#AFORISMO 263/VALSA NOCTÍVAGA DO BELO E DA LIBERDADE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


O que é o Belo? - pergunto-me agora, neste instante-limite em que expilo a fumaça do cigarro, cont-emplando o céu entupigaitado de estrelas, nesta noite de primavera, faz muito calor.


Belo é o que se não sabe, o que se não conquistou, o que se não conheceu, o que se não vislumbrou, o que se não comeu com os olhos. Abrir o corpo e a mim que moro nele. E que só nele moro enquanto o procuro, desejo sabê-lo. Nada há de conhecido, de sabido, tudo fulgura em re-velação, tudo esplende em a-nunciação, tudo re-presenta em fulguração. O meu sentir re-flui da presença do corpo para a evidência que o ilumina.


Cantos idílicos ou nostálgicos, risos e flores brancas ou lilases, vermelhas ou rosas, iluminem o mortal destino, a eterna sina, o desejado ser livre, para o ermo envelar fundo, na essência e ser dele, noturno do pensamento, curvado já em vida sob a idéia dos clímaces alucinados, cônscio da lívida esperança do caos redivivo, eis o que me perpassa a vida em todas as suas dimensões sensíveis, racionais e intelectuais, a carne e os ossos, até mesmo as entranhas das vísceras.


Ser livre é con-templar a natureza e perceber com percuciência e perspicácia que o ser humano é a criatura mais importante do uni-verso e que faz parte intrínseca da vida e sem ele jamais haverá felicidade, em verdade o mundo, a terra, a ec-sistência, sentimentos e emoções que abram as portas para receber outras luzes a encaminharem os passos em direção ao infinito do amor e da amizade.


Amaria, sim, colorir as flores brancas, uma a uma, com as tintas que perdi, com o pincel que deixei nalgum cofre do tempo, pedir-lhes dar alegria às minhas lágrimas, caminho a esse carinho escondido nos abraços adiados, nos olhares desviados.


Outrora, idade da minha ec-sistência! Outrora, idade das cores essenciais! Outrora, idade de ritmos re-nascidos! Depois de tudo, após a paz, o turbilhão!... Outrora, idade de versos e estrofes inéditos! Antes das rimas e sonoridades, musicalidade, depois do prazer, a bonanza, cambaleiam a solidariedade, a compaixão, dançam o amor, esperança e fé, a valsa do crepúsculo, tango da noite, o fado da madrugada.


Outrora, Idade da mesa habitual, sobre a terra onde semeei sementes di-versas, cultivei milho e rebanhos! Outrora, idade dos reencontros, encontros de faces em torno de mim, com os cheios e os vazios, com o nada e o tudo, com o efêmero e o perene, da verdade!


Jamais a felicidade efêmera, prazeres transitórios, alegrias fugazes, as quimeras e fantasias que desejam o eterno e o absoluto, a paixão que busca, o amor que aspira o auspício do divino - porque ec-sigem devo olhar de néscios olhos para a beleza, para o que ecs-tasia o íntimo e o mais profundo, para a volúpia da carne fresca e ávida de prazeres insolentes.


(**RIO DE JANEIRO**, 13 DE OUTUBRO DE 2017)


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