**CORAÇÃO DE PENA E TINTAS** - Manoel Ferreira
31 de dezembro...
A cada dia as suas tintas.
Por que, então, assumir a pena de amanhã? (Manoel Ferreira Neto)
Se as esperanças de amor e paz se fazem continuamente, esperanças de
amor e paz dentro de outras esperanças de amor e paz, dentro de outras
esperanças de amor e paz, a continuidade delas construindo o “SER”,
esplendendo-lhe e elevando-lhe aos auspícios das origens e passos ao destino e
liberdades, como artificiara, contingenciara e espiritualizara a idéia da
continuidade do Ser, através da dialética do espírito e do tempo, o meu eterno
e imortal guru, o “tau” da amizade e do amor, por inter-médio do mergulho
profundo na fé cristã da espiritualidade teológica-filosófica, nas entregas e
buscas, sofrimentos e dores quotidianos, sendo o mais feliz nas suas letras e
projetos de vida e realizações, embora o garrancho de sua caligrafia – o que é
uma caligrafia difícil de ser lida, devido ao ninho de guaxo, se a idéia da
verdade está caracterizada com perfeição?, simplesmente nada, não há quem para
isso possa apresentar argumentos contrários, se houver, apresento de imediato
as minhas defesas em seu nome, argumentos tenho-os às dezenas nas mãos feitas
concha, não havendo quem possa degustar a batatinha frita, com sal e catchup,
da vitória, por mim não é crítica, apenas uma simples brincadeira carinhosa, eu
poderia fazê-lo, não ad-mito que ninguém o faça, alfim a vida nova que sonhei e
tive esperanças de vivê-la iniciou com essa idéia, há quinze anos, a cada dia
nascem outras alegrias e felicidades, a cada dia nova tinta para a pena de meu
coração -, as realizações acontecem ao longo do cotidiano, através de entregas e
árduas lutas, acompanhadas de esperanças e fé, buscadas no mergulho profundo na
vida, no íntimo do espírito, nas profundezas dos sentimentos, emoções, desejos
e vontades latentes que habitam o ser, mister é acompanhá-los de esperanças e
fé, de amor e ternura, regá-los com a água viva e cristalina da busca de novas
trilhas ao longo dos imensos caminhos do campo que se estendem aos horizontes
de todos os infinitos, olhando os longínquos espaços que necessitam ser
ocupados, preenchidos de vida, ser e não-ser, carinho, dedicação.
Sinto, penso que a vida pode ser um sonho, é um sonho, contudo as letras
não são sonhos, são pro-jetos e utopias. As letras por si só não são poesia, as
palavras não versam, não estrofam, os sentidos não transcendem, não se elevam;
moro na elasticidade, flexibilidade delas, faço guerra, causo polêmica, armo
barraco, solto os cães, rodo a baiana dentro do silêncio. A poesia corre,
brinca, faz palhaçada, pula e chora, con-templa o sonho que não é definitivo,
há uma fábula e um chão que se multiplicam, há uma lenda e um abismo que se
multifacelam, há um rito e um mito que transcendem. A dor e o gozo comprazem-se
em mim. Navego sem indiferença: o sol e a lua. Meu corpo tem movimento, os
dedos de minhas mãos performam a dança dos dígitos, ossos e carne movimentam a
cadeira de balanço. Nada de inanimar a poesia, fazer dela o estático e o
esquecido. Poesia desde a prosa à criação, poesia desde a idéia à iluminação,
desde a tese à inspiração, desde o nada de todos os tempos da história às esperanças
das circunstâncias ad-versas dos avessos re-versos, outro que não é história,
mas a-núncio de Apocalipses.
Quiçá descanse o meu coração, vislumbre o gavião e a andorinha, enquanto
não sonhe em ser águia, tampouco um belo e dourado cisne ou homem-pássaro
denunciando, sóbria e solitariamente, as ruínas da ecologia. A sombra do imenso
arvoredo à margem esquerda do rio cristalino de águas ternas e suaves cantará
tenras canções de ninar às flores, às folhas da árvore que emurchecem, caem,
são húmus de outras que ad-virão. Não haverá sopro que apague as chamas pueris
e o amor em maioridade. Reflexo e esperança, re-talhos de fantasia apenas!
Rodas infantis, canto de forte sin-fonia e sin-tonia com o uni-verso esplendido
e de vasta alegria, com o visionário infinito de nuvens e de divino êxtase.
