*SAUDAÇÕES A Ana Júlia Machado" - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto


Ser... sem ser
Por mais que a luz do dia ilumine a soleira de cavernas
Sem os raios do sol a entrada permanece nas trevas
Por mais que as letras preencham as linhas de páginas
Sem o sentido, signo, símbolo, metáfora,
Linguística, semântica, sintagma,
É só tinta impressa, nem palavras são.


Verbo ser
Evangelho do amor
Eterna liturgia de sendo em sendo
Crepúsculo de inverno suave, ameno
Sorrisos de orelha a orelha entre solitários
Felicidade paradoxal entre pobres e miseráveis
Quê sentimento esplendido de im-perfeição!
Quê emoção divina de in-verdade!
Quê contra-mão de angústias e mel-ancolias!


Ser... sem ser
Vidas que sonham folhas sob o olhar perdido
Nos campos de flores despetaladas do nada
Aparências, falsidades, farsas
Saudações a Ana Júlia Machado
Sem amor, afeto, amizade
Ainda que distante do verso, metáfora da perfeição
O pervagar "across the universe", "across the borderline"
Alegria,
Contentamento,
Saltitâncias.


Atrás dos raios, o sol que ilumina a essência da claridade
Atrás do ser, as pectivas-anti-pers da perfeição
Atrás do ser... sem ser, as pers-das-pectivas
Perdi o amor que sonhei póstumo, perene,
Eterno, perfeito
De luz que iluminava a escuridão dos medos
De silvestres clímaces que esplendiam a vida
Encontro o amor que desejo,
Im-perfeito,
Encontro a metáfora do in-transitivo
Efêmero,
Fugaz.


Auspícios do absoluto que envela o nada
Chama de vela que alumia a sombra do castiçal
Resplendor de "sem ser" sendo o ser à busca do amor,
Esplendor do "ser" sendo o não-ser da amizade
Na tarde ensimesmada de nuvens cinzas
Nihilificando as carências de sentimentos
Ser-sido do ser-sendo.


À Ana Júlia Machado, miríades de silêncio
Travessia do ser-além-do-sido-sendo
Nonadas às sendas e veredas do além
Glórias do eterno, plen-itudes do vis-a-vis
Perene vivenciário às esperanças da solidão
Solidão que tritura os ossos do passado
A velarem o brilho das estrelas de outrora
Ipsis litteris, ipsis verbis
Ser de re-versões, estesia
Ser de revezes, ser... sem ser
Na contingência da náusea humana.


(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE MARÇO DE 2017)


Comentários