SUBLIME SUBLIMIDADE DE VERBOS* - PINTURA: Graça Fontis/PROSA POÉTICA: Manoel Ferreira Neto


Porque um "tu" é um "eu" que estamos vendo em alguém, um "eu" fugitivo, escorregadio, in-apreensível e todavia tão presente, tão aqui, que nos perturba de inquietação, des-assossego. Quem me abre a porta de ti, para eu ser tu sendo eu?
Quem me abre o verbo de teu ser, para ser eu, ser tu, sendo o espírito de nós? Que eu saiba o que pensas e sentes, o que te perpassas o íntimo, que sentimentos e emoções se te a-nunciam nos interstícios de tua alma - mas como ser tu a pensar e sentir? E como ser eu a pensar e sentir em ti?
Morrer no verão. À hora absoluta, delírio de luz. Não no outono, de monco caído. Ou no inverno, quando se está encolhido pela metade. Mesmo na primavera em que tudo está ainda para ser. À hora máxima, os olhos em chamas, mesmo fechados, a luz estrídula em todos os interstícios da vida.



O que tu, oh nostalgia?



Por que o silêncio des-folha sentimentos de mim,
Miríades de esperanças fluem de antanho a presença
De instantes, o estar-sendo de a-nunciações do que há-de vir
De sendas dos caminhos desertos, desertas
De veredas de estradas sem metafísica do horizonte,
De silvestre das florestas a estenderem o lírio de jardins distantes?



O que tu, oh nostalgia?



Por que a solidão re-colhe de versos do efêmero
As estrofes do eterno que se esvai nas bordas do tempo,
O ritmo das emoções deambulam pelos corredores vazios
Os terrenos baldios que se alongam pelas estradas do nonsense,
A musicalidade das esperanças perambulam pelos becos boêmios
Sibilando de sendo em sendo o verbo do amor des-correspondido
A melodia da fé que trans-cende a alma de des-afetos,
Vagando de perdidas ilusões do amanhã, eterno,
Encontrando nas arribas de uni-versos
O Uno do nada, o Verso do vazio?



O que tu, oh nostalgia?



Por que o nada a-colhe de poesia do "Verbo Espírito"
A chave de ouro do soneto que recita a imagem líquida do in-finito
Em fin-itudes de amor, de-compondo de palavras os sentidos,
Metáforas do além vestidas das arribas a plen-itude da beleza?






De por trás da imagem do silêncio re-fletida
No espelho do horizonte,
A perspectiva do além
Trans-elevado do espírito
Que ad-virá da carne do verbo,
Conjugado de metáforas da etern-idade,
Sinestesias de outroras gêneses do tempo...



Imagem, cujo brilho resplandecente incide
Na superfície das águas que perpassam os rios,
Na extensão do silvestre das florestas que embelezam
Os caminhos a serem trilhados à busca da plen-itude
Dos sentimentos de amar, dos sonhos de compl-etude,
Do "ser" na melodia de ideais, desejos,
Do "não-ser" nas cordas do violão
Que entoa as notas do eterno e do efêmero,
Da alma na dança musicalizada de emoções,
Trans-cendidos no ritmo de arribas,
Desde confins ao infinito de todos os uni-versos,
Cujos ventos suaves e serenos sussurram
A gênese do perene no vôo dos tempos
Nas asas de idílios, quimeras, fantasias
Do absoluto da verdade, do divino do espírito da vida
Verbalizados da travessia do amor ao eidos da essência,
Trans-elevado ao "vento, à serra, ao mar,
Subindo em crescendo a sol...", "... num lago sereno de azul e luar"...



Imagem
De por trás do horizonte
No silêncio do espelho
Que projeta alhures lembranças de sonhos alimentados
Nas nuanças do tempo...



Às vezes, sobretudo à tardinha, tenho momentos em que me sinto completamente só, a pensar, a pensar... a recordar o passado, tanto alegrias quanto tristezas, realizações quanto fracassos; tudo passa diante dos olhos, diante de mim como névoa. Surgem outra vez diante dos olhos os rostos que conheci, as palavras, às vezes ternas e sensíveis, às vezes ríspidas e insensíveis, as vozes roucas e suaves se exprimindo lenta e comedidamente (creio que vejo estes rostos, ouço estas vozes, assim desperto, quase como costumo ver os seres e as coisas, quando sonho).



(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE MARÇO DE 2017)


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