#AFORISMO 299/ASSIM PERSIGNA-SE FESMONE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


A etern-idade jamais foi para rebanhos, cada um cria a sua conforme suas esperanças, utopias, sorrelfas, idílios, fantasias, quimeras. Enquanto andam pelas calçadas, de por baixo das árvores, amparando-se do sol, ando no meio da rua, sem chapéu. Acham magnífico, esplendoroso, no restaurante, tomando um drink, discutirem idéias, teorias, projetos, de preferência que os clientes ouçam-lhes os níveis de profundidades, prefiro sentar-me sozinho no Bistrô da Cidinha, na calçada, tomar  uma cerveja, olhar à distância. Ando na contra-mão em tudo, assim me faço, assim sou feito.

Tergi-versado de percuciente sentido e perspectivas, persigna-se o nada, iningeligível, inconcebível a fé que em seu alforje traz dentro, frente ao uni-verso que se lhe apresenta sem arribas e confins, vazio de linha à entrelinha do espaço, imperfeições em todos os naipes e calibres; inimaginável a utopia que em sua mochila carrega no seu interior, de costas às gargalhadas estapafúrdias, algazarras indecentes, o amor é pleno, só ele é a salvação do mundo, pois que ele é uma eterna querença e esperança; esquecem-se de que qualquer coisa antecede o amor, e na atualidade falta autenticidade, falta consciência, como pode haver encontro do amor, sem antes as verdades e in-verdades que se lhes habitam, sem medo, sem vergonha, dizê-las abertamente.  A própria solidão de si mesmos, são esta solidão - quem vai desejar estar ao lado, junto desta verdade, daí ruminam suas ilusões, quimeras, sorrelfas, ideais passageiros, idéias etéreas? Ouço-as em silêncio. 

Persigna-se, não debulha as contas do terço, em verdade não conhece terço, nem reza, não sabe única palavra de alguma oração, quem lhe segue não carrega terço, não reza, estas "cositas" não lhes servirão de nada, não lhes deram qualquer resultado, nas suas trilhas seguem a jornada ao Infinito.

Persignou-se diante do uni-verso sem arribas e confins, sem quês ou porquês, por muitos lhe estarem seguindo, convictos e conscientes de que chegarão ao destino In-finito, precisa das arribas e confins para a viagem, são eles a sua bússola. Nada significa nada. Não. O seu nada tem muito sentido, significado? Andar na contramão, uma mulher, duas cobras inofensivas, mas à noite, são perspicazes e venenosas, dormimos tranquilos e serenos, construindo um destino de sentimentos e emoções, utopias criando, re-criando, inventando. Persignou-se, nadificando medos e tremores de desvirtuar seus seguidores, tornarem-se eles perdidos no espaço, é enorme, imensa a sua responsabilidade.

"Quê estupidez a minha! Nada que sou, nada que re-presento, não dependo do uni-verso, sou livre, confins e arribas crio-lhes, invento-lhes, mesmo que as veredas sejam outras, o In-finito seja mais distante, chego lá com os meus seguidores, cumpro a minha missão com categoria e excelência. Ademais, os seguidores se sentirão mais alegres e felizes por vislumbrarem outras paisagens, paisagens mais fascinantes, mais deslumbrantes, inclusive re-colhendo-as e a-colhendo-as, re-fazendo as esperanças e os sonhos, re-novando sentimentos e emoções. Chegando ao In-finito, após o banquete de recepção e confraternização, carne de ovelha assada, regado a Absinto, segue cada um o seu próprio rumo, a etern-idade é de cada um. Quê pensamento! Complexo. Então, após a morte a etern-idade é de qualquer um. A mesmidade continua a sua jornada. A eternidade tem o seu preço. Òcios do ofício de professor-doutor de Epistemologia da Poesia, Gaston Bachelard, para os doutorandos da Filosofia de Nietzsche, na faculdade de São Nazaro. Não me persigno diante deste Santo sob qualquer Lei.

Engraçado, por que o uni-verso se me apresentou sem arribas e confins? Pergunta imbecil. Sei perfeitamente a resposta. Deus e Mefistófeles estão rasgando verbos contra mim, alfim estou desvirtuando os seguidores do paraíso e do inferno, estou lhes encaminhando, em vida, nas chamas de todas as con-ting-ências, ao In-finito, paraíso e inferno estão se esvaziando, no futuro serão apenas museus metafísicos. Quem ama de paixão museus e patrimônios são os insofismável e incolumemente destituídos de alma e espírito. Deus e Mefistófeles estão equivocados, não preciso deles para nada, sou livre, faço o que quero e quero o que faço. Castigo de deuses é do tempo do Zagaia. O vazio e o efêmero não pensam e sentem assim: tremelicam de medo de algum castigo de Deus e Mefistófeles. Não eu. Sigo em frente.

Voltando aos lobos da estepe. A etern-idade é de cada um. Sempre que posso, nalgum a-núncio de curva do espaço, digo-lhes para memorizarem as paisagens que se lhes re-velam, serão grãos da íntima e individual etern-idade. Ouvem-me com percuciência. O mais triste para mim é deixar os seguidores no banquete, aprendi a amá-los, nutrir imenso carinho e ternura por eles, a viagem ao In-finito não é simples, tem as suas intempéries, alguns seguidores tem sérias crises de angústia, tendo de retornar ao mundo das contingências, esperar outros segtuidores, perambulando, vadiando por becos, terrenos baldios, presenciando boêmios e bêbados, poderosos e fracassados vociferando contra dogmas e preceitos, a vida para eles é a morte nua e crua, despida de quaisquer ornamentos ou arrebiques.
Vendo-me a vadiar, pedem-me abrigo e afago, ofereço-lhes a viagem ao In-finito. Alguns fazem a mochila: "Bora ao In-finito.
Sou eterno, a minha etern-idade é muito trabalho, labuta árdua: levar os carentes da Verdade ao In-finito."

Quê estafúrdia! Caio de rir! De tanto rir a cadeira de rodas desequilíbrou-se, quase dou com a fuça no chão de ladrilhos! Levar os carentes da Verdade ao In-finito, já não lhes satisfazem as carências con-tingentes, querem a carência por sempre! Só rindo!

Não, em instância e circuns-tância alguma ando nesta trilha, mesmo diante de metralhadora. Ah metafísicas dos tempos de Zagaia, bem anterior aos pré-socráticos!


(**RIO DE JANEIRO**

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