**JAMAIS RE-VESTIDO DE OUTRAS MIRÍADES** - PINTURA: Graça Fontis/PROSA: Manoel Ferreira Neto


Escrever de trás para frente, memórias e lembranças emolduradas no álbum das ipseidades ao rio de águas cristalinas do nada, utopias do jamais re-vestido de outras miríades do vir-a-ser, mesmo às re-versas do absoluto nada que se refestela na sesta do jantar ao sereno da noite, deitado no chão, escarapachado, ouvindo a música na vitrola portátil ao seu lado, fora a chuvinha caindo, de trás para referente elencando os sonhos, a perderem de vista, à moda mineira, de bago em bago o pinto enche o papo, escrevendo nos pergaminhos da memória as neblinas do pretérito, intros-pectivo, circuns-pecto, cabeça baixa, capote branco, atravessando ruas, alamedas, avenidas, becos, terrenos baldios, neves do presente, de bengala, capote cinza, chapéu branco, seguindo a calçada, cabeça erguida, só pers-crutando nas ad-jacências o que acontece, passeio no entardecer, o sol se escondendo atrás do in-finito, de frente para trás escrever nonadas, escrever a brincadeira das letras com a língua que a movimenta em todas as direções, eivada de inocência e ingenuidade, os sons sarapalhados de emoções e sentimentos, aqueles desejos e volos mais desejos e mais silenciosos no peito, ritmos de dores e sofrimentos, musicalidade de esperanças e sonhos, melodias de idéias e pensamentos, palavras no riste da língua ao léu, ao pers das pectivas tão suaves e sublimes, segredos e mistérios na alma do espírito que pervaga de manque-êtres as mauvaises-foi da con-tingência, e busca, busca, quer, tem vontade do alvorecer às retinas da travessia do nada ao in-finito a resplender de desertos e oásis em desertos de oásis os espectros sublimes do silvestre da floresta de sendas e veredas por todos os sítios in-visíveis e visíveis, de curvinhas em curvetas, vice-versa, entre as árvores frondosas, aquela naturezazinha singular e particular, o sol perpassando as frinchas de galhas e folhas, iluminando os caminhos, espetáculo sui generis de beleza, misticismo, miticismo, envolvidos de lendas, escrever a frente para trás, metáforas e linguísticas recém-concebidas à luz do conúbio pleno de gozos e climaces entre a inspiração e a alma latente de mauvaises-foi e quotidiano da existência, nadi-versificadas de séries inimagináveis de sonhos, a verdade das buscas e dos questionamentos, escrever o trás para frente, nada dizer, nada expressar, nada silenciar, segue livre a águia-do-eterno, de trás para frente verbalizar as iríasis do in-finito e as éresis do nada, in-versar de re-versos as luzes do pleno que esplende seus raios à distância, iluminação, ad-versar de in-versos e re-versos as origens e genesis, perscrutar à luz de velas os recônditos da alma no seu sono de contingências, náuseas, sonhos de molduras de ipseidades das angústias e o ex-tase do sublime, de forclusions das lembranças e a cáritas "memoriallium" - o que está escrito - do verbo do vir-a-ser, há-de ser, escrever para frente o trás do efêmero, escrever para trás a frente as volúpias, os inauditos do in-finitivo da perfeição - ou do desejo da "perfeição"? - que gerundia éritos e érisis, participia iríasis e pectivas da pers solitária e reflexiva à lareira dos ideais, que regencia as sin-estesias e metáforas, escrever trás-frente para ali, para acolá, para os confins e arribas da poiética do espaço de tornar as experiências e vivências sabedoria do oásis do deserto intros-pectivo e circuns-pectivo no peito do viajante do eterno, nas itudes do nada, à busca da colina que de origem precede o nascer do sol, escrever frente-trás para algures, alhures às sombras do crepúsculo e do entardecer, escrever o nada infinito da frente, o vazio in-fin-itivo de trás, pergaminhar as nonadas e travessias de trás, instante de verso-uno, união da eter-itude e etern-itude, as paisagens de arribas e confins se a-nunciando e revelando plenas de mistérios orvalhados do vir-a-ser da etern-idade, tudo isto tão simples, tão circuns de pectivas...


(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE MARÇO DE 2017)


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