Pensara, re-pensara inúmeras vezes, desde o amanhecer, quando fui
comprar pão e cigarro na padaria, o que faço todos os santos dias do ano, antes
das oito horas, depois do banho e das vaidades dos cremes, perfume e desodorante,
nesse itinerário muitas letras nasceram e renasceram, felizmente lidas pelos
leitores e amigos, à tarde, no botequim Pôr do Sol, registrando-as, regadas da
cerveja gelada e o aperitivo amarelo, até à noite, assistindo a filmes diversos
pela televisão, especialmente os antigos, Rastros de Ódio, John Wayne, O Grande
Território, Gregory Peck, que me legaram vários objetos de reflexão acerca do
ódio, em nada escrever nesse último dia de ano, promover-me um dia de férias,
re-festelamento na rede dos sentimentos que ante-cedem a verdade da vida e do
ser, por vezes me sinto mentalmente cansado, em conseqüência des-inspirado,
re-começando, melhor dizendo até, re-iniciando assim que a aurora do novo tempo
se re-velasse no infinito dos horizontes e uni-versos, considerando a primeira
palavra registrada, criei-a, era inédita desde a eternidade da língua e do seu
sentido, estava trans-parente em todas as dimensões sensíveis, “DESEJO...”, não
motivado e inspirado pelo inconsciente coletivo das esperanças de amor e paz de
fim de ano, esquecidas ao longo do de-curso dos meses, a-núncio de outro, mas
pela continuidade do ser ao longo do ano inteiro, do não-ser fazendo a
travessia ao ser, vice-versa, abrindo um hífen para dizer explicitamente, o que
acontece, quando sinto ser a-nunciação de verdades por virem, o tempo revelará:
“eis a primeira palavra que registro nessa manhã de primeiro dia do Ano Novo,
peço e rogo a Maria Santíssima a cada dia outros nasçam e re-nasçam lívidos,
serenos, e possa tornar-lhes reais, todas as coisas sejam re-(n)-ov-adas e
in-ov-adas, pre-cedendo-lhes esperanças e fé, a vida se torne outra, embora as
“marcas do que se foi”, sejam em termos de crescimento e amadurecimento, sejam
em termos de buscas e querências que não foram tornadas reais, ficaram
suspensas no fio tênue das circunstâncias, apesar das sombras que me acompanham
os passos, mesmo com as dúvidas e questionamentos que se tornam manifestos por
inter-médio das experiências e vivências, mesmo com as angústias e tristeza –
mais triste que a tristeza é a vida sem pro-jetos e vontades, a miséria de
estar-no-mundo - que se tornam presentes através dos medos e relutâncias de
estar diante do desconhecido.”
Lembrou-me, na verdade, na verdade, intuíra profundo que o último dia do
ano ficaria vazio nas páginas dos sonhos, desejos, sentimentos e emoções,
vontades e querências, nas linhas e entre-linhas do verbo de esperanças, da
carne de amor e utopias, nos ditos e inter-ditos dos temas e temáticas da
con-jugação do tempo em suas manifestações de encontros e des-encontros, nos
re-versos, in-versos e avessos de abertura às frestas e grimpas do verso uno de
silêncio e solidão, de incólume fechamento às luzes que esplendem através das
trevas e sombras, abrindo e a-nunciando as nuvens brancas de além,
perpassaram-me, con-templei isso e aquilo no per-curso do dia, dúvidas e
inseguranças rolaram-me dentro, solidão e desolação estiveram presentes, o que
sinto não é exterior, é íntimo, olhando e ob-servando o passado - sem esse
registro, à mercê de linguagem e estilo nascidos e re-nascidos em mim dentro –
lembrou-me até de alguém haver-me dito acerca de sua leitura: “Tudo o que é
escrito nasce de dentro de sua alma, eis porque é esplendido e maravilhoso” -,
e mesmo nas ad-jacências da razão e arribas do intelecto, nas redondezas do
cogito, no ergo das proximidades, no sum das long-itudes e distâncias, como
iria conseguir, ser possível assistir à continuidade do que se foi, avaliando,
in-vestigando as trans-formações, trans-mutações, antíteses do passado, outroras
de algemas e correntes, ontens de inseguranças e medos, teses do presente de
olhos brilhantes que vislumbram o que há-de vir, o que há-de ser, o que há-de
esplender de êxtase e volúpia, haverá-de ser na cotidianidade, não apenas do
tempo, mas também das novas experiências adquiridas, vivências que aflorarão
outros questionamentos, dos projetos alcançados, atingidos, utopias
concretizadas e suprassumidas, e dentro deles outras esperanças e fé, outros
sonhos, a vida se fazendo e re-fazendo, se constituindo outra, os uni-versos do
amor e da paz nítidos, límpidos, cristalinos, a felicidade sendo verdade, a
verdade sendo a felicidade límpida, o templo aberto e escancarado ao AMOR E PAZ
que afago com carinho e ternura, amor e dedicação, e que desejo aos amigos mais
íntimos, companheiros de estrada e vida, aos amigos que percorrem comigo as
trilhas das ilusões e quimeras, dos sonhos e utopias, desejam fortemente o
encontro do ESPÍRITO SANTO em suas relações com a vida e os homens. E mesmo aos
inimigos, insatisfeitos, ressentidos, envio-lhes a flor de cactos,
convidando-lhes a saberem de si, a saberem de tudo.
