#EVIDÊNCIAS ESQUECEM A TRANSPARÊNCIA# - Graça Fontis: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: CRÔNICA


O sinal da velhice, do envelhecimento ainda que postergado, deixado à mercê do futuro, e do que ele pode, do que con-sente, talvez seja extraordinária vocação para as reflexões fáceis, inflexões simples, que tripudiam com o medo do desconhecido, insegurança da vida após a morte, dúvida da redenção dos pecados veniais e capitais, des-confiança do perdão e ressurreição, frustração por o fim não mais despertar outros horizontes além do infinito, uni-versos outros aquém dos espaços vazios de nada e do obtuso, na terra ficar a vida em toda a sua cotidianidade, às vezes em completo esquecida, apenas algumas flores na sepultura por princípios religiosos e cristãos, e nada mais, a vela apagada afixada na lápide, bouquet de flores artificiais empoeiradas. Também por ser sereno, não é mister mais lutar pela sobrevivência, não ter de passar por tantas dificuldades, o que estava escrito escrito estará por sempre, cumpre re-fletir e visualizar até em terceira dimensão os grandes amores, enormes paixões, e eles serão a semente de outros tempos e outros sentimentos de vida e eternidade. Jamais a minha tumba permanecerá sem flores, não que alguém de minha família cont-ingente de sonhos espirituais do verbo coloque-lhes lá para despertar o sonho de sentimentos, palavras, sentidos, a luz que tudo isso incide no uni-verso do horizonte, sim porque as estrelas sempre velarão os meus ossos, iluminarão a imagem da carne que foi decomposta, as cinzas que são a verdade bíblica. No centro de uma esmagadora profusão de flores e pássaros de mármore, este voto temerário.
Ou a transparência esquece as evidências? Ou as evidências esquecem a trans-parência? Evidentes trans-parências. Trans-parentes evidências
Sim, no silêncio da tranqüilidade ou na calmaria da re-flexão de me encontrar comigo mesmo, isto de olhar no espelho é ridículo, olha-se a imagem, aderência de sentimentos transcendentes e emoções à luz e mercê de outras perspectivas e ângulos do sem-fim nas linhas inolvidáveis e inesquecíveis do gozo e da magia, entabular bate-papo erudito de linguagem e estilo, de poiésis e temáticas do trans-cendente, sobre evidências esquecerem a transparência, esta negligenciar o esquecimento, contudo o que isso traz de benesses e benefícios na confecção do conhecimento dos mistérios do ser e da alma, sendo o “eu” o re-verso, o outro de mim com quem dia-logo o in-verso, com quem entabulo o trans-verso ou simplesmente o re-verso do avesso, con-templar a imagem re-fletida no espelho do tempo, sobre as “pers” das pectivas que id-ent-ificam quem fui nas situações e circunstâncias de outrora, de tempos que não voltam mais, quem deixei de ser, embora oportunidades de ser outro não me faltaram, quem poderia ter sido, quais alegrias e tristezas estaria gozando nesse instante, as escolhas feitas, as estradas de poeiras metafísicas que trilhei, o que fiz com as suas explicações do que não pode ser entendido e compreendido à luz da razão e mesmo da sensibilidade, justificativas do que não pode ser in-terpretado e analisado sob o uni-verso do intelecto, sim sentido profundo, intuído, percebido, sem palavras, in-vestigadas as dores e sofrimentos, os sentimentos que transformaram a consciência-{de}-mundo, visão-[das]-coisas do homem, relações e solipsismos, emoções que se intensificaram, passaram a viver de volúpias à busca dos verdadeiros êxtases, pectivas da “res”, que a-nunciam outros sonhos e utopias à luz do novo tempo, auroras nascidas espontaneamente, re-nascidas na imaginação, re-velando outras inspirações grávidas de verdades que possam modificar os interstícios da alma, as superficialidades dos gestos e atitudes, no crepúsculo olhares brilhantes de felicidades, no íntimo a alegria de o amanhã prosseguir a re-fazenda e construção do novo e do belo, sob o brilho infinito da estesia por vir, alguém poderia também dizer, afirmar e gritar: “Uma forma de negar a humanidade do homem é afirmá-la de forma orgulhosa e onipotente!” Sim, orgulho e onipotência envelam os movimentos da sensibilidade, da trans-cendência que habitam as profundezas da alma, poder de elevar sentimentos, idéias e pensamentos aos chapadões íngremes do silêncio e solidão, sementes de encontros e felicidades do amor, carinho e ternura, princípios do espírito, da Vida feita Paz, da Paz feita Vida, da espiritualidade que eleva o ec-sistir aos auspícios do eterno bem, imortal divinidade, alfim as raízes dos desejos de busca, vontades da Vida mesma na sua essência, são enterradas para que a árvore cresça e apareça.


