Maria Isabel Cunha ESCRITORA E POETISA PORTUGUESA COMENTA O AFORISMO /**SOBRE IN-AUDITOS DA SABEDORIA**/

   
                                                     
A vida por viver desfolha-se tal qual flor envelhecendo. É necessário viver a vida na sua plenitude para que ela transborde pelos rostos e se eleve em todas as manifestações do Ser. O ritmo do tempo é indiferente para quem não luta por esta exuberância de degustar a vida em toda a sua exuberância. Concordo, escritor, mas há muitas pessoas que estão condicionadas por muitos fatores pessoais, familiares e sociais que as não deixam brilhar e ostentar toda a beleza que possuem. Excelente. Adorei a pintura, perfeitamente de acordo com o texto, bela e exuberante. Parabéns ao casal: Manoel Ferreira Neto e Graça Fontis. Beijinhos.


Maria Isabel Cunha


#*SOBRE IN-AUDITOS DA SABEDORIA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


No ar des-anuviado, a foice da lua, entre rubores purpúreos, verde se insinua e invejosa ceifa pendentes redes, de rosas brancas e vermelhas, até caírem pálidas, de sementes viçosas e brotos vívidos, até des-abrocharem-se, até des-petalarem-se, até abrirem-se.
De que modo se distingue qualquer decadência? Por meio daquilo em que a vida já não reside em sua totalidade. A cada rosto-sombra de segredos que se re-velam no ríctus e nas linhas da face sofrida, a palavra se torna soberana e irrompe para fora da ausência in-audita, in-audível, da falta desconhecida, a ausência ultrapassa e obscurece o verbo do ser, a falta trans-cende e ensimesma á-gonias e nonadas de profecias da vibração e exuberância da vida comprimida em suas mais ínfimas ramificações, todo o resto desprovido de vida, todo o resto destituído de cor-agem, todo o resto destituído de vaidade e orgulho.
Noites quentes feitas de sonho desfeito, tristeza que rasga, aos poucos, as almas das gentes. Enquanto fogos iluminarão a abóboda azul, viventes beberão a taça que se erguerá para o brinde do espaço conquistado por mistério do in-finito, por enigma do mortal e perecível, por segredo do efêmero e eterno, por mística da luz e treva.
O ritmo do tempo é insignificante para as vidas que se consomem em pregações sobre os enigmas do equilíbrio, sobre in-auditos da sabedoria.


(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE ABRIL DE 2017)


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