#AFORISMO 13/A VIDA É NADA SEM A VONTADE DE VERDADE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Lede nos meus olhos as palavras de vontade de libertação das repressões por dizer o pensamento consciente, das imposições por conservar e preservar dogmas e preceitos que salvam das chamas do inferno, garantem com excelência a paz eterna e imortal, dos impingimentos em seguir o rebanho de ovelhas de princípios, normas, regras da con-vivência com os homens, etiquetas do bom comportamento, ideologias chinfrins, interesses espúrios, abrindo alamedas para a "verdade"!


Lede nos meus olhos o gesto da bananas descascadas que envio aos macacos e micos das morais e éticas retrógradas, com toda empáfia, as bananas de quem diz com prepotência é chegado o momento de virar as costas para as hipocrisias e cretinices dos credos, fé sem quaisquer fundamentos ec-sistenciais e humanísticos!


Ser de in-versões, fantasias
- vis-a-vis de re-vira-voltas no tempo circuns-pecto de ideais
vice-versa de re-fazendas nas circunstâncias de sonhos -
De amor que crocheteia a verdade de luzes e trevas
De desejos que tecem a alma de sentimentos livres
À divin-idade do crepúsculo de ocasos a desejar
O alvorecer de clari-vidências dà luz de magias e mitos
Da entrega plena aos projetos do verbo de tempos
Con-jugando fé e visão-[de]-mundo noutros aforismos do há-de vir
De sonhos a plen-ificarem estrelas de antanho,
De utopias, sorrelfas a ab-sol-uziarem luas primevas de outrora,
Cintilando de presença o êxtase de existindo a existência de existir,
Brilhando de estar-aí no gozo de não ser o ser ser-sendo...


O peito procura abrigo com o coração dilacerado num só pulsar que troveja e me transpassa os nervos.
Sim, sei bem, embora isto me deixe mesmo angustiado e entristecido, desesperado e desconsolado, deixe-me com o peito confrangido, nada posso fazer que modifique ou trans-forme, que tergi-verse as pers-pectivas e ângulos, que nunca serei alguém, todos os sonhos e fantasias que tive em nada resultaram, esforços e lutas empreendidos em nada deram, a nada me levaram, para nada contribuíram no amadurecimento através das experiências e vivências, esvaeci-me no tempo e espaço, vaguei entre as nuvens brancas e azuis, perambulei por entre as estrelas distantes da lua, divaguei pelos infinitos espaços, dancei no ritmo e melodia do silêncio e solidão, re-criando “blues” e “jazz”, rebolei de ansiedade no deserto de minhas frustrações e fracassos.


Sei de sobra que nunca escreverei uma obra cujos valores transcendam os tempos, seja objeto de inspiração e reflexão para a vida, e nada é capaz de explicar-me o porquê de minha insistência, de ainda ter esperança de a inspiração se revelar viva e presente, podendo, assim, concretizar esse desejo – não é que a esperança seja a última que morre? não é que antes tarde do que jamais? É continuar trilhando as veredas em busca das palavras incisivas e das letras definitivas, nalgum tempo alhures será re-velada, hora e vez são reais, hora e vez são na verdade do tempo, hora e vez são no espírito dos verbos feitos carne, hora e vez são nas mãos de estilo e linguagem feitos concha.


Embora não deseje ou não tenha vontade de fazê-lo, não há mais como evitar, não há como esconder a cabeça de por baixo da terra ou no fundo do mais abismático poço, não há como desaparecer com o corpo na curva sinuosa, não há como fugir para além do mundo e da terra, não há como negligenciar o para além do bem e do mal, não há como não ser. Intelectualmente, as coisas se fizeram precoces, mas na vida mesma, no quotidiano das coisas, objetos, dos homens, ou demoraram muito ou chegaram tarde, e eu tive oportunidade de usufruir-lhes as graças ou não. Sei, alfim, que jamais saberei de mim, qual é o outro que me habita atrás do eu, quem sou nas palavras incertas, o que sou nas letras inquietas, que sou nos parágrafos e exclamações, qual é a verdade que mui profunda se encontra em mim, qual a mentira que em mim vive nas atitudes, ações, comportamentos, nas visões do mundo e da vida. Penso que a insistência em escrever obra que transcenda os tempos seja isto de querer, custando o que custar, até a própria vida, a verdade. Haveria quem não a buscasse, não tivesse qualquer necessidade dela, fosse uma coisa efetivamente inútil? A vida é nada sem a vontade de verdade. Houvesse quem não a buscasse, fosse a vida algo sem ela, não me sentiria sem ela, não me sentiria sem o desejo dela, ser-me-ia insensível a vida, ser-me-ia insensível o espírito dela.


Ser de re-versões, estesia
Belo de viver instantes de harmonia, sin-cronia
Beleza de experiências o coração pulsando de emoções,
Sin-estesia de re-verenciar a alma tremelicando de angústias;


Palavras, versos, re-versos, in-versos, estrofes,
Acorrentados de signos, símbolos, metáforas
Ao secular, milenar clímax do abismo inaudito,
Indizível, "Ad Perpetuum Nihil"
Fals-itudes plenas e divinas
Fars-itudes absolutas e perpétuas
Versos, re-versos da morte, fim-contingente do corpo,
Recitando evangelhos do sem-verdade de ovelhas,
Declamando as paráclises de Mefistófeles à beira
Do Cócito do Hades, refestelando-se nas chamas da lareira,
Em rebanhos da ausência de fé,
Implorando o des-paraíso terreno, o baldio dos becos sem saídas,
Nos tabernáculos de templos edificados às glórias chifrudas
Da fidelidade ornamentada de prazeres, saltitâncias,
Da lealdade de arrebiques de línguas tocando o éden dos instintos,
Perecendo da alma as quimeras da felicidade,
Fantasias do amor, sorrelfas da cáritas.


(**RIO DE JANEIRO**, 06 DE JULHO DE 2017)


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