Pers da pectiva
Re-nascidas nos interstícios
Da alma,
A-nunc-iando outros sonhos e utopias,
Volúpias em busca
De verdadeiros êxtases;
No crepúsculo
Da pectiva da pers,
A alegria de o amanhã prosseguir
A re-fazenda,
Construção do novo e do belo,
Sob o brilho infinito do silêncio,
Solidão,
Princípios do espírito
A elevarem o ec-sistir
Aos auspícios do eterno bem,
Vontades da Vida mesma
Na sua essência.


Algo se quebra. A aventura terminou, o tempo retoma sua languidez cotidiana. Viro-me; atrás de mim, aquela forma melódica mergulha inteira no passado. Diminui-se, contrai-se ao declinar, o fim confunde-se com o começo. Acompanhando com o olhar este ponto dourado, penso que aceitaria reviver tudo, nas mesmas circunstâncias, de cabo a rabo. Não se re-começa, nem se prolonga, uma aventura.
Debruço-me sobre cada momento, cada átimo de segundo, tento esgotá-lo; nada se passa que não capte, que não fixe para sempre em mim, nada, nem os ruídos da rua, nem a claridade titubeante do amanhecer; e, no entanto, o minuto se esgota e não o retenho, gosto que passe.


O sol desaparece
Por trás das nuvens
Na própria linha do horizonte.
No céu de ópera, imensos rastilhos vermelhos,
Trapos negros, arquiteturas frágeis,
Que parecem feitas de arame e de plumas,
Dispõem-se num vasto ordenamento vermelho,
Verde e negro
- cobrindo todo o céu, e evoluindo
Nas iluminações mais variáveis,
Segundo uma coreografia das mais majestosaas


Re-encontro os rostos
Em torno de mim,
Os olhares que me fitaram
Brilhantes ou apagados
Com os cheios e vazios
Da verdade,
Do desejo
Do pleno,
Da plen-itude
Cósmica
Deslumbrante;
Os sorrisos que vislumbrei,
Con-templei nítidos
De questionamentos
Sobre as buscas dos verbos
Do ser que almejavam encontrar,
Tornarem-lhes reais
No quotidiano das re-fazendas,
Das faz-endas do tempo e instantes
Do ponteiro do relógio
Que pontua
Sobre as vontades de conquistas
E real-izações.


A vida, aos sons de imagens dispersas e sinuosas, mostra sua fragilidade, sua in-vestida em deixar não só recordações, mas também o orgulho de sua verdade.
Só depois de minha morte, do esquecimento de que algum dia habitei o mundo, sofri, desejei, tive querências do bem e da verdade, morri, é que estas idéias e estesias da pó-ematica do ser e das palavras serão pensadas, analisadas, inter-pretadas à luz da VIDA E DA VERDADE, das coisas que hão-de ser.
Por que pensar assim? Depois de minha morte, a sepultura dentre tantas outras; nada mais interessa a quem quer seja. Creio que após alguns anos até eu próprio me esquecerei de que estive no mundo, das pessoas com quem convivi e ombreei nas suas.


Auroras nascidas
Espontaneamente,
Con-templo a imagem
Re-fletida no espelho do tempo,
Nas pectivas de olhares brilhantes
Ao silêncio da tranqüilidade
Ou
Calmaria da re-flexão,
Às sementes de encontro
E felicidades do amor...
Evidências esquecem
A transparência.


Pers da “res”
Na pectiva
De poiésis e temáticas
Do trans-cendente
Em busca de verdadeiros
Êxtases
Do sentido e mistérios
Da vigorosa vitalidade
Interior,
Compreendendo o poder
Que harmoniza todas as coisas,
Encontrando a iluminação.


Fala-se muito da passagem do tempo, do envelhecimento, mas não a vemos. Por alguns momentos parece que a vemos envelhecer e que nos sentimos envelhecer com ela: é o sentimento de aventura.


(**RIO DE JANEIRO**, 12 DE ABRIL DE 2017)


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