#AFORISMO 326/COGITO ERGO NON SUM# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Pós de esias esparramados no chão
De metáforas destituídas de sons, sentidos
Jogados na sarjeta de palavretas
- E quê palavretas! Indecentes, imorais
Tenho vergonha, tenho asco, tenho náuseas -
Desprovidas de perspectivas, luzes e imagens
Nonsense...


Ser não é mostrar-se e mostrar-se não é ser
Descompassadas nas trilhas dos inter-ditos,
Além-ditos, aquém-ditos,
Palavras mudas, palavras cegas, palavras surdas,
Palavras coxas, as famosas claudicantes,
Desconectadas dos precipícios onde se embevecem
De sensibilidade, contingências, trans-cendências,
Excluídas das cisternas onde se escondem
E saciam a sede do inócuo,
Todo ente nasce sem razão
Prolonga-se por fraqueza
Morre por encontro im-pre-visto
Nada,
Nonadas...


E os olhos se extasiam com o resplendor
Do inaudito, in-intelig-ível, imaginário das transgressões
Do inóspito, insolências da meiguice, meiguices insolentes,
Verbos desqualificados, verbos descompassados,
Intoleráveis, insuportáveis, enguli-los, quê mal-estar!
Amaria das prefundas de minh´alma escrever uma escrita escriturária, torna-se-me, contudo, quase impossível de fazê-lo no que tange ao fato inconteste de que cometeria uma série de gafes, estar nas tintas para isto - ah, como estou! Antenas sempre ligadas. Não é bom para a minha imagem, por não estar familiarizado com a linguagem de "escrita escriturária", nada sei sobre ela, ademais estou sobremodo sem assunto, melhor dizendo, des-assuntado, as gafes seriam inevitáveis, o bom senso aconselha-me a não me utilizar de gafes; creio não ec-sistir, alguém solidário, prestativo, compassivo, pode desejar ajudar-me, dizendo que quem faz a contabilidade de pessoa física e jurídica e denominado escriturário, quem trabalha em cartório também é chamado de escriturário, mas não desta escritura a que me refiro, a escrita escriturária aqui menciono não existe.


Então, restam-me:
As imaginações férteis que viajam
Anacronias da ternura seduzindo as maledicências da alma
Anestesias da carícia e toques bolinando os boduns,
Anistias da ternura, entrega, doação
Dos instintos primevos do eterno, efêmero.


As estrelas velam
O ossuário dos ideais,
Contra-luz das utopias e dialética da iluminação.
Nada...
Nada puro...
Nada sublime...
Nada divino...
Nada supremo...
Nada reles...
Nada bastardo...
Nada: Ser ou Espírito?


Cinzas de esias cobrindo matagais, mangues
Cogito ergo non sum
Con-templar é matar a sede de conhecimentos
Cinzas lembram ossos, após alguns anos
De por baixo da terra, tornam-se cinzas
Recordam o limite inevitável da vida, a morte
Cinzas de nada...
Cinzas de nada puro...
Cinzas de nada sublime...
Cinzas de nada divino...
Cinzas de nada supremo...
Cinzas de nada herege...
Cinzas de nada proscrito...
Cinzas: Reais ou frutos da imaginação fértil
Aliada à inspiração, percepção, intuição, intenção?


Des-assuntado em nível tão elevado em que me encontro, a "escrita escriturária" que amaria sobremodo re-velá-la à larga das con-tingências e trans-cendências, mas, pelo simples fato do medo de cometer gafes em série com a linguagem, com o estilo, com eles não estou familiarizado, restando-me o estilo que poderia ser hilário, seria facílimo realizá-lo, mas o des-assunto deixou estes versos e estrofes que não possuem claro, escuro, são palavras chapadas, o real.


Onde - as gafes?
As gafes - onde?
Gafes - onde?
Onde... Gafe?
Não existe o "onde" ga-féctivo! Existe o verbo "defectivo" - Latir é um deles: não existe a primeira pessoa nele: "Eu lato"... Óbvio, não sou cachorro.


- Não sabia que não existia!


(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE OUTUBRO DE 2017)


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