**HÁ VULGARIDADES SUBLIMES?** - PINTURA: Graça Fontis/SÁTIRA: Manoel Ferreira Neto
Ai, meu Deus! Quantas vidas terei de viver para aprender certas coisas -
se é que possa existir outra vida após esta. Disseram-me pomposo, orgulhoso,
quanta vaidade e soberba: "Há vulgaridades sublimes!". Perscrutei a
pessoa, não houve mínimo de seu rosto, de seus olhos que não o tenha feito, com
o dedo indicador da mão esquerda entre os lábios e o queixo. "Ainda não
cheguei a este nível de ironia, meu prezado". A vontade fora a resposta:
"E nada mais vulgar que sublimizar a vulgaridade", mas puxei o freio com
tanta força que fiquei com medo de me empinar e cair de costas da cadeira em
que estava sentado.
Estou aprendendo a duras penas a sorrir, concordar, dar tapinhas no
ombro das pessoas com as suas afirmações disparatadas, com suas opiniões
obtusas. Se querem se sentir inteligentes, então levem o meu sorriso como mimo
de reconhecimento. Discutir! - não mais. As inúmeras vezes que entabulei
discussão com as afirmações disparatadas, fui eu a me sentir bastante ridículo.
Não se deve mesmo dar pérolas aos porcos. Para que mostrar inteligência,
conhecimento, sensibilidade, sabedoria a um imbecil? Nem sabe por onde passam
estas "cositas". São até capazes de dizer: "Há genialidade na
imbecilidade."
Não sei se terei engenho e arte para dizer o que fora dito por este
prezado, depois que lhe respondi não haver inda chegado ao nível de sentir
haver sublimidade na vulgaridade. Preciso de um tempo para concatenar as idéias
dele.
O leitor que espere um pouco. Uma coisa os leitores precisam aprender a
deixar de ser: são muito ansiosos. Até dizendo como mineiro-carioca que sou:
"É devagar que se adquirem conhecimentos profundos."
(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE MARÇO DE 2017)
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