Ana Júlia Machado ESCRITORA E POETISA PORTUGUESA COMENTA O AFORISMO /**CANÇÃO ARTÍSTICA DE GRAÇA FONTIS E MANOEL FERREIRA NETO**/


O que somos nós a não ser a compreensão de nosso apto ser? O que são capazes de tal análise....
Nós não somos o que consideramos – razões assistem alterando e suspendem de viver…
Nós não somos nossas sensações – elas habitam alterando e suspendem de viver…
Nós não somos nossos físicos – eles também incessantemente alteram e em uma data cedem de viver.
A ímpar realidade que sempre encontrou-se existente, nós compreendendo ou não, é o nosso fôlego.
É o fôlego que nos acarreta a cada númen a percepção de que residimos vivos, de que vivemos. Ela pode se modificar sujeitando-se dos entendimentos que cruzam por nosso intelecto, das sensações que experimentamos e da nossa circunstância corpórea, entrementes ela constantemente encontra-se lá.
Quando somos competentes que emudecer o espírito e acalmar o coração de molde fisicamente aconchegado pode compreender a correnteza instintiva de nosso fôlego ao ponto de nos prescindirmos até mesmo dela e experimentarmos a onda que se concebe com cada númen e cada termo…
É como se a cada númen acarretássemos com o vento toda a nossa ideia de: Eu sou isso (ou aquilo), propagando dor reentrante do nosso ser a interpretação de residirmos aqui e a cada expiração cedêssemos tudo isso caminhar, nos despejando de tudo que nos presenteia o tino do carácter até a ocasião em que permanece somente a compreensão de: Eu sou. Ninharia mais.
Neste instante somos nesse caso idóneos de entender a comparência do nosso “eu vital”, que pertence à razão pura, à priori, anteriormente a qualquer experiência, e que constitui uma condição prévia dessa experiência: segundo Kant, o espaço e o tempo são dois conceitos transcendentais. Aquele que realmente somos quando independentes de todo plano mental e da reatividade emocional de nossos traumas: aquele que já nascemos sendo e para ser. Redescobrimos a existência do nosso “verdadeiro eu” ou a nossa verdadeira natureza….
Não sei se fugi um pouco ao tema do Escritor Manoel Ferreira Neto….mas mais uma vez a indagação do ser…e como o compreendo. Tentei fazer uma pequena análise do que somos…e sabemos muitas vezes que somos porque ainda respiramos.
E como refere o autor, Habitámos momentas impraticáveis, repletas de sermos nós... e isto porque conhecemos, com toda a sensualidade de nossa sensualidade, que não somos uma verdade.
Que instantes, ó camarada de nosso "isolamento", que horas de angústia ditoso, tempo de mortificação da alma, dias de nostalgia intersideral, evos íntimos de panorama extrínseco. Ninharia merece a aflição, ó nosso bem-querer distante, senão a erudição como é aprazível entender que nada vale a pena, que as súplicas ilusórias em fantasias granjeiam o observar amplo, os escutados vigilantes às realidades que vivem….
Texto riquíssimo mas de difícil interpretação, como é habitual na escrita deste grande escritor. Erudição e intelecção acima da média de imensos seres….ou quase único.


Ana Júlia Machado


#CANÇÃO ARTÍSTICA DE GRAÇA FONTIS E MANOEL FERREIRA NETO#
MANOEL FERREIRA NETO: AFORISMO
Graça Fontis: PINTURA


"O silêncio que nos retrate somos nós, mas o silêncio in-fin-itivo é que é o silêncio vivo de nós." (Manoel Ferreira Neto)


Se as vozes tudo perguntam - a Esperança do Verbo de Ser é o Amor Pleno à Vida? A Esperança é a Luz de todos os caminhos da Vida? -, as quimeras nada indagam, só oferecem respostas, são músicas que fluem, permitindo que os sons se mostrem livremente, con-sentindo que ritmos e melodias ressoem livres e re-presentem o cântico do Ser atrás da Vida.
Resta-nos apenas encontrar o tom com que abordar os sentimentos, com que artificiar a sensibilidade e subjetividade dos sonhos, desejando a cada passo, seja no deserto ou na floresta íngreme, revelar o íntimo: "Eis o Ser de mim!..." Achado o tom para as abordagens à busca de revelações, esperamos que se abram vários eixos e que eles cubram o mundo por cima, um sudário.
Aumentando o calor, a sombra também se aquece, sentimos o sol na pedra acima de nós, ele, bate, bate, como um martelo sobre todas as pedras, e é a música, a vasta música de meio-dia, vibração de ar e de pedras sobre centenas de quilômetros, ah, como antigamente, ouvimos o silêncio.
Sim, não é o mesmo silêncio que nos acolhera há anos, quando nos encontrávamos sem rumo e destino, desesperançados e angustiados, necessitando ouvir vozes que nos dissessem algo sublime sobre a vida, mesmo que quimeras. Disse-nos o silêncio mais que isto, mostrara-nos o sublime e a possibilidade de atingir a sublimidade desde que estivéssemos dis-postos a abrir-nos, deixando as coisas entrarem, deixando a vida espiritualizar-se de verbos e sujeitos da verdade.
Desde então, o silêncio acompanha-nos, ouvimos-lhe as vozes todas.
O prazer faz com que toque a tristeza da felicidade. É extremo. Conhecemos a voluptuosidade do vôo e do pairar do pássaro neste lugar nenhum, macio e claro, para onde o prazer nos arremessa antes de esmagar-nos no chão. Conhecemos a voluptuosidade de imobilizar o tempo num átimo de segundo e de prender por meio do corpo o corpo mesmo do tempo, antes que se esvaeça, tendo apenas aflorado. Conhecemos o êxtase e o logro do êxtase. Numa palavra, experimentamos agora a falsa eternidade da união e não reconhecemos nisso o nosso presente, não desconhecemos as futurais perspectivas do sol numinando os campos de algodão.
Tantos séculos de silêncios armazenados atrás das cabeças conferem à solidão uma densidade de chumbo, e os minutos entre as palavras e as imagens que vamos dizendo a nós próprios passam como horas, entre as utopias que vamos tecendo perpassam-nos tão insustentáveis, leves, suaves, serenas. Até o momento em que os lábios, ou melhor, os maxilares se descerram, e são agora as palavras que parecem violar uma proibição, como uma rachadura fendendo um muro sagrado.
Vivemos horas cheias de uma imperfeição vazia e tão perfeitas, por isso mesmo, tão diagonais à certeza retângula da vida. São horas caídas nesse mundo de outro mundo mais cheio de orgulho de ter mais desmanteladas angústias.
Se pudéssemos ser sarcásticos a ponto de nos imaginar rindo, riríamos, sem dúvida, de nos imaginarmos vivos, felizes, rindo em plena madrugada, até a barriga doer. Vivemos horas impossíveis, cheias de sermos nós... e isto porque sabemos, com toda a carne de nossa carne, que não somos uma realidade.
Que horas, ó companheiro de nossa "solidão", que horas de desassossego feliz, horas de cinza de espírito, dias de saudade espacial, séculos interiores de paisagem externa. Nada vale a pena, ó nosso amor longínquo, senão o saber como é suave saber que nada vale a pena, que as vozes simuladas em quimeras merecem o olhar aberto, os ouvidos atentos às coisas que existem.


(**RIO DE JANEIRO**, 05 DE MAIO DE 2017)


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