#AFORISMO 262/À PROCURA DO MAR QUE O INFINITO ALCANÇA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Amo o sonho como se fosse minha poesia. Amo o silêncio, a vida, a saudade de entes queridos, a lembrança, a esperança, a certeza de ter a poesia. Amo o devaneio como se fosse em mim doce espaço para sentir a Vida.
Ao invés da luz, do aroma, ou do alento ou da voz, encontro a fonte de todo o ser, e fonte de toda verdade, verdade que vivo e experiencio ao longo dos dias de minha existência, verdade que há-de vir, resultado e conseqüências de outras que apenas delineei na alma e espírito.


Hei-de passar o tempo à procura de uma flor, hei-de de me fazer feliz como se fosse raiz: dar frutos, ser sombra, colher a última folha que a primavera deixou; hei-de ser a arte, meu verso que afaga muitas vidas; hei-de ser vida, hei-de de ser ponto de partida.


Toda a ardente ebriedade de meus reais pensamentos, verdadeiras idéias, férteis imaginações, tudo gozei nas noites de amor, nas noites de idílios e sorrelfas, nas letras de incólume vazio, nas palavras de efusivas esperanças.


Vaga nas linhas curvas, nas entre-linhas sinuosas, de letras e frases curtas, de pensamentos e idéias profundos, que não tenho medo de mostrar, incertas palavras, inquietas letras, espalhando-se pelo papel esbranquiçado, liso, como um peito que deseja abrigo com o coração em êxtase, num só pulsar que relampeja, e me traspassa os nervos de flor, de pedra, de prazer... e amor na límpida transparência das águas, nas asas cristalinas das emoções, às vezes que o amor é apenas reflexo da dor, é um sentimento que esmaga o peito, devorando o corpo e a carne, como enchente num leito de rio, tragando vagarosamente a vida, arrastando consigo o homem à procura do mar que o infinito alcança.


Quero ter um mundo sem porteiras e fronteiras, sem muros, cercas, barreiras, sem ódios, vícios, dores e sofrimentos, onde todos plantem e colhem, onde todo faminto coma, na justiça, na paz e no amor, onde as aves tenham seus próprios ninhos, onde todos tenham carinho, amor, ternura, onde ninguém gema de dor, sofra com os problemas e conflitos.


O horizonte é meu infinito, o mar, meu refúgio. O crepúsculo é meu uni-verso. O sol arde, o vento sopra, velas se abrem num abraço à liberdade. Imagino tudo, existo, o amor me faz caminhar, ir à busca de mim mesmo, e me encontrar com as sorrelfas de meus idílios.
Rompe a luz da tarde serena. Em vão, encho de aroma o ar da tarde; em vão, abro o seio úmido e fresco do sol, nascente aos beijos amorosos; em vão, orno a fronte à meiga virgem; em vão, como o penhor de puro afeto, como um elo das almas, passo do seio amante ao seio amado.


Horas e instantes de pura fantasia, quimera, momentos de idílios, gestos, atitudes, palavras e ações que re-fletem amor e ternura. Veredas do sertão longínquo, onde supus o meu ser, “restícios” de feto e flor.


E, assim, de banquete em banquete, incrementando em mim o vigor inimigo, encontrei, sem saber, o bispo amigo de Sumé e o comunguei corpo e sangue, alma e fé.


E os meus olhos se abriram, num estalo, como os do meu pai barroso, ao comer da maçã... E a realidade exterior me fugiu e fiquei a ver navios, à mercê só do desejo. E esse desejo, oscilante, ao fiel da báscula, num jogo intrincado, não consegue mais pesar, pois, me introjeta e projeta, em vaivém, entre o prato do bem e o prato do mal.


(**RIO DE JANEIRO**, 13 DE OUTUBRO DE 2017)


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