#AFORISMO 328/SONETO AO SILÊNCIO - DIÁLOGO DAS VEREDAS CON-TINGENCIAIS#- GRAÇA FONTIS: PINTURA/ Manoel Ferreira Neto/Ana Júlia Machado: AFORISMO


Pontes partidas...


Frestas à vista para a sinuosidade dos horizontes que mostram imagens dispersas nos interstícios das perspectivas, no íntimo dos acordes angulares – o melhor perfume está nos menores fracos -, quiçá a-nunciando a verdade in-consciente do verbo de tecer sendas ek-sistenciais, veredas con-tingenciais em direção à vida do eterno desfigurado de dogmas, desentrelaçado do absoluto hades. Quiçá revelando a in-consciência estética do sublime de compor o indicativo presente do que a a-mortalidade de princípios e raízes, por vezes havendo sementes e húmus, do vazio em plena náusea do nada.


Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao silêncio!...


Frinchas à luz dos linces dos olhos con-templando as linhas cambaias do universo que desenham interditas palavras metrificadas de inauditos mistérios do des-nada sonet-ificando as tragicomédias do absoluto divino, sonet-izando a sátira lavada dos idílios compactos das sorrelfas subjuntivas do “era” verbo defectivo da morte pretérita do gerúndio de ser que atravessa as pontes partidas do jamais-sempre, do estilo gafectivo, miríades de inspiração, num tributo à margem esquerda do Sena, Paris, lado "gauche" do Senna, a origem do estilo gafectivo, o verbo defectivo contribuiu para o olhar sarcástico do sempre-nunca, das arribas impretéritas da essência, metafísica do nonsense, teoria do conhecimento das partícipes nonadas do eidos-para a sepultura do além, tumba dos confins, mausoléu das arribas, cárcere eterno do mais-que-perfeito infinitivo, antropologia de lendas e rituais das florestas onde se abrigam os mistérios, alfim o sem-ocaso à re-velia do crepúsculo e entardecer da inolvidável sombra pálida do não-ser de estrofes des-providas de sensibilidade e provérbio do espírito.


Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao silêncio!...


Se a querença for imensurável...
a expectação não será eterniza,
as acidezes não serão meias-medidas,
e o afastamento será sucumbido.
Se a intelecção altercar,
as contestações fortificar-nos-ão,
os incidentes far-nos-ão
zombar,
e as cortejas assinalar-nos-ão.
Se a ponderação prospectar,
as afeições serão mélicas e arrebatáveis,
os ósculos intensos e apinhados de apreço,
e os enlaçamentos doces e vitalizadores.
Se a fidúcia haver,
a incerteza se debelará,
as questões serão replicadas,
e os discursos lograrão ser patenteados.
Quiçá não seja um amor perene.
E não é uma querença abalada,
Nem um bem-querer utópico.
Mas um bem-querer verídico.
Aquele que extrapola os estorvos
Forçados pela existência e pelas conjunturas.
Aquele que não teme a eleição,
E emprenha a escolha genuinamente
Ser veemente sentido.


Augúrio apaziguado, vagas plácidas, medos entupigaitados de nuvens claras e escuras embatem na face das casas, deslizam pelos muros desenhados de lodo, pichados de letras mortas, escorrem largamente pela terra. O meu pensamento fosforece. Minhas idéias reluzem-se. Evola-se no ar umedecido dos pingos de chuva que caíram por instantes, suspende-se o ergo non sum. Estou nu por dentro, vê-se nitidamente a minha intimidade tímida, envergonhada, e a inocência é aí, agora ainda, por sempre, na eternidade do instante, e a ingenuidade é lá, por algum tempo, na etern-itude do momento.


A lua vai alfim aparecer. A neblina alastra ao meu horizonte sem fim, aos meus uni-versos por serem, os olhos doem-me da nitidez estéril, do nítido nulo, da aparência frígida, da folha limpa por escrever. Timbre de prata, flutua. As cordas da lua tremem. Passam a legenda e os anjos, passam os mitos e as fadas. Passam os ritos e as bruxas. Que é que isto quer dizer? Ou nada quer dizer? Devo estar velho, a solidão ec-siste insuportável. Ou quê por ela? De repente a vida ficou muito mais extensa. Os olhos deambulam muito longe, a longitude da correspondência entre o horizonte e o infinito. Tão extensos, tão longe que tudo atrás fica lendário, tudo atrás é conto do vigário, é estória da carochinha. Respiro devagar, trago a fumaça do cigarro lentamente. Como se me balanceasse o corpo ao ritmo sereno do universo. Noite ofegante, olho-a. Pela janela, ao alto, sobre o negrume dos pinheiros, silencioso céu. Estendo-me na rede, extenuado das memórias do dia, do cão que latia incansavelmente por estar preso pela corrente, do barulho da água que enchia o tanque de lavar roupas...


É no silêncio que vivo, aprenderei outra linguagem? É na solidão que prolongo os dias, aprenderei outro estilo? Não há palavras ainda para inventar o mundo novo. Não há sentidos ainda para revelar o outro dos sonhos, utopias, dos verbos que hão-de ser. Estou só, horrivelmente povoado de mim. Valeu a pena viver? Valeu a pena trilhar as estradas de poeira? Valeu a pena passear pelas manhãs, con-templando as folhas verdes umedecidas do orvalho da noite? Matei a curiosidade, vim ver como isto era, valeu a pena. É preciso que tudo des-apareça para que tudo possa re-construir-se - re-construir-se através de um "deus único", um "deus final". Não sei ainda a linguagem do mundo que terei de re-inventar, o estilo da ec-sistência que terei de re-criar, a forma da imanência que terei de re-fazer.


Quem me dera agora tivesse a harpa para “dedilhar” o soneto ao silêncio!...


De versos O evo se constrói De quimeras
Constituirá a sensibilidade Do período
O período De poemas
Declamará a pulcritude.


Da perspetiva
A perspectiva De apetites
Associará a eloquência
O tempo é composto, quimera e poemas


Que se arruína e dissemina fora do meu tempo,
raciocínio enviesado sem exclusiva justeza de ser...
O meu sopor penetrante, é mediador para outro Universo,


ocasiona da existência decesso, do bem-querer a malévola dita, E do âmago, inspiração infrutífera. Persigo
em dianteira, mas sem querença, persigo igualmente sem rota.


(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE OUTUBRO DE 2017)


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