CRÍTICA LITERÁRIA ESCRITORA E POETISA ANA JÚLIA MACHADO, ANALISA O TEXTO FILOSÓFICO /*NADA DE ALMA NO TERRENO VAZIO**/
Epígrafe:
"O Tempo e a brevidade de todas as realidades são simplesmente a
forma sob a qual o anelo de habitar — que, como coisa-em-si, é perpétuo —
patenteou ao Tempo a inanidade de seus empenhos..." (Ana Júlia Machado)
Vazio do nada. Mais um sublime texto do escritor Manoel Ferreira Neto.
Um texto que não é de simples interpretação. é completamente filosófico...no
entanto, atrevo-me a dizer alguma palavras.....Esse despojado acha sua
manifestação em toda forma de vida, na imensidade do Tempo e Espaço em antagonismo
ao finito do sujeito em ambos; no veloz presente como a exclusiva configuração
de vida verídica; na subordinação e contingência de todas realidades;
continuamente se Converter sem Ser; em incessantemente ambicionar sem ser
saciado; na extensa contenda que estabelece a narrativa da existência, onde
todo empenho é impedido por contrariedades, até que o triunfo seja avassalado.
O Tempo e a brevidade de todas as realidades são simplesmente a forma sob a
qual o anelo de habitar — que, como coisa-em-si, é perpétuo — patenteou ao
Tempo a inanidade de seus empenhos; é o causador pelo qual, a todo o instante,
todos os factos em nossas garras convertem-se nada e, logo, desperdiçam toda
sua efectiva grandeza.
O que caminhou não mais vive; vive estritamente tão-pouco quanto aquilo
que jamais foi. Mas tudo que vive, no quase instante, já abalou.
Previsivelmente, algo concernente ao existente, além de quão vazio possa ser, é
súpero a algo relevante tocante ao pretérito; isso porque o inicial é uma
veracidade, e está para o derradeiro como algo acha-se para nada
Nenhuma criatura nunca se sentiu inteiramente ditosa no assistente, se
ocorresse, isso o entibiaria.
Ana Júlia Machado
#AFORISMO 249/NADA DE ALMA NO TERRENO VAZIO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Vazio que flora leve e livre à margem dos éritos do tempo, tristezas,
angústias, descontentamentos, desilusões, decepções, peito arfando, mente
tergi-versada para algum canto do horizonte, com os desejos que não são para serem
realizados, que nascem espontâneos no eidos da alma que se projeta alhures,
trans-cendendo os limites da con-ting-ência à busca da luz do verbo para
suprassumir as sorrelfas e quimeras do estar-no-mundo habitado de solidão e
ipseidades solitárias das quimeras do "Ser", alfim entregar-se
plenamente à verdade do efêmero, a bússola para os horizontes distantes, onde
no verso-uno das esperanças e sonhos do vir-a-ser dos in-fin-itivos a vida
re-nasce das iríases do nada, dimensão de síntese da verdade e in-verdade,
pro-jetando-se no in-finito dos volos regenciais da sublim-itude do eterno,
imagística semântica do divino, sombras pálidas flanando nas calçadas de por
baixo das árvores, linguística da travessia do silêncio à solidão do ser,
seren-itude da liberdade para a sabedoria da vida, metáfora da ponte partida
dos mistérios e enigmas do ser-com os inauditos do verbo que se tece de rituais
eidéticos para a continuidade do não-ser desejando o raio numinoso da vida na
anti-poiética poiésis dos versos e estrofes que sin-estesiam as querências,
desejâncias da uni-versalidade do amor, do "sou" nas veredas e sendas
do estar-sendo.
Vazio do nada. Nada, que, na contra-dança do efêmero, re-vestido de
éritos do absoluto, baila nas sinuosidades dos caminhos desérticos, ínterins
das sombras e claridades, performance das estesias e êxtases, baile platôncio
do sensível sonhando o espírito estético do verbo regente das nad-itudes da
imperfeição perfeita, perfeição imprfeita de cujos úteros nascem a fé
con-ting-ente no espírito do verbo.
Nada de alma no terreno vazio, nos becos sem saídas do abismo entre o
tempo e o vento. Do saber, da virtude, logra fazer, logra artificiar em prêmio
dos trabalhos, um manto de retalhos... Musa, depõe a lira. Canções de amor,
cânticos de glória olvide. Que a consciência universal ilude. Nada de baldio
entre os éritos e o vir-a-ser, há-de ser, porvir do nada que posterga os
finitos do ser em nome do ente que se prolonga nos campos líricos e
destituídos, desprovidos de sementes, húmus para a eidética poiética da poiésis
do pleno que con-templa a plen-itude do nada. Galgando a Musa minha aos céus
não fosse, a Sereia minha aos mares não fosse, e se a nauseabunda epístola
brotasse dentre o lameiro das ideias, em regras, em normas, que são mais ou que
são menos do que exigem do metro as leis d'Apolo.
Vazio que, mergulhando profundo, mergulhando profundo nos absurdos da
mauvaise-foi, manque-d`être nas estradas frente aos horizontes onde porventura
se encontram cintilantes risos da alegria, mas ao longo da jornada vai abrindo
abismos irremediáveis, perde-se a alma, perdem-se os desejos, perdem-se as
dimensões sensíveis. Vazio irremediável. Silêncio pleno da vida. Olhos
perdidos, frios nos universos das con-ting-ências.
(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE OUTUBRO DE 2017)
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