**ASSIM FALAVA O GURU FESMONE** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Há escritores sem saber e escritores sem querer - as letras autênticas são cada vez mais agulhas no palheiro, especialmente os escritores autênticos.
Há quem re-vire a ampulheta sempre que a areia termina, há quem não a re-vire, tornando-a apenas um ornamento, arrebique sobre o móvel da sala de visita, sobre a escrivaninha no escritório. Qual deles acredita solenemente que a areia é símbolo da vida passando no gargalo do tempo?
Há toques e gestos que alimentam o amor, fá-lo florescer, fá-lo crescer, e crescer, e crescer, transbordar-se de felicidade e alegrias. Há palavras que a cada sílaba pronunciada fazem o amor tornar-se mais grande, mais grande, mais grande, semelhante aos eucaliptos no coração do sertão, sentindo ele que ultrapassará o eito celestial, que se refestelará na sombra da eternidade na hora bem-aventurada do entardecer, e na aurora criará novas conquistas a serem real-izadas.
Há momentos que se efemerizam de imediato, não deixando quaisquer vestígios de sua presença. Há outros que são assimilados pela memória, e nada há que os en-vele ou dissipe-os, são estes que alimentam a alma no prosseguimento de sua jornada na vida.
Há virtudes que tornam o homem modesto e manso como uma ovelha; com isto transformam a água em vinho delicioso. Há valores que transformam o homem no melhor animal doméstico do homem.
Há princípios que dignificam, elevam, engrandecem a liberdade e a consciência de o destino ser criação e re-criação; há princípios que alienam, destroem, a liberdade torna-se escravidão e a consciência torna-se in-consciência.
Há veredas, apesar de todas as suas sinuosidades, que levam à colina de onde se pode con-templar o panorama do vale, comer com os olhos a sua beleza e esplendor. Há veredas, apesar de não haver qualquer sinuosidade, que levam ao abismo e a sua profundidade é o destino irreversível.
Há a aurora que inicializa o dia a ser vivido com as suas con-tingências e sonhos; há o anoitecer que desperta a vontade de outro alvorecer. Há o tempo que acorda para a responsabilidade com a vida, a liberdade com os desejos e vontades do "Ser"


(**RIO DE JANEIRO**, 08 DE MAIO DE 2017)


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