a sensibilidade e o mundo dinâmico que ela
revela aos homens, pois tudo o que é sensível diz apenas daquilo que será
corrompido pelo devir. Expressar-se a partir do que se percebe sensivelmente,
para Platão, outra coisa não era que ler a sentença de morte dos objetos dessa
expressão. A realidade imediata, material, sensível, no entanto, era a
matéria-prima com a qual os poetas e os sofistas se aventuravam
discursivamente. Mas para Platão, o voo que alçavam não se aproximava do que
mais importava, das ideias das coisas a respeito das quais falavam.
Contudo,
a modernidade rompeu com muitos cristãos meditando sem que a crença ou a
locução de Deus os amedrontassem tanto. Muito pelo oposto. Provar a vida, a
beleza e a imensidade de Divindade de modo racional de certa forma foi o
rastilho do hodiernismo. O testemunho ontológico de Deus cartesiano é o símbolo
do matrimónio exemplar de Divo e o entendimento humano. Cogitar o infinito sem
o qual Deus não é passou a ser o repto filosófico por eminência. A poesia,
evidentemente, nada podia nessa apresa. Resistiu enquanto paliativo burguês.
Porém, tão-pouco a sabedoria se apresentou apta de facultar estimação da
imensidão.
O
anseio de alcançar a justeza, seja sobre o mundo, seja sobre si inerente,
transportou o homem a nutrir as lengalengas, isto é, definições incríveis
protagonizadas por seres que embrenham-se nas forças da natureza e os aspetos
repetidos da condição humana. Foi preciso milhares de anos para que a mitologia
cedesse seu assento de locus da existência e fosse irreversivelmente mudada
pela ciência que, com exacção desumana, dignava-se verbalizar o que e como as
realidades são. Agora, seria um absurdo indagar se a instrução, em vez de
realmente acertar a veracidade, não habitaria apenas criando as invenções mais
efectivas da crónica da humanidade?
Os
mitos labutavam com pessoas e condições próprios para, todavia, dizer do
ecuménico, ou seja, daquilo que sempre foi, é, e será. O mito de Prometeu, por
exemplo, contando a gesta da instrução furtada de Zeus para que os humanos
pudessem assistir distante do éden, conta, na realidade, de nós, seres humanos,
e da imprescindível erudição que a cada momento devemos defraudar para
coabitarmos na natureza. Sendo assim, somos todos nós os imperecíveis gatunos,
porém, ideados miticamente em Prometeu, pois só a certa extensão podemos
entrevir, sem sofrer, aquilo que continuamente somos.
Logo,
mítica ou cientificamente, estamos sentenciados a delinear em todas as nossas
teses grémios de realidade a serem conseguidos, contudo, a partir da grande
periferia das nossas oportunas hesitações. Porém, desse contorno não nos
tresmalhar. Prometeu nos dirá sempre que carecemos cardar a erudição de que
carecemos, pois ela não nos Incumbe.
Afiguremos
que a conexão do homem com a realidade tem a figura de um aro, a realidade
abrangendo o centro e o homem a periferia. O raio desse aro pode ser de
qualquer dimensão e, começando do centro, aludir para qualquer um dos infindos
sinais que armam a circunferência, mas será sempre uma extensão estabelecida a
arredar o homem da realidade central. Podemos nos avizinhar desse centro, mas
como o raio que nos aparta dele é uma recta, isto é, é instituído de
muitíssimos sinais, acercar ao centro real imporia que ultrapassássemos o
infindo. Empreitada inexequível para seres finitos como nós!
Podemos
perambular aristotélica ou histericamente ao longo da periferia interessante na
qual residimos, qual o anseio lacaniano em volta do seu exíguo corpo a que, se
atingido, é aniquilado. Cogitando em abeiramento em correspondência ao centro
no qual assenta a realidade, podemos inclusivamente compor uma progressão entre
as infindas circunferências que se constituem em conexão à realidade fulcral: o
mito um aro superior, a filosofia, um inferior, e a erudição, o inferior deles,
um tanto mais perto da realidade. Contudo, o homem é de uma natureza, que elege
raios inabaláveis entre as realidades, centraliza e a sua intenção de
conhecê-las. Se o homem alcançasse abdicar a circunferência de suas hesitações
e avassalar o centro da realidade, não mais a avistaria, mas somente ele
próprio, uma outra alegoria.
E
como o escritor Manoel conclui e muito bem A correspondência com os factos é
impraticável, não tem estado psíquico e intelectivo do sujeito cuja
exteriorização pode acontecer tanto no círculo pessoal quanto no colectivo,
causando com que esse sujeito adquira saber dos objetos extrínsecos a partir de
alusões próprias. Articulando desacompanhado.
