#ODE ÀS METÁFORAS DE EXTASE E SÍMBOLOS DE ESTESIA! - Manoel Ferreira


Ode aos que arriscam
A dignidade, honra, caráter,
Alma, espírito, vida,
Outras cositas mais,
Em prol de petiscarem
Caminho de pouca distância,
Menos poeira,
Menos cansaço,
Menos raios incandescentes de sol,
Numinando as margens da estrada,
Con-templando as pressas do non-sense,
Panorama de cair o queixo de tanta beleza e resplendor,
Iluminando as dialéticas das cavernas
Dentro e enfiadas nos abismos,
Transparecendo as imagens e perspectivas
No interior das pedras das montanhas,
Para o inferno de prazeres,
Alegrias, satisfações,
Com direito puro e inalienável,
Prático e inconteste
De curtirem as chamas
E presença de todos os pecadores
De todas as laias, estirpes, raças,
Origens,
Não importando se a arte é origem
Da vida ,
Se a vida, origem da arte,
Enquanto ouvem pela eternidade
Os parágrafos e cláusulas
Do apocalipse de Mefistófeles.
Quem não arriscar,
Com efeito,
Não vai petiscar essas honras!



Ode aos que preferem
O pouco ao nada,
O pouco de inteligência
Irá permitir-lhes, até com grande eficiência,
Organizar as hipocrisias essenciais
Para o jogo das falcatruas,
Com as cartas marcadas das estratégias,
Com os naipes específicos dos instintos
De interesses de poder;
O pouco de sensibilidade
Irá garantir-lhes a certeza
De que os parceiros, companheiros, amigos
Não lhes olham de rabo de olho,
Não são capazes de perceber
Que estão sendo usados e utilizados
Em proveito próprio,
“Os fins justificam os meios”,
Dizia consciente e orgulhoso
Maquiavel,
Serão descartados assim
Que as real-izações se fizerem presentes.
“Antes pouco do que nada!”



Ode aos que dão pérolas aos porcos,
Pois que assim mostram com magia e esplendor
O egrégio senso de solidariedade e compaixão,
O excelentíssimo espírito de caridade e fé cristãs,
Desejando, assim,
Redenção dos pecados e pecadilhos,
Culpas, remorsos, responsabilidades,
Ressurreição – quem sabe até assunção ao céu!!! -,
Podendo curtir e usufruir
As belezas divinas do Paraíso Celestial,
A paz real e indescritível
No crepúsculo pálido
Da natureza trans-cendental.
E diz a Bíblia: “Não dê pérolas aos porcos!”



Ode aos matos atrás dos coelhos,
Porque são e serão esconderijos
Dos que
Com o olho esquerdo
Mandam o bem, o amor,
A compaixão, solidariedade,
A dignidade, honra, respeito,
O caráter, personalidade,
Id, ego, superego,
Às pré-fundas do inferno,
Com o olho direito
Mandam a compostura, conduta,
Princípios,
Ideais de valores e virtudes
À merda,
Esperam em estado de êxtase e euforia
As medalhas de honra ao mérito,
O banquete de Platão,
Regado de vinho do Porto,
Churrasco de carne de tatu,
Caçado a vira-lata,
Por serem livres e de visão ampla
Da vida,
Das coisas do mundo,
Ec-sistência,
Mesmo das imagens e panoramas
Do além,
Vistos sob a luz do re-nascer do sol
Nas montanhas distantes e longínquas,
Através da fresta, abertura, frincha
de janela
Semi-aberta.
“Atrás desse mato tem coelho!”



Ode aos coelhos atrás do mato,
Porque ao fim do dia,
Após correria daqui para ali,
De lá para cá,
Tentando saciar a fome,
Que lhe é peculiar e singular
À sobrevivência
Da simplicidade e humildade
De seus instintos,
Tiram uma palha,
Sonecam,
Dormem
O sono dos justos,
Dos justiceiros
Que são oposição, oponente
À realidade do espírito
Do além do bem e mal .
“Atrás desses coelhos há matos!”



Ode ao único pássaro voando,
Espontâneo, livre,
Trinando as belezas do iluminismo,
O belo das dialéticas,
O barroco da subjetividade e tragédia
Do ser e não-ser,
O romantismo da tuberculose,
A modernidade do câncer e Aids,
Corrupção, banditismo,
Do que dois pássaros voando
Sem rumo, destino,
Perdidos no tempo e espaço
Das vivências, experiências,
Vivenciários
Das buscas de êxtases e estesias
Do pleno,
Sublime,
Eterno,
Imortal,
Condenados ao olvidável,
Ao nada
Das travessias e nonadas.
“Antes um pássaro na mão do que dois voando!”



Ode aos que não olham
Os dentes
Do cavalo ganhado,
Põem nele a cela,
Freio, cabresto,
Ferram,
Vão passear pelo sertão
A fora,
Alegres, felizes, satisfeitos,
Libertam-se da sociedade,
Suciedade,
Civilização,
Ovelhas dela
Muito cedo iriam
Para a mansão de Mefistófeles.
“Cavalo ganhado não se olha os dentes!”



