#AFORISMO 340/LOSUM YALOM MANI# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


A natureza é perfeita.


Por vezes, o pássaro acorda-me. Hora de tomar da pena, começar as escritas, arrancando fios de cabelo branco, aqui e ali, re-costando na cadeira de executivo, fechando os olhos, apertando a fronte, acendendo um cigarro, angústia, desespero, nada mais existe de difícil que as letras. A confiança não está nas palavras, nas suas estruturas, no silêncio que há entre elas, mas nos dons e talentos, na esperança, sonho, fé, a obra será escrita com perfeição, nos sentimentos e emoções que se criam, re-criam, re-inventam-se, na vida da escrita, nas suas asas.


A obra perfeita é sempre a grande esperança. Ontem, o canto do pássaro foi lindo, hoje estava maravilhoso - já se foi, ele canta só até as cinco horas da manhã -, amanhã será esplendido, resplendoroso. Sem a pre-sença da esperança da perfeição nenhuma letra existe.


Jardim colorido de cores do amor
Música ouço de além o sentimento de plenitude
Na floresta de silvestres flores o perfume inebriante da entrega
Nuvens níveas de branco diáfano esplendo de universo a universo
No campo pleno de oliveiras, pássaros trinam livremente.
O espírito jornadeia além de horizontes plenificados de sonhos
A alma brinca de dançar ao som de orientais emoções do belo
No templo de efígies de deusas pagãs a luz do sol incide absoluta
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...


Canteiros floridos de êxtases do inominável
Poema ouço recitado por vozes serenas e sublimes
À beira do Senna, à la gauche, casais enamoram-se,
A noite parisiense sublimada de luzes
O amor suplica a presença da verdade da alma
Em estado de volúpia do divino absoluto do ser
A verdade reclama o amor celestial
Brinco de imagens dispersas, jornadeio pelos interstícios
Inconscientes dos tempos olvidados da sensibilidade
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...


Praças de fontes luminosas, pingos de água respingam o ar
Em mim presente o amor do meu amor, a vida da minha vida
Losum yalom mani, losum yalom mani,
O espírito recita palavras inteligíveis, sem sentido, sem significação
Fala a luz do eterno, fala o som do ser, fala a melodia do divino,
Fala o ritmo do absoluto, fala as notas transcendentes da alma


Hoje, sou maduro, amadurecido, envelhecido, garatujando palavras, aqueles sentimentos de vaidade, orgulho, não se esgarçaram na passagem do tempo, deixo as esperanças livres perpassarem-me todas as dimensões sensíveis, trans-cendentais se re-velarem, deixo que me façam à luz delas, refaçam-me. A velhice é digna, honrada, proba, a consciência e sensibilidade de que os sentimentos foram vivenciados, junto com eles a realização de alguns sonhos. Sou letras e esperanças, sou este canto dos desejos da obra perfeita, da vida harmoniosa, sin-crônica, sin-tônica, sin-fônica com os sonhos e utopias do Verso-Uno do mundo e da arte.


O passarinho canta só até as cinco horas da manhã - só paro de cantar aos oitenta e cinco, será uma cantarolia nos próximos dois anos, é a festa que faço para mim, não houve outra no de-curso do tempo, aquelas preocupações foram de acender as achas da fogueira, não deixar as chamas diminuírem, conservá-las, para isso mister foram vivenciar as contingências, suas dialécticas e sofrimentos.


Horto pintado de tintas do bem-querer
Melodia escuto do infinito a sensação de extensão
No bosque de silváticos fróis o bálsamo ebriático da rendição
Magotes alvos de lácteo translúcido cintilando de cosmo a cosmo
No agro pleno de olivas, passarões gorjeiam quitemente.
O espectro caminha além de perspectivas preenchidas de quimeras
O ser galhofa de regambolear ao sonido de levantinas comoções do sublime
No delubro de representações de deias gentílicas a luminosidade do astro-rei recai absoluta
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...


Talhões desabrochados de enlevos do que não possui designação
Poesia, atento, declamada por falas pacíficas e transcendentes
À borda do Senna, à esquerda, parelhas apaixonam-se,
A escuridão parisiense volatilizada de luminosidades
O bem-querer impetra a comparência da realidade da alma
Em situação de luxúria do celestial soberano do ser
A exatidão contesta o bem-querer ultraterrestre
Zombaria de representações disseminas, caminho pelos intervalos
Instintivos dos tempos desmemoriados da sensação
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...
Losum Yalom Mani...


Terreiros de nascentes luzentes, gotas de linfa aspergem o ambiente
Em mim assistente o bem-querer da minha querença, a alma da minha alma
Losum yalom mani, losum yalom mani,
O pensamento declama termos decifráveis, sem relevância, sem importância
Discursa a luminosidade do imperecível, discursa o sonido do ser, discursa a ária do deífico,
Discursa o compasso do supremo, discursa as assinalas sublimes da alma.


A continuidade faz a perfeição, quando nela habita a esperança, o sonho, as utopias. Se não pro-duzir a obra perfeita, a obra completa terá suas perfeições.


A Arte e o Ser estão em questão.


(**RIO DE JANEIRO**, 31 DE OUTUBRO DE 2017)


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