#AFORISMO 295/FONTE LUMINOSA DO TEMPLO DE FESMONE - V, VI, VII PARTES# - PINTURA: GRAÇA FONTIS/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


V


Sete pintassilgos e rouxinóis trinam em uníssono a melodia silvestre, sete cobras e tamanduás estendem suas línguas ao vento que passa rebolando os éritos, instintivamente sugando o himineu das musas.


Sete canções de mim próprio, dizendo de minha vida ao léu do mundo, ao vis-à-vis da terra circundada de mares e abismos, sobrevivendo de ilusões, fantasias, sonhos, esperanças, fé, silenciam o balir de mil cordeiros.


Sete vezes evoco o abstrato, invoco o transcendente, faço das perspectivas a minha raiz, faço dos ângulos o meu ser, das linhas a alma, das entre-linhas o espírito, dos "croquis-de-poesias" a visão do infinito e finito, e a lembranças têm arestas brancas.


Sete fofocas da mentira nas bocas, e o interessante é que a população inteira está rindo, gargalhando frouxamente, mas são devaneios para os momentos de lazer e inutilidades.


Sete mentiras da fofoca são bolas de neves nos lábios carnudos, sensuais, sôfregos de toques serenos e suaves, de plantão para o próximo provérbio das jeguices e sandices.


Sete águas re-fletindo imagens sob raios numinosos do sol, lírios brancos à mercê de vento suave, belga pousado no arame farpado da cerca, trinando seu canto, nuvens brancas deslizando no azul celeste, pétala perdida de rosa vermelha sendo
levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.


Sete volúpias da alma transcendem as elegias do instante de sonho, em mim sentindo íntimo, a alegria con-juga versos, a felicidade recita de rimas as fantasias
do amor cor-{**res**}-pondido, do amor sentido profundo, do amor saboreado


VI


Sete letras acompanhadas entre-laçam sílabas em versos de carinho, vôos profundos por espaços de entregas plenas, aléns adiante são frutos de conquista de ternura, cafezinho fresquinho, pão chapado, levado na cama com abraços e beijinhos, inevitavelmente, viagens por campos de lírios, mãos dadas em nome de sonhos futuros, lembranças e re-{***cord***}-ações dóceis de glórias dos sentimentos e emoções vividos e vivenciados, verdades do coração e da alma.


Sete almas re-fletidas no re-verso espelho do ser pro-jetado ao longínquo infinito por onde nonadas eid-ificam travessias, por onde vazios eid-eter-izam imaginárias "**perspect-ivas**" pers de divas, pect de sereias, ivas de "Sininhos", ab-solutas de molduras em imagens lúdicas do jamais que pres-"ent"-ifica a lucidez do há-de vir.


Sete águias no alvorecer pousaram nos auspícios da colina a vislumbraram a longitude do abismo por onde sobrevoariam até à montanha banhada pelas águas do mar, onde dormiriam para recomeçarem a jornada no novo alvorecer.


Sete coelhos atrás do mato, comendo tranquilos folhas silvestres, são símbolos, signos, metáforas, sin-estesias de segredos, enigmas, mistérios do inolvidável.


Sete silêncios envolvendo a todos, marcando fundo, são místicas portas do além onde todas as luzes e cores do arco-íris se re-fletem, imagens de confins ornamentam o espelho do tempo.


Sete hipocrisias, aliadas à inocência e ingenuidade, coadjuvantizam a comédia dos lídimos valores e virtudes, protagonizada pelas asnadas das contra-dicções entre a sabedoria e a ignorância, enquanto na con-tingência do tablado, de por baixo dele, ratos e baratas se estrebucham pela posse do espaço.


Sete poetas, sentados numa mesa de restaurante, tomando absinto com vodka, gim, limão cortado em pedacitos, três pedras de gelo, escrevem, cada um no seu estilo e linguagem, o poema do último boêmio que refutou a lua e as estrelas como suas musas e tece crochet, uma colcha de cama de solteira para a sua amante e amada.


VII


Sete rituais holísticos, vedas, taoístas performam dogmas e preceitos que rezam na cartilha do "Credo" de trás para frente, criando e re-criando as sinas, sagas, desgraças da modernidade que serão o húmus e a semente do calipsus re-vestido de paisagens que lembram com trans-parência a consumação dos tempos.


Sete mitológicas efígies das a-gônicas esperanças do resplendor célere e da beleza uni-versal ornamentam a pedra de mármore cinza ao lado do paráclito.


Sete incensos, queimando-se, doam leveza à alma diante de seu destino implacável de esquecer-se da palavra que re-presenta o invólucro da areia, às re-versas, a areia cai aos poucochitos, às in-versas, a mesmidade, mesmice da areia caindo, a passagem do tempo.


Sete nonsenses e sensos escritos no tabernáculo são as pedras de toque para a entrada no espírito templário dos prazeres, luxúrias, ganâncias, vaidades, orgulhos, desde que se sintetizem, o que poucos foram os que conseguiram tal façanha, são os nonsenses e sensos contraditórios além de suas origens e raízes - e dizem que há tramóia nisto, não se sincronizam, mas concebem a dialética da asnice e da sabedoria, só os ilusionistas estão disponíveis para este disparate: viver e con-viver com a asnice e a sabedoria.


Sete risadas e gargalhadas dos egrégios doutos diante da verdade do limite da gnose, Fausto não teria vendido a alma a Mefistófeles em nome do Conhecimento de todas as ciências.
Sete obras de arte criadas que hão-de se erigir a partir do conflito e da busca do equilíbrio entre razão/pensamento e emoção/sentimento/experiência.


Sete revezes avessas, re-versas, in-versas, ad-versas do culto da verdade são as últimas que a fé febunda, o sonho basta, as sorrelfas fecundam.


(**RIO DE JANEIRO**, 19 DE OUTUBRO DE 2017)


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