JACYRA GOMES POETISA COMENTA O AFORISMO 289/**ANESTESIA EIDÉTICA, ESTÉTICA**/


Ser que pensa,sente, ama, e desejos de alcançar seus sonhos, expressando experiência do cotidiano da vida, na cultura e na arte de transcrever seus sentimentos, no seu desejo de criar, assim é seu sonho na existência, de seu viver ...


Jacyra Gomes


#AFORISMO 289/ANESTESIA EIDÉTICA, ESTÉTICA#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


“A sina de ser”, o destino de cont-ingenciar o quotidiano, o elo de todas as coisas, flores são espetáculos da natureza, liberdades são cenas eivadas de ternura e carinho, “instante de sedução”, "A saga de contar" por que mistério o sonho se banha na arte, a arte se refestela no verbo sem sombra e fugitivo, "o fado de alumbrar desejos" por que enigma no lírico comungam-se o eu e o mundo, estado de espírito que é desabafo íntimo. Querer brincar com estrelas, correr campos, velejar, beber a sede das ruas, queimar a luz do luar, lavrar o corpo no grito.


Para que o silêncio ressurja e o olhar suspenso, a aflição dos espaços, a surdez absoluta da montanha e o intocável da noite, é necessário transpor o limiar diferencial do imediato e aceder às origens de mim, ultrapassar a soalheira do passageiro e marginar as res e bordas dos prováveis, aí onde a con-sistência se dissolve e a eternidade se desprende da sucessão do tempo, aí onde a imagem e as perspectivas a-nunciam o nascimento do sol, nas pers da passagem da noite ao dia, nas pectivas do que haverá de ser e acontecer, do que haverá de ser esquecido e tornado história, do que haverá de ser lembrado e tornado tempo, e o meu olhar se descola da apreensão do ontem e do amanhã, sensações e sentimentos se comungam, inspirações e intuições se aderem, desejos, vontades e razões dão-se as mãos, desprendem-se das situações e circunstâncias que me algemaram ontem, as utopias que me acompanharam nas estradas de poeiras metafísicas, os sofrimentos e dores me acorrentaram anteontem os ideais que em mim trago dentro nos longos passos que empreendem na jornada das buscas e encontros, que me libertarão amanhã.


Sou dor
Anestesia eidética, estética,
Extase da arte!


Sou tristeza
Perspectiva pujante sinônimo
Do etéreo.


Luz uma luz
Em forma de imagem resplandecente
Através de que con-templo
O rosto eterno do verso verbo do sonho.


Não me restam fatos
Como objetos do irrevogável


Desejo, busco
- Uma querência -
A expressão do absoluto
Embora abstrato.


Suspensos os meus olhos, o meu ser, um arroubo alevanta-me, vertiginoso ergue-me e o espaço abre-se da comunidade de mim com o espaço sideral, o alarme e o augúrio, o sufocante mistério, o laço mortal dos erros e crimes, a profundidade da noite. Desde que vivencie a esperança e os mistérios da vida, transcenderei todas as cancelas e porteiras, todos os mata-burros e pontes partidas, todos os rios de águas límpidas e sujas.


A Cultura persegue a Natureza, no ímpeto de sojigá-la, para a escrava do seu harém, e ela, indômita, domada, na estética de sua prisão, não mostra assim ares de tristeza...


Cada homem, a seu modo, executa essa prisão: a Natureza é inocente. Cada homem é um soldado, doido, vão, inclemente.


A Natureza, porém, cedo se vinga de cada espoliador, sem dó: a sete palmos de terra, esconsos do seu império, da Cultura se desforra...


A Cultura, num esforço de fênix, tantalicamente, recomeça, do zero, em baldada luta, seu novo ataque à natureza, que não aceita ser vencida, apesar de, aparentemente, parecer ser prisioneira da Cultura.


Assim eu canto, assim eu recito, assim eu declamo, por vezes busco expressar isso na poiésis de poemas metafísicos, ontológicos e transcendentes. Assim eu sonho. Assim eu canto a celebrar o prazer de viver como vivem os deuses.


(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE OUTUBRO DE 2017)


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