**CAMINHOS-DA-ROÇA** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Trago-me para a claridade, luz-memória-vida, a luz passada à luz do há-de vir, reúno, invento o próprio Ser a partir de mim mesmo, o homem é assumir a sua ec-sistência na claridade do Ser. Reúno pela consciência as veredas passadas à luz futura, atingindo o luminoso presente, presente é presença luminosa.
Palavras, sentido e luz...
Sonhos, verbos e utopias...
Mundo cru. Desumano e selvagem. Arbitrário e insensível. Egoísta e misterioso. Individualista e hipócrita. O amor vem entre vírgulas, a utopia vem entre-vírgulas. E as vírgulas: ausências únicas de sentido? Manque-d`êtres de símbolos e sinestesias, signos e estéticas. A solidão deambula de loucura, insensatez. Louca e insensata. O silêncio caminha nas suas trilhas, caminhos-da-roça, tranquilo, sereno. A ruína é a contingência que possibilita o Ser para a claridade do si- mesmo. Mas ser quem sou. Sou o que é de mim.
Existir a liberdade de deslizar o som de palavras. Existir a liberdade de passar o pente nos cabelos, deixar a barba crescida, perscrutar a terra, o mundo com o lince do olhar. O real ec-siste em função de um eu que o concebe como tal.
A realidade apresenta-se, pres-ent-ifica-se sempre como uma imagem de uma realidade e a imaginação, a inspiração, a intuição, a visão-de-mundo e de ec-sistência ganham cada vez mais a presenticidade O indivíduo se liberta ao des-afogar sua fantasia, mas, ao mesmo tempo, .como atividade artística ,ela requer o controle a posteriori do material liberado. Sonho e realidade descrevem a lógica ilógica da ec-sistência.
Palavras são tanto a água que destrói como a água que cria, e através desta ambivalência mostra a antítese da ec-sistência e morte num só instante-limite. O tempo é colina ausente, mas aos poucos é-se possível intuir e visualizar a sua presença, a vegetação rasteira ensina a aprender e entender o que lhe habita, o que lhe circunda, empreende-se então a viagem, até aprender, alfim, no fim, a amar o que ele oferece de visão do panorama do in-finito, perscrutando-lhe e con-templando-lhe a natureza.
Talvez...
Mundo. Sítio de mergulhos. Lugar de afogados. Emerge das águas o olhar, suspendendo as imagens. Imerge no oceano o cálice de prata, o candelabro de ouro ornamentado de diamantes, ascendendo os símbolos. Sons de nudez a cobrirem a solidão. Ausências. Imergem nas águas pensamentos de não, heresias, proscrições.
Talvez...
Raiz de muitas árvores. Representar, ironia. Ironia sutil e descabida. Prefiro ver o mundo de meu jeito. Gerar a alameda para a lembrança, a lembrança que requer, exige a re-cordação que inspira, incentiva a outros caminhos-da-roça.
Interessante sentir a solidão e não estar só - talvez esteja vagando nas coisas às avessas, disperso e distante. Sou homem-desequilíbrio. Ah, quem dera tornar homem equilibrado, decidido? Simples assim: tivesse poucochito de senso.
São suspiros, sim. A dor é tanta que criei este modo de amenizá-la. Irreverente, insolente, polêmico: sou quem me fiz nas situações, circunstâncias ao longo do tempo, dos verbos que me habitam. Sou quem responde por mim, julgando, ajuizando a rigor, sou o único responsável por quem sou.
A memória, lembrada e esquecida, tergi-versada de luzes. O nada. Até mesmo. O esquecimento cirze o tempo em gritos. Desfacelados os sussurros de outrora. Falecidos sons de outrem. Se olho a letra no papel, está modificada.
Ingenuidade sem precedentes. Constituo-me no olhar que me olha, olhar de dentro, dos interstícios de minh´alma. Horas vazias tingem o quadro isolado de calor e entrega. Minutos de nada desenham estilos exilados e expulsos, linguagem exultada de erudição, estilo eivado de estar con-templando o fluxo da vida de uma perspectiva exterior, os olhos de mim que me olham, perspectiva exterior, coloco-me à margem de um rio e medito ser apenas um homem, leve-me por todos os seus percursos, aprendo a arte de ser levado pelo rio, pelas águas. Compreendo as águas que passam em mim, entendo-as. As águas nos tempos atuais, iniciadas num lamento e pranto, picadeiro, mundo, sobem no picadeiro, engolfam o público, as poltronas e vão alagar o camarim do palhaço, onde se tornam inspirações, iluminações, o que há de água, de sopro, de inocência nos recônditos da alma do palhaço. A dialética da vida e morte habitando a água, apesar dos detritos que leva, um pouco oscila na embocadura dos rios.
Lembrança. O avesso que cria o vácuo.
Testemunho-verbo que verbaliza as verbalizações re-colhidas e a-colhidas nas decisões assumidas, condutas e posturas de não, inaceitáveis, não consentidas, consciência das atitudes e ações, gestos.
Palavras, sentido e luz... Imagens entre-mentes. Imaginação entre-vozes. Sonho entre-olhos. Atenção. Perspicácia.
As vírgulas deixam explícitos rumores. Limite. Sorriso polido e exaurido. Largo as anotações. Estou apenas tentando preencher o vazio deste quarto. Viro-as um pouco, de modo que olhem para mim.
Tornei-me apenas o que olha de fora.
Não. Em dias de saudade, os olhos presentes. Perpassam gestos, atitudes, ações. Algo muito distante. Apenas representação.
Ah, liberdades alinhavando mortes... Mortos esculturais do alpendre. Estado para defender as nossas sepulturas. Nada.
Não importa ser vista de fora. Não há dentro. Nada há. Sutil, a face. Saliências a passarem rápidas. Grito. A dor alcançou-me. Preciso arrancar a minha própria voz.
Há um terreno além que, talvez, não possa trilhar. Hipocrisias e farsas.
Oh, vida de mim, esperando o nascimento...
Modificações. Letras. Se escrevo neste diário é que sou. Quem ama a curva delineada. Quem ama as sinuosidades. Na saída, sombras. A imagem grita. Delíquio. Angústia. Pensar no mesmo cessa de imediato na memória. Escrever nada é - aliás, uma atitude imbecil, desprovida de quaisquer propósito -, se não vivo as coisas, se não as realizo.
Irreverência, insolência, rebeldia...


Idéias, Pensamentos, Utopias... RAÍZES de um Vale, cujo panorama faz idealizar, fantasiar, sonhar, con-templar o "si-mesmo"


(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE MAIO DE 2017)


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