Atrás
da confiança não há senão a fé. Na mudez total, os termos de antigamente
amedrontam de demência, como já foi referido ao longo deste texto.
Há
muito momentos sim…. Mas o tal instante é que jamais saberemos quando…..
Ana
Júlia Machado
#ÍMPETO
ALADO DO CAMINHO PARA O SER, SEM PALAVRAS DIVIDIDAS#
GRAÇA
FONTIS: PINTURA
Manoel
Ferreira Neto: AFORISMO
Caminhando
em silêncio, revolvo um sentimento que se me apresenta.
Encolho
os ombros, cerro os olhos, como um homem que aprendeu à custa de duras, duras
penas, a linguagem da renúncia, o estilo da refutação, da renúncia e refutação
à cor-agem de tecer as contingências com a linha da consciência. Toda a sorte
de idéias de liberdade, de devoção absoluta, de sacrifício, invade-me
deliciosamente – enquanto os olhos se esquecem, se perdem, enlevados na reliosa
solenidade deste princípio de noite de início de inverno.
Com
uma voz dolente, sob a frente fria deste início de junho, permaneço deserto e
desconsolado. O olhar alegre com que sou envolvido, resultado do amor pelo
inverno, sentindo no seu brilho ameno, no sorrir suave, quando está em mim. A
respiração leve, serena, comedida, creio eu, re-vela sentimentos e emoções que
completam, abrem leques para a felicidade, mãos entrelaçadas, utopias e
querências, o amor se faz continuamente.
A
bruma de prata flutuando, pela manhã, sobre os mangues inda sonolentos... É o
vestido da intimidade. A intimidade, nua, sente as sensações singulares -
interação do gozo e prazer. Sou a mesma abertura de silêncio... Brilha mais
puramente a brancura da claridade. Lá das profundezas da solidão, não devolvo
as coisas nem as mortifico. Um vento brando reflete no coração.
Anteontens
de idéias, ideais, sonhos, utopias performando os passos, ritmo e melodia de
viagem, quase dançando uma balada, deixar o tempo se suceder, o que houver-de
ser sê-lo-á, é seguir a estrada. Imagens, perspectivas. Hoje de pensamentos,
consciência de que tudo passa, tudo passa, é seguir as veredas e sendas.
Constelações atrás da lua.
Anúncio,
do que jamais foi, na pálida auréola do ar, das casas silenciosas, da copa das
árvores de perto, raiadas de pingos de chuva, aquando o silêncio é tão profundo
que me ouço ser, as ondas do mar espraiando-se.
Não
é absoluto preciso, nem mesmo imaginável e desejável, tomar partido de meus
interesses e achaques pernósticos: ao contrário, uma dose de curiosidade e
bestialidade, hostilidade e irreverência, insolência e hospitalidade, como
diante de um oponente frágil e taciturno, com uma resistência irônica de não
assinar ou endossar a nota promissória que me apresenta, juiz que insiste e
persiste em não conceder a liberdade de expressão no município, não aceita que
a liberdade de expressão é a expressão da liberdade, me pareceria um
comportamento e postura incomparavelmente mais sutil e inteligente em relação a
mim.
Anteontens
de existia a viagem desde sempre; anda em mim algo indescrítivel, "impeto
alado do caminho para o Ser". Encoimo a consciência perspicaz, por vezes a
empreender-se a favor do singular, e é a sensibilidade a colchetear os
pensamentos. Sou uma alegria, tristeza a caminhar na linha tênue da lembrança e
do esquecimento. Postergam-se as emanações contingentes do absurdo e
encontradas as ideias de sossego e silêncio - extravio as sensações da perda.
Degustáveis
os instantes, instantes-limites, Idéia, em princípio, simples, simplória,
gerando questionamentos, indagações, causando polêmica. A comunicação com as
coisas é impossível, não tem subjetividade, a comunicação com as pessoas é
impossível, tem subjetividade. Falando sozinho
Atrás
da esperança não há senão a esperança. No silêncio absoluto, as palavras de
outrora estremecem de insanidade.
Um
vento surge ininterrupto, procurando-se. Contudo, criando margens a
contradições de toda ordem, ambiguidade de toda natureza, sinto exigir de mim
um
comportamento, atitude.
Há
um instante em todo esse sentimento em que devem estar todas as coisas nascendo
– há um momento não sei quando.
(**RIO
DE JANEIRO**, 31 DE MAIO DE 2017)
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