ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA Ana Júlia Machado ANALISA O AFORISMO 291 /**O QUASE**/


EPÍGRAFE:


"A existência é abalizada de opções e seleccionar o que auferir, é igualmente, eleger o que desbaratar."


Não, o ser não consegue universalidade.


Não chega pretender. Não chega possuir reflexões experimentais. Não chega bisar bons pensamentos na mente como se fosse um poder espiritual, no decorrer do dia, para que as realidades meramente sucedam.


Essas disseminações de experiência, apoiada no uso de seus inerentes instrumentos intelectuais, para alcançar seus intuitos, termos ou resolver enigmas de cunho emotivo, individual ou oportuno. São extremamente perniciosas.


A pessoa que crê nessas narrações de vitórias extremistas inexplicáveis pende a ser, primeiro, avassalada por um desmedido afluxo de fé e de religião de que tudo consegue. Em seguida, ao labutar com a verdade e com as inerentes teses, avezar ser investida por uma colossal sensibilidade de fragilidade e de pecado por não alcançar o que pretende.


Contudo, se chega pretender, e eu desejo, por que não conquisto? Devo possuir alguma dificuldade, quiçá eu não pretenda o razoável. Todo planeta alcança, Excepto eu.
E assim, o disparo sai pela retaguarda. Toda aquela pujança da fé que se possui nos iniciais momentos se metamorfoseia em envenenamento demasiado de quem se aborrece quando é requerido. Discursa de si o tempo todo, se elogiando, se achando o superior..


O sujeito queda amarrado a um modelo inexequível, que é o local de alguém que tudo consegue (em trâmites freudianos o progenitor da malta), o resoluto de êxito pleno, a fêmea potente que faz todos os indivíduos salivarem, às vezes até amalgamando noologia com fé e praticando barbarismos ideólogos.


O protótipo traçado aí, está distanciado da esterilização, que é exactamente aquilo que o freudismo nos aponta que é o que nos auxilia.


Não, a pessoa não consegue tudo. A existência é abalizada de opções e seleccionar o que auferir, é igualmente, eleger o que desbaratar.


É preciso que o anseio saia nosso físico, que a gente actue com aquilo que nos conduz significado, astúcia e mais desejo! Mas isso somente é praticável perante o desfazer dos protótipos de mestria, porque o anseio possui como espécie para sua vida a pronunciação com a privação.


Não, a gente não consegue tudo tudo, como diz o autor e escritor Manoel Ferreira Netol somente o quase algumas realidades.
Quem pretender estimar incumbirá desfechar a garra de possuir a existência em completa seriação


E finalizo uma possível análise ao aforismo de Manoel Ferreira Netol “quase” com uma frase do mesmo, Não entendo
quem sabe por divinos e vítreos fulgores –
Que chama interior me arremessa
Eu gostei deste aforismo e diz muito mais que isto que escrevi e que cogitei perceber no aforismo do autor Manoel Ferreira Neto…..


Ana Júlia Machado


#AFORISMO 291/O QUASE#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


"O quase, ausência de conquista, é a vitória
Inebriante de todos nós, perdedores!
Vencedores não existem. Ou existem?
O quase consagrou a todos com o mesmo gesto."


O quase, por sua incontida insistência,
É, irrevogavelmente, inapelavelmente,
Impreterivelmente, inarredavelmente,
O ato único de qualquer existência."


O sagrado tem mais poesia
Guarda nos versos dos cânticos o divino e eterno,
Nas estrofes, os cristalinos esplendores do sublime e puro.


O esplendor da beleza é raio criador:
Derrama a tudo a luz
Que evoca a lembrança casta
Do fundo amor do que não ama,
Não sente o lívido suspiro da felicidade,
Não intui a nitidez pura da alegria,
Não con-templa o prazer no brilhar dos olhos.


Quando houver em mim um eco de saudade,
Sussurro de sibilo melancólico,
Balbucio de nostalgias distantes,
Beijarei com sofreguidão e êxtase estes versos
Que escrevo, sentindo reavivar a chama
Do amor que lacera, palpita e soluça.


Virá um dia
De sol ardente, de chuva fina, de inverno ou primavera,
Em que mais sagrados e cristalinos esplendores
Espelhará nas nuvens as estrelas brilhantes do uni-verso.
Divagarei de desejo em desejo,
Em busca de um sonho ou verbo
Que aspire(m) o aroma da poesia,
A última harmonia que desejo
Sentir pulsar no coração,
Vivendo de luz mais viva,
De espírito mais cristalino,
De alma mas resplendente.


"O quase é a negação esférica,
Perda total do tudo.
O mais importante e sublime,
O mais solene e pomposo.


Plenitude do tudo e do nada,
Galardão supremo e eviterno,
Na competição da existência,
Sumo apanágio da humanidade."


Minhas ilusões fizeram-me, talvez, quase criança.
Pretendi dormir nos braços de um querubim,
À sombra do mistério das estrelas e do infinito,
Cheio de amor, vazio de esperança.
Mas eu que posso contra a verdade da vida?


Minh´alma adivinha a origem de meu ser,
A raiz de minhas venturas e dores,
Eidos de meus sofrimentos e devaneios,
Esperanças de felicidade e alegria,
Quero cantar os versos dos cânticos,
Melodia, ritmo criados por mim,
Re-velando o desejo do sublime que em mim habita.


Quero sentir os êxtases do belo divino
Perpassarem-me o corpo,
Perpassarem-me a medula
Com calafrios e sentimentos/sensações
De cócegas;
Quero amar e viver
Os sagrados e cristalinos esplendores
De colher a flor pura
Na solitária fonte do horizonte,
Na ilusão de que deliro
De vida e juventude.


Quando voarem as esperanças
De amor profundo, na existência calma,
Por que verto tantas lágrimas e prantos,
Como um bando de andorinhas
No céu aberto de nuvens brancas e azuis,
Só me restarem pálidas lembranças,
Do que fui, do que sonhei, do que desejei
Encherei os horizontes de minha primavera
Com letras e palavras
De sagrados e cristalinos esplendores,
Abençoarei minhas desventuras
E completarei minha tristeza.


A minha alma não é pura,
Como era pura na tenr-idade da infância,
Quando o verbo não sera “ser”,
Era “brincar” à luz do sentir e sonhar a vida.
Eu sei, se sofro agora por sabê-lo não sei,
Finjo saber para sentir, represento saber para escrever;
Tive choradas agonias,
Lacrimosas angústias,
Lacrimejantes tristezas,
De que conservo algum nó górdio inaudito.


Não sei
- quem sabe por sagrados e cristalinos esplendores –
Que fogo interno me impele
À conquista da luz, do amor, do gozo.
Não sei de que movimento
Audaz de um desusado êxtase minha alma se enche.


(**RIO DE JANEIRO**, 18 DE OUTUBRO DE 2017)


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