Ode aos que preferem
Estar com fome,
Estômago roncando à beça,
Bagos dos olhos
No mais profundo das órbitas,
Pernas tremelicando,
Sem derramarem pujantes lágrimas,
Sem reclamarem,
Sem descerem as puas
Em Deus
Por lhes darem destino
Tão triste e des-consolador,
Do que mamar nas tetas
Das propinas,
Do dinheiro público,
Dos patrimônios históricos,
Culturais,
Artísticos,
Do dinheiro dos turistas,
Das explorações e roubatinas
Comerciais.
“Quem não chora, não mama”



Ode à água mole
Que de tanto bater (dar)
Na pedra dura
Até furá-la,
Quem sabe
A pedra dura dos interesses espúrios
Seja furada,
E nos lugar deles
Haja possibilidade
De encontrar
O espírito da compaixão,
Amor,
Solidariedade,
A partilha dos bens,
A democracia das utopias,
A comunhão das necessidades
De vida,
Direitos humanos!
“Água mole em pedra dura tanto bate (dá) até que fura”



Ode aos que riem por último,
Ser-lhes-á dado tempo
Sem ponteiros, sem margens, sem pressa,
Sem minutos, segundos e horas,
Para check-up geral nos dentes,
Deixar-lhes tão brilhantes
Que iluminem as trevas
Da ignorância,
Ausência de percepção,
Intuição,
Sensibilidade
Do outro,
Para rirem melhor
Dos poderes, orgulhos,
Lisonjas,
Pré-conceitos,
Dis-criminações,
Vontades de subestimar,
Negligenciar,
Diminuir
Os valores, virtudes
Éticas e morais,
Cujas intenções foram de esconder
As incapacidades, incompetências,
Inferioridades, fracassos e frustrações,
Fugir do nada que é,
Sê-lo-á por todos os séculos,
Milênios,
Ao outro não restando
Alternativa
Senão enfiar a cabeça
No buraco de tatu,
Jamais lhe mostrando
Aos homens, ao mundo, à terra
Até à consumação dos tempos.
“Quem ri por último ri melhor”



Ode aos macacos velhos
Que se satisfazem em comer as bananas
Na terra mesma,
Aquela vaidade de subirem na galha
Mais alta das árvores,
Para curtir as delícias da banana,
Mostrar poder e sisudez,
É de tempos de outrora,
No momento, pode ter vertigens,
Caírem, morrerem
Por encontro imprevisto,
Quando poderia saber de antemão às revezes
O que é isto – morrer de morte natural?
Enfiar a mão na cumbuca
Da ousadia
Já não lhe cabe mais.
“Macaco velho não enfia a mão na cumbuca!”



Ode aos vencedores,
Realizaram os sonhos
Dos bens materiais,
Da paixão inominável,
Do amor indescritível,
A paz de espírito,
A consciência-estética-ética,
A visão-(de)-mundo
Percuciente e esplendorosa,
Pois terão tempo de sobra
Para comerem tranqüilos,
Serenos,
As batatas fritas
Com molho de catchup,
Sal, algumas pintadas
De molho de mostarda,
Acompanhadas de uma cervejinha gelada,
Um aperitivo delicioso,
Conversando com os amigos,
Cúmplices, álibis,
Capachos,
Sozinhos,
Observando as nuvens brancas e azuis no
Céu do meio dia,
No céu de estrelas e lua.
“Aos vencedores as batatas!”



Ode aos que querem
A redenção,
A ressurreição,
A perfeição de caráter,
Personalidade,
Condutas e posturas éticas,
Valores e virtudes morais,
A perfeição em tudo que fazem,
O amor, paz,
Tranqüilidade,
Serenidade,
A conta bancária bem rechonchuda,
Amigos de primeira qualidade,
Inteligência sem precedentes,
Intuição, percepção indescritíveis,
Sensibilidade e espiritualidade
De sábios e profetas,
Razão prática e pura entrelaçadas,
Comungadas, aderidas,
Advindos dos dons e talentos
Que lhes foram doados gratuitamente,
Não necessitando esforços, lutas árduas.
“Quem tudo quer tudo perde!
Ode aos que caçam
Tatu, perdiz
Com gato,
O que é manifestação de inteligência
Elevadíssima,
Pois nem a perdiz,
Nem o tatu
Reconhecem o miado
Como ameaça às suas vidas,
O resultado é bem superior
Às caças com cachorros,
Sorriem e latem para
As vítimas,
Latem e sorriem para os donos
Não têm perspicácia alguma.
“Quem não tem cão caça com gato”.



Ode aos que só
Conhecem adágios, ditos populares,
Expressões,
Para a realização de seus objetivos,
Propósitos,
Os mais ad-versos,
Construindo assim nova
Linguagem, estilo,
Para a expressão das pré-fundas
De seus desejos verdadeiros,
Escusos,
De seus interesses e ideologias.



Manoel Ferreira Neto.

(16 de abril de 2016)

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