POETISA E ESCRITORA Maria Isabel Cunha INTERPRETA O AFORISMO 249 /**NADA DE ALMA NO TERRENO VAZIO**/
Fazer uma leitura de um texto do escritor Manoel Ferreira Neto é obra
para grandes mestres na literatura e linguística, devido aos conhecimentos
profundos que o autor revela nestas matérias. É sempre uma obra de difícil
interpretação, dada a erudição no vocabulário que utiliza e da enorme
diversidade de conhecimentos que adquiriu ao longo da sua vida dedicada às
Letras. É quase uma leitura hermética e penetrar nela é como imergir num
labirinto, onde se têm de descodificar todas as setas, indícios e linhas que
nos conduzam à verdadeira saída, ou seja, à mensagem nele contida. Neste texto
e, segundo a minha opinião, o autor quer alertar o leitor para a
responsabilidade do escritor ou do poeta na sua tarefa literária: No brilhante
aforismo "nada de alma no terreno vazio" significa que se não houver
conhecimento ( terreno vazio) não poderá resultar obra de luz, alguma produção
com arte literária, digna desse estatuto (alma). Convida os poetas a
mergulharem profundo na arte de bem escrever e bem dizer, auferir conhecimentos
suficientes para se debruçarem na tarefa difícil que é ESCREVER! Incita também
aqueles que têm esse dom para não deporem a lira, que componham e que mergulhem
nas normas e leis d'Apolo, isto é na luz e na sabedoria dada pelos nossos
antecessores. Esta foi a mensagem que captei deste magnífico aforismo, pedindo
desculpa pela minha singeleza ou afastamento do pretendido. Continue a
ilustrar-nos com a Sua Sabedoria e Arte, grande MESTRE. Um abraço, Manoel
Ferreira Neto.
Os meus sinceros PARABÉNS para Graça Fontis, a autora da ilustração
deste riquíssimo texto.
Maria Isabel Cunha
#AFORISMO 249/NADA DE ALMA NO TERRENO VAZIO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Vazio que flora leve e livre à margem dos éritos do tempo, tristezas, angústias,
descontentamentos, desilusões, decepções, peito arfando, mente tergi-versada
para algum canto do horizonte, com os desejos que não são para serem
realizados, que nascem espontâneos no eidos da alma que se projeta alhures,
trans-cendendo os limites da con-ting-ência à busca da luz do verbo para
suprassumir as sorrelfas e quimeras do estar-no-mundo habitado de solidão e
ipseidades solitárias das quimeras do "Ser", alfim entregar-se
plenamente à verdade do efêmero, a bússola para os horizontes distantes, onde
no verso-uno das esperanças e sonhos do vir-a-ser dos in-fin-itivos a vida
re-nasce das iríases do nada, dimensão de síntese da verdade e in-verdade,
pro-jetando-se no in-finito dos volos regenciais da sublim-itude do eterno,
imagística semântica do divino, sombras pálidas flanando nas calçadas de por
baixo das árvores, linguística da travessia do silêncio à solidão do ser,
seren-itude da liberdade para a sabedoria da vida, metáfora da ponte partida
dos mistérios e enigmas do ser-com os inauditos do verbo que se tece de rituais
eidéticos para a continuidade do não-ser desejando o raio numinoso da vida na
anti-poiética poiésis dos versos e estrofes que sin-estesiam as querências,
desejâncias da uni-versalidade do amor, do "sou" nas veredas e sendas
do estar-sendo.
Vazio do nada. Nada, que, na contra-dança do efêmero, re-vestido de
éritos do absoluto, baila nas sinuosidades dos caminhos desérticos, ínterins
das sombras e claridades, performance das estesias e êxtases, baile platôncio
do sensível sonhando o espírito estético do verbo regente das nad-itudes da
imperfeição perfeita, perfeição imprfeita de cujos úteros nascem a fé
con-ting-ente no espírito do verbo.
Nada de alma no terreno vazio, nos becos sem saídas do abismo entre o
tempo e o vento. Do saber, da virtude, logra fazer, logra artificiar em prêmio
dos trabalhos, um manto de retalhos... Musa, depõe a lira. Canções de amor,
cânticos de glória olvide. Que a consciência universal ilude. Nada de baldio
entre os éritos e o vir-a-ser, há-de ser, porvir do nada que posterga os
finitos do ser em nome do ente que se prolonga nos campos líricos e
destituídos, desprovidos de sementes, húmus para a eidética poiética da poiésis
do pleno que con-templa a plen-itude do nada. Galgando a Musa minha aos céus não
fosse, a Sereia minha aos mares não fosse, e se a nauseabunda epístola brotasse
dentre o lameiro das ideias, em regras, em normas, que são mais ou que são
menos do que exigem do metro as leis d'Apolo.
Vazio que, mergulhando profundo, mergulhando profundo nos absurdos da
mauvaise-foi, manque-d`être nas estradas frente aos horizontes onde porventura
se encontram cintilantes risos da alegria, mas ao longo da jornada vai abrindo
abismos irremediáveis, perde-se a alma, perdem-se os desejos, perdem-se as dimensões
sensíveis. Vazio irremediável. Silêncio pleno da vida. Olhos perdidos, frios
nos universos das con-ting-ências.
(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE OUTUBRO DE 2017)
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