**ENTRE A CRUZ E A ESPADA** - PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto


E Graça Fontis nessa manhã de domingo, logo ao amanhecer disse: "Escreva entre a cruz e a espada...!"


Entre a cruz e a espada, os dogmas da concupiscência servindo com excelência e primor às vicissitudes dos ócios, "em-buxando" as entranhas das falcatruas e tramóias, oportunidade sine qua non e supimpa para as glórias das fugas, defesas, corridas ainda maiores que as do capeta de Deus, mas também chance de atingir, alcançar o último inferno.


Entre a cruz e a espada, os preceitos das vicissitudes, perfeitamente luva e dedos, com sarcasmos e ironias elencando as vantagens de re-versar as dem-oníasis da alma, sentindo o sabor, paladar fino das sensações do espírito sobre as chamas incandescentes, e para os russos, para quem o inferno é gelado, saber o que isto o gelo esquentar as maledicências, oportunidade única e inestimável de um mergulhar no ninho das serpentes.


Entre a cruz e a espada, os princípios das luxúrias, divinos mandamentos, para enriquecer os apetites da libertinagem, aliás o reduto amado e querido da humanidade nos seus instantes de vivência séria e sincera de sua verdadeira condição no mundo e na terra, visão apocalíptica re-versa e in-versa, todas as sincronias e sintonias do cinismo pleno com os juízos do bem e do mal.


Entre a cruz e a espada, as pedras de toque das vaidades de P.P. Brasil, conforme o contista Paulo Ursine Krettli apresentou-lhe ao mundo, memória póstuma da crítica deslavada da Glória, aliás, dizendo o ursiniano sátiro haver gotículas de satirismo na glória de P. P. Brasil, entrelaçadas com os orgulhos satíricos de Brás Cubas da morte gloriosa, inscrevendo nas estrelas cadentes distantes a alma dos devaneios e desvarios, quê esplendor de momento e instante para os epitáfios das con-tingências e facticidades, também de ultrapassar as fronteiras do último inferno.


Entre a cruz e a espada, as pedras angulares das simulações e dissimulações da consciência e da sabedoria em nome das capciosidades dos jogos da mente e pitis do coração embevecido de paixões, re-velação sem precedentes na quotidianidade dos tempos e eras das religiões nos limites da simples razão, e as cinzas de Kant remexendo-se na terra, à busca de uma fresta por onde entrar os ventos do norte e miríade numinosa de raio único de sol.


Entre a cruz e a espada, os húmus do adultério que abrem todas as persianas e venezianas do amor sem fronteiras, o prazer incondicional conubiado com os volos da boêmia dos sentimentos efêmeros, ménage-à-trois da ausência de moral e ética com aquela mesmidade de "o que Deus uniu o homem não pode separar", não separa, compartilha as diferenças de posições, condutas e posturas - eis o que o sonho e a esperança do apocalipse das relações conjugais trazem em seu bojo.


Entre a cruz e a espada, as sementes dos embustes das ideias e projetos de o terceiro lado da moeda de mil réis ser o demoníaco dos interesses escusos e ideologias imbecilóides, e os embusteiros sentindo aquela comichão de discursar, confessar suas mazelas em praça pública, e o clero no meio da multidão, tocando a matraca e rezando o Credo com a presença das dimensões divinas encarnadas nos ossos sanctificados, nos domus das igrejas os sinos tocam efusivos, exemplos egrégios das virtudes fáceis e sensaboronas.


Entre a cruz e a espada, os olhos e a língua comendo, triturando com esmero e acuidade, os restos, vestígios, retalhos, côdeas, resquícios da des-honra, in-dignidade, des-honestinidade, aquele ex-tase de não apenas saciar a fome que está fazendo hora extra no mundo, mas preencher todos os vazios da má-fé, falhas do caráter, personalidade, faltas de senso, instintivando os ideais do im-perfecto perfecto, da perfecção im-perfecta, des-enfectando os odores de enchofre que flanam, pairam nos campos, enquanto os pastores con-duzem as ovelhas, de cabeça baixa, passos comedidos, pensando na "morte da bezerra" que era a sua paixão sem limites, "benzerra" que o deixou constrangido e diá-bólico com o alvorecer das trevas.


Entre a cruz e a espada, o barro das estradas de trevas e sombras plácidas com a lama dos "bayous" nas florestas vietnamitas, na Floresta Negra alemã, princípio supimpa para um passeio no crepúsculo, pique-nique no anoitecer, tomando o néctar dos deuses, embevecido de sáficas alegrias e contentamentos...


(*RIO DE JANEIRO**, 09 DE MARÇO DE 2017)


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