#FRIOS ESPÍRITOS DE GELO NO LIMIAR DA APARIÇÃO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Frios espíritos de gelo. A voz intros-pecta, circuns-pecta do tempo na mente, do ser no limiar do in-audito in-terdito. É difícil viver com os homens, porque é difícil calar-se. Lágrimas perdidas na chuva. Eco de um ponto no tempo, sombras(a mais leve e mais enigmática de todas as coisas) de outro dia. Há uma sombra sobre o mármore de meu sepulcro, ninguém se lhe vê. Imagens surgindo e esvaindo-se. Nadas nadificados, vazios esvaziados, vácuos evacuados. Nalgum lugar longínquo, nada sei deste lugar onde me encontro - uma gruta? uma caverna? um sótão? um subterrâneo? -, sentimentos me não são íntimos, me não são subjetivos, me não são metafísicos, me não são abstratos, me não são. A alma eleva-se à sua eminência. Por que não tenho o direito de respingar nos degraus de escada das varandas? Flocos de neve.
Fora, a noite resplandece límpida, ponteada de estrelas que velam o ossuário da terra, des-vela o crepúsculo medieval de sombras no velório milenar de luzes, como de flores de ramo não invisível de todo, mas a visão quase pouca lá não chega inteira, lá não se realiza por completo. A cidade imobiliza-se desde toda a eternidade, imensidão do mundo, imensidão da terra, imensidão do espaço sideral, horizonte celeste, o ar é leve e suave, gélido - um êxtase.
As noites na cidade não são quentes, tão quentes que só mesmo com esforço é-se possível conciliar o sono. E se, mesmo com esforço e determinação, luta e persistência, não se é possível conciliar o sono, o melhor é sair de casa, andar a esmo pelas alamedas, becos, e, retornando, tomar banho, e tentar conciliar o sono, colhendo as lágrimas nas mãos feitas concha, lançando-as ao ar qual confetes. Com **faits** de lágrimas na escuridão numinando o espaço.o sono vai-se esgarçando na passagem das horas.
Ainda é inverno. Inverno de presenças pres-ent-ificando-se. Inverno de ausências ausentando-se. Inverno de ecos de silêncios ecoando-se, ouvem-se-lhes fora do mundo, lá onde as paisagens não são imagens, mas efígies destituídas de face e rosto.


(**RIO DE JANEIRO**, 20 DE ABRIL DE 2017)👁️


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