**SUPERLATIVOS INTERDICTOS DA LÍNGUA** - PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto


Caríssimos Senhores e Senhoras,


O superlativo das coisas deixa muito a desejar, há sempre o "issimo" no final do termo, que posso elucubrar tranquilo e serenamente significar o mais alto nível, o máximo, diga o que disserem os críticos sobre não respeitar a Língua, a sua atualidade, por que teria de fazê-lo, é com a minha língua que me comunico, frescurites de gramáticos não me dizem respeito, refiro-me a "supra-sumo", conforme a nova ortografia como é que se escreve, seria "suprassumo". Para mim, é supra-sumo, assim entendo e compreendo, assim sinto como isto de ser o grande, o que supera o outro num piscar de olhos em tudo, é ridículo.
Vós, quem estais nesta entrega de medalha de honra ao mérito, sendo eu quem a recebe pelo ensino da Língua Portuguesa, com a língua bem afiada, para poder criar a própria, do jeito que me convier. Já pensastes vós se eu quem criou um estilo de escrever as coisas diferentemente, usando ortografias já ultrapassadas há muito, se não conhecesse a Língua Oficial, se na prática con-sinto em falar como manda o figurino, fala perfeita: "Faz muito tempo que a forma "interdicto" caiu do galho, mas a uso eu por questões de musicalidade, ritmo e melodia da pronúncia", para tudo o que escrevesse, tivesse de abrir um parênteses para explicar a antiga e a nova ortografia, que coisa mais ridícula. Ensino a Língua como está estabelecida, falo-a, pois que tenho diante dos princípios tradicionalistas de "segurar a peteca", fazer jus ao titulo de professor de Língua, mas na escrita faço o que quero e quero o que faço com as palavras, por que teria de ser solícito com a gramática neste instante que é só meu, pedir desculpas ao crítico que porventura fizer qualquer menção a respeito?
Aí que entra o superlativo com que iniciei de ler o meu discurso por receber a medalha de Honra ao Mérito pelo meu ensino da Língua Portuguesa, o que responderia, começando com o superlativo transcendendo todos os limites: "Intelectualoidíssimo senhor, o que teria eu a contestar sobre o que caiu em desuso, o hífen, todos vós estão cobertos de razão, mas a gramática condenaria a divisão das sílabas erroneamente, mas como dissera amigo de minhas relações mui pessoais que as divisões que faço podem mudar os caminhos da Teoria da Literatura, passam a ser categorias e não divisões ortográficas oficiais, que devem ser ensinadas a rigor. Nada tenho a vos explicitar, explicar com o meu comportamento herege diante da Bíblia Gramatical. Pergunto-vos, não sem pejo, não sem escrúpulo, não sem senso, não sem-vergonha, acreditais piamente nos mandamentos que ela profere, então vós estais esquecido de que a Língua é criação, aos artistas da palavra fica a liberdade de escreverem como bem lhes convier. Vós não me ledes nem que o camelo passe no buraco de agulha de costura, mas há quem o faça e se deleita com o que está atrás dos neologismos e das transgressões. Agora mesmo que vos chamo de "Intelectualoidíssimo", o superlativo no seu nível máximo. Lembrando a todos vós aqui presentes nesta entrega da medalha que "intelectualóide" é a síntese de "intelectual" e "imbecilóide", sendo que, então, essa síntese que re-vela o nível de intelectualidade a pessoa pratica, a imbeciloidia do intelecto, só asnadas e asnices com aparência de sabedoria máxima". O nível vos faz jus: o re-presentante máximo da intelectualoidia, pois que a Lingua requer criatividade, e a gramática com as suas frescurites ceifa a sensibilidade das pessoas em criar a sua própria língua, sabendo a oficial, obviamente." Em princípio, sem o saber do sentido deste neologismo quem o ouvisse, restar-lhe-ia apenas explodir de tanto orgulho com palavra tão pomposa, não percebendo a ironia atrás do neologismo. O leitor que é perspicaz, sensível, dá uma risada logo à leitura do termo, está ridicularizando, satirizando posturas e condutas, cai na gargalha, enquanto o outro está bem inchado de tanto orgulho. Não é o caso de contar outro superlativo bem interessante diante dos fatos. Trata-se ele de "ignaríssimo", ignaro é ignorante, analfabeto, que alguém chamou o policial quando sofreu uma blitz, no instante de explicar o que fazia naquele local àquela hora da madrugada, o policial se sentiu envaidecido com o tratamento, e por isso mostrou-lhe por onde devia passar, indo embora. Fico aqui a imaginar qual fora a reação do policial, quando contasse aos colegas o acontecido, sabendo aí o significado do termo.
Digo aos meus estimados alunos que não escrevam suas cartinhas para a namorada com todas as regras e normas gramaticais, vão ser julgados prepotentes, digo-lhes que devem criar o próprio modo de se expressarem, dizerem a si mesmos, assim é que se conquista o outro, com a criatividade da linguagem, mas o outro lado da moeda também existe, pode-se enfiar alguém no abismo mais fundo que a imaginação é capaz de conceber que ele não percebe os ácidos críticos.
Senhores, agradeço-vos de coração tal manifestação de carinho, amizade, reconhecimento do corpo dicente e docente deste estabelecimento, dizendo-vos que me vou pela estrada de língua aprendendo a viver de quem sou.


Aérton Gonçalves Lacerda.


(**RIO DE JANEIRO**, 30 DE MARÇO DE 2017)


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