**VOCÊ PRECISA AMAR ALGUÉM** - PINTURA: Graça Fontis/PROSA: Manoel Ferreira Neto


No alvorecer, antes de abrir as venezianas, deixando a luz numinosa penetrar, sentir a sublimidade do sublime, você precisa amar alguém, entregar-se plenamente aos raios dos sentimentos, emoções, novos ideais, novas utopias, novos desejos e vontades, novos êxtases...
Sentado no banquinho da pracinha, ouvindo músicas, presenciando a fonte luminosa, perdido nas lembranças, re-cordações, saudades, você precisa amar alguém, sentir-lhe profundo em seu ser, sentir-lhe orvalhando sua alma com esperanças e sonhos.
Nas andanças pelas ruas e avenidas, resolvendo suas coisas, encontrando furtivamente com conhecidos e amigos, você precisa amar alguém, ter-lhe ao seu lado, de mãos dadas, mostrando-lhe algumas belezas, um vaso de orquidea branca suspenso na sacada de uma casa, a grama verde e viçosa do canteiro na pracinha.
No barzinho, rodeado de amigos, rindo, feliz, ouvindo músicas, jogando conversa fora, você precisa amar alguém, sonhar a intimidade de toques, ternuras, carinhos, entre ofegâncias e risinhos suaves e gostosos, sentir a plen-itude e etern-itude do verbo "felicidade".
Na solidão da noite, luz da sala de visita apagada, vela acesa no castiçal, silêncio, você mergulhado nas memórias que dentro traz em si, memórias de instantes prazerosos, angustiantes, tristes, felizes, você precisa amar alguém, sentir o verbo intransitivo "amar" percorrer-lhe o mais recôndito de sua alma, neblinando seus desejos e ideais do ser, neviscando suas esperanças e delírios da verdade de outros horizontes e universos, confins e arribas, garoando suas fantasias e ilusões de sorrelfas do tempo que alça vôo nas asas dos sonhos da águia-do-eterno.
Na frente do espelho, perscrutando sua imagem refletida, as imagens que cintilam nas pupilas, a-nunciações dos interstícios de sua alma, você precisa amar alguém, encostar seu rosto com toda delicadeza no rosto de seu amor, con-templar a imagem do "nós" re-versada de poesias da alegria e felicidade, in-versada de prazer do encontro, do verso-uno.
Nos momentos eternos-efêmeros, instantes efêmeros-eternos da vida, sempre pro-jetando ao além os volos de seus verbos de ideais, você precisa amar alguém, sentir nos abismos da alma o ser amado seguindo-lhe, trilhando os uni-versos e horizontes com você, incentivando-lhe a criar, inventar, artificiar outros sentimentos e emoções que trans-elevam as con-ting-ências, concebendo trans-cendências ao longo do espaço sem distância, sem long-itudes.
Na sua vida, nas suas vivências, você sempre precisa amar alguém, ser este amor, verbalizar e sentir o espírito da entrega, da doação.


(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE MARÇO DE 2017)


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