#PEGAI NUM PINCEL E TINTAS COLORIDAS E REFAÇAI A VIDA NUM BELO PAINEL# - Graça Fontis: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Concentração
do lúcido infinito...
Alegria
calma, de devagar lentidão, humilde e, todavia, excessiva, invade-me como um
sangue às chamas ardentes de emoção, de sem-limites de sentimento, de sem-fronteiras
das utopias, eleva-me sobre mim, sobre a minha angústia, trans-fere-me a uma
evidência dominadora que eu respirasse como um ar de altura, frio ads-tringente
à soleira de montanha longínqua. Alucina-me o absurdo como um labirinto: como
ser eu nos outros? Ser irredutível e múltiplo? Só assim a solidão deixaria de
ec-sistir. Por que o amor aparece como a verdade, e como ela se gasta, se
destrói? Será o amor um limite, será a verdade um limite, apenas a procura de
um repouso que não há? O que é o Belo? - pergunto-me agora, neste
instante-limite em que expilo a fumaça do cigarro, respiração comedida,
cont-emplando o céu plúmbeo nesta manhã de inverno, faz muito frio. Belo é o
que se não sabe, o que se não conquistou, o que se não conheceu, o que se não
vislumbrou, o que se não con-templou, o que se não verbalizou. Abrir o corpo e
a mim que moro nele. E que só nele moro enquanto o procuro, desejo sabê-lo.
Nada há de conhecido, de sabido, tudo fulgura em re-velação, tudo esplende em
a-nunciação, tudo re-presenta em fulguração. O meu sentir re-flui da presença
do corpo para a evidência que o ilumina.
Cantos
idílicos ou nostálgicos, risos e flores brancas ou lilases, vermelhas ou rosas,
iluminem o mortal destino, a eterna sina, o desejado ser livre, para o ermo
envelar fundo, na essência e ser dele, noturno do pensamento, curvado já em
vida sob a idéia dos clímaces alucinados, cônscio da lívida esperança do caos
redivivo, eis o que me perpassa a vida em todas as suas dimensões sensíveis,
racionais e intelectuais, a carne e os ossos, até mesmo as entranhas das
vísceras.
Ser
livre é con-templar a natureza e perceber com percuciência e perspicácia que o
ser humano é a criatura mais importante do uni-verso e que faz parte intrínseca
da vida e sem ele jamais haverá felicidade, em verdade o mundo, a terra, a
ec-sistência, sentimentos e emoções que abram as portas para receber outras
luzes a encaminharem os passos em direção ao infinito do amor e da amizade.
Desamarrai
a nota dos espectros que massacram o espírito!
Bradai
um sofrimento violento que se crava na alma
Espectado
pelo inerente pulso das vossas garras!
Sois
quem despedaças a alma sumida
Sereis
inapto de bem-querer … ou somente por egoísmo?
Como
facultas um padecimento tão bárbaro
Lacrimejas
o físico flagelado pela nostalgia
Fluindo
das suas artérias a seiva que idolatrou!
Sois a
obscuridade de um sujeito dantes apaixonado
Um ser
denso a quem a chama se deliu
Habitas
sensações golpeadas, andrajoso pela idade
Cujos
pedaços dos mélicos instantes não arriscar agregar! Refugia-se no silêncio e no
cigarro. Ó, homem de letras, que estás a fazer da tua existência…. Sabes
colorir a vida quando pretendes… Quando algo se aparenta nebuloso,
enclausuras-te no mutismo…. A vida é feita de peças suaves com fragrância e
muitos acúleos… também o sabes… não renuncies à vida e se ela não está
colorida, és um artista… pega num pincel e tintas coloridas e refaz a vida num
belo painel. Remiras agora do meio deste amanhecer, serena e cã, cercada do que
não possuí balizas. Institui-se na cordilheira, medita para a extensão, onde te
avistas num sorvedouro similarmente, traje de alvo a aglomeração dos evos como
de uma claridade da lua que te lembra a extinção. A extensão exauri-te até o
patamar da reminiscência, o limiar do que te sobrepuja, onde derrama o teu
quebranto, o carinho cálido de um pranto, o meneio de indícios que se equivalem
como repercussões de um dédalo.
Sai
desse quarto poeta, que enclausuraste e te fez cair no abismo….
Devo
olhar de néscios olhos para a beleza, para o que ecs-tasia o íntimo e o mais
profundo, para a volúpia da carne fresca e ávida de prazeres insolentes.
O que
levo dessa vida efêmera tanto vale se é a glória, fama, amor, ciência e vida,
como se fosse apenas a memória de um tripúdio bem planejado e projetado, o xis
da ec-sistência, por ser eternamente definitiva incógnita, dispensa minha
ciência, dispensa a religião que não cultuo, debocha da máxima latina “cogito
ergo sum”, aos olhos da sensibilidade e do espírito verdadeiro despautério. O
mistério sinistro ou fascinante da morte, por ser assaz metafísico, dispensa o
prosaísmo a que estou mais que familiarizado, e sou capaz de elevar-me além do
Olimpo, onde os verbos traduzem a conjugação sublime de sua raiz ligada ao
sufixo, as palavras verbalizam o eterno de ser sensível. Resolvo, para os
devidos fins e conformes, dar o cabo de mim, varrer-me pros confins, muito além
do jardim...
(**RIO
DE JANEIRO**, 04 DE JUNHO DE 2017)
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