**CENTELHAS DE SILÊNCIO** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto


Não é apenas
silêncio do desejo,
desejo do silêncio,
Nem tampouco narcisismo,
Egocentrismo, solipsismo.
Construção de muros não é.


Algo solicita intimidade.
Não é simplesmente
Sede de metáforas
Que o sol fecunda
com a centelha da vida futura.


A mão,
acostumada à aridez desta superfície,
abandona a lógica, os colilóquios,
in-submissa, apalpa a sombra
modelando um corpo de estridente contorno.


O trans-cendente
em demasia longo
paira por vezes
Rio subterrâneo, o que tu és
a distanciar-se de mim
para um mar que, quiçá,
jamais alcance?
O que re-torna como res-posta
É minha própria voz
Encarcerada no eco da gruta
Este eco ressoa em minha mente
com timbre laminado,
Apenas lembrança.


Longe é a voz,
O alaúde soa numa terra
de alados habitantes,
Faces estioladas misturam-se
às estruturais formas
do tempo
perpassando a soleira dos limites.


Algo solicita intimidade
Lugar onde o tempo
Não pesa mais que o tempo
Sobre o tempo do vazio.
A correnteza é tão veloz
E o corpo tão frágil
Que se vai ficando à margem
Da segunda margem, da terceira margem,
Tal barco sem cais,
Tal silêncio-resposta
Tal verdade sentida.


Entendo a linguagem dos sonhos...


(**RIO DE JANEIRO**, 14 DE MARÇO DE 2017)


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