**MANSIDÃO DOS AFETOS** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto


Sou primitivo oceano
onde deságuam emoções, sentimentos,
sensações, intuições, percepções,
E submergem instintos de perpetuidade,
Perenidade, postumidade.



Sou primevo rio
onde deságuam destinos,
re-cursando travessias,



Emergindo dos aquáticos labirintos
Sou algo in-forme
Dividido em meus ideais,
Numa dança de gestos,
Como num ritual grego,
Com a mansidão dos afetos
Unto meu corpo em óleos marinhos
Nácar dos meus sonhos e desejos,
Re-torno com uma nova face,
O amante ardente e apaziguado
Fluindo e re-fluindo
De outros corpos,
Como se re-torna de um mergulho.
Em águas correntes, cristalinas,
Emergindo de outras terras,
De outros vales,
De outras colinas,
Para tornar-me em fonte,
Em algo luz totalmente à mostra,
Totalmente visível,
A luzir na carne
Visível e tangível aos homens,
talvez exilados em suas próprias veias.
E ser a voz melodiosa destas coisas,
Trazendo à superfície
O som oculto
Aos que pouco ouvem,
Aos que pouco escutam,
Aos que pouco auscultam,
Não há gaiolas que possam
Aprisionar-me a voz.



(**RIO DE JANEIRO**, 14 DE MARÇO DE 2017)


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