#O INTELECTO LONGÍNQUO E O EU POÉTICO NA ANTOLOGIA POÉTICA "O EU LIVRE", DE ANA JÚLIA MACHADO# - CRÍTICA LITERÁRIA: Manoel Ferreira Neto


Caríssima Amiga, Escritora e Poetisa,


Ana Júlia Machado


Não imagina o orgulho com que fui tomado no instante de seu convite a Posfaciar a sua Antologia Poética "O EU LIVRE", tendo aceite com toda amizade e amor que nutro por você, pelos seus inestimáveis valores literários, poéticos. Assim que recebi o seu convite, escrevi o Posfácio, mergulhado no conhecimento que tenho de si, de sua obra, valendo a pena frisar, sem conhecer única palavra da Antologia. Fiz o Posfácio sem conhecê-la. Isto não é novidade para mim, pois que Prefaciei livro de memórias de meu inestimável amigo e companheiro das Letras, Antônio Nilzo Duarte, natural de Curvelo, Minas Gerais, também sem conhecer, fundamentado no que conhecia dele, de outros quatro livros de sua autoria, lidos por mim.


Agora que recebo o vídeo de apresentação do livro, posso tecer algumas palavras a respeito. Em primeira instância, não é obra de fácil leitura por sua linguagem e estilo eruditos, clássicos, E, de imediato, poema de abertura, O EU LIVRE, tais palavras se fundamentam diante dos versos "Meus traçados são, o intelecto/longínquo", significando que o intelecto a cada momento do passado é um "tendo-sido" Presente", este isolamento prossegue no próprio interior do Intelecto, do Presente; o longínquo são as experiências, vivências, as visões-[de]-vida, visões-[de]-mundo que foram sendo ob-servadas, con-templadas, assimiladas, memorizadas e, no movimento do tempo e das querências, desejos do Ser, foram constituindo o "Eu", a "Id-ent-idade", a consciência do "estar-no-mundo", estar-no-mundo diante das con-tingências do tempo, diante das intempéries da vida, dores, sofrimentos, diante da consciência de que a "existência precede a essência", portanto serem liberdade e responsabilidade a construção do Ser, da vida.


Tomando em consideração o título da Antologia, O EU POÉTICO", e estes versos do poema-chave, pode-se conceber que a escritora e poetisa Ana Júlia Machado fora constituindo o "eu poético" ao longo de seu estar-no-mundo, o que é ilusão de ótica, ela construiu o seu "Eu", a sua "Vida", e só quando se descobriu poetisa e escritora é que o "Eu Poético" se fez presente, pres-ent-ificou-se, isto significando que o "Eu Poético" vem depois do "Eu" que se forma, constitui-se na jornada da vida. "O lar do eu livre/Acha-se onde o infinito/É o mundo de cada um de nós/", versos que lembram com perfeição a "Casa do Ser", em sua obra clássica POÉTICA DO ESPAÇO.", Gaston Bachelard, a casa do ser é o "eu", constituído das experiências e vivências, dos desejos e vontades da verdade, do ser. O Eu livre é o mundo de cada um, a liberdade do "eu" é a pedra de toque das conquistas da vida, a construção do ser, é a continuidade que continuamente se cria, re-cria-se, in-venta-se, forma-se, constitui-se.


O "Intelecto longínquo" traz em seu bojo as experiências do passado, movimentos do passado, e no tempo "presente", conforme a poetisa, traz-lhe lúcida e conscientemente " a "ânsia de existência", VERBOS EM SUSPENSÃO, o desejo, vontade, volo mais que presente de existir, viver inda mais, para com as experiências vividas enxergar as "reais arteiras do éden terrestre" - elucide-se: não se trata de "éden celestial", sim "éden terrestre", os verbos do que é isto - o "Eu", o que é isto - o Ser, o que é isto - a Vida, entender e compreender o estar-no-mundo.


O "Intelecto Longínquo" não se dissolve, não se esvaece com a des-coberta do "Eu Poético", ao contrário, intensifica-se inda mais, expande-se ao Infinito. A "ânsia da existência" se presentificou a partir do instante em que Ana Júlia Machado des-cobriu seus dons, talentos literários, poéticos, artísticos, entregou-se-lhes a Vida, o Ser. Poderia perfeitamente colocar o "Eu Poético" em evidência, mas ao longo de sua entrega à Poesia, à Literatura realiza a síntese do "Intelecto Longínquo" e o "Eu Poético", que desemboca no desejar "o sibilo aprazível do entendimento", PAGINA EM BRANCO, desejo este que a transportando-a anexo nas "pausas do espírito". A síntese a transporta ao infinito, ao desejo da eternidade, não a eternidade vista sob o ângulo da obra que é a testemunha de sua vida, mas a eternidade do entendimento e compreensão do "estar-no-mundo", a eternidade de sua temporalidade.


Ana Júlia Machado sabe e conhece perfeitamente que a estrada a que se entregou de alma e espírito é uma estrada sem fim, as buscas e desejos estarão sempre crescendo, intensificando, mas sabe também que a síntese do "INTELECTO LONGÍNQUO" e o "EU LONGÍNQUO" são as sementes de sua "Eternidade".


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