Os caminhos estão cheios de tentações, os meus pés arrastam-se nos
buracos de todas as ruas, alamedas, becos, avenidas, miséria de uma cultura,
pobreza de uma civilização, fim de uma apoteose de orgulho e bem material,
tendo até que criar performances de pisar aqui e ali, qual ator que ensaia a
sua atuação e re-presentação para o avant-premier daquilo que está escondido
dentro de sete chaves e que no íntimo a-nuncia-se o desejo da VIDA na
espiritualidade de todos os momentos em suas volúpias, êxtases, evitando atolar
meus pés nas águas sujas, na lama dentro circundada pela ilusão de ótica de
asfalto.
Todas as coisas imóveis se desenham mais nítidas no silêncio. A língua
está inerte dentro da boca, a respiração comedida na passagem dos sentimentos e
emoções, comungados à transcendência do bem e do mal, o coração pulsando forte,
esperando a a-nunciação do instante outro na proximidade do segundo etéreo e efêmero.
O vento verga as árvores, o vento clamoroso do crepúsculo, o vento que a-nuncia
a noite, a lua que ilumina a dança, a roda, a festa...
Desejo o céu! Aqui, censura-se amar a noite, gozar nas estrelas, sentir
clímaces na escuridão, conversar simplesmente sobre os orgulhos da estirpe,
vanglórias da raça, vaidades da laia, e mesmo acerca das virtudes, valores
morais e éticos da vida e ec-sistência, e assentar no passeio público de
shorts, camiseta, descalço, cigarro de palha no canto esquerda da boca – fumo
cigarro de palha só em casa, para não despertar as línguas venenosas para suas
considerações arbitrárias de diferença e excentricidade -, observar os
transeuntes perambulando por aqui e ali, vagando por lá e acolá; as musas
envidraçadas nas janelas, a perereca da vizinha presa na gaiola (o que é uma
injustiça notória e pública, por que não deixar a perereca livre para fazer
tudo o que desejar?, a morte ser-lhe-á inevitável; livre poderá divertir-se à
beça).
Desejo o céu! Recolher as palavras e levá-las sufocadas no último
ônibus, fazê-las dormir ternamente no travesseiro de algodão, em que acontecem
os sonhos mais profundos da plenitude e serenidade, acordo na aurora livre para
outras tintas em meu coração. É tarde... Épica razão in-versa dentro do relógio
da igreja central da cidade em insônia, cujas costas estão à luz da praça de
águas iluminadas, a frente voltada para as origens da civilização e seus tabus,
o princípio, RUA SANTO ANTÔNIO DA ESTRADA. Não poderia tirar um dia de lazer
das letras, que habitam o meu coração, são as frutas deliciosas que como, chupo
todas as manhãs, lábios molhados da saliva de volúpias e êxtases, língua ávida
de pronunciar única palavra que divinize as con-tingências trans-cendentes do
nada, as travessias do não-ser sejam aberturas às querências de buscas e
desejos, do ser sejam as verdades dos mistérios e enigmas da vida, embrulhando
as miríades do tudo, oásis do nada, ensacando os grãos e sementes das
perspectivas, ângulos, visões de esguelha e banda das circunstâncias da busca e
do medo de encontrar, ficam à mercê da vida que se estende desde os horizontes
do infinito aos uni-versos dos confins e arribas do olhar ao longe e à
long-itude, sedentos de amor, paz, felicidade e alegria, o sangue que nele
corre deseja, através das veias, imenso a liberdade de percurso e it-inerário,
e inerário do it, pensando, sentindo, re-pensando e re-sentindo Água Viva, de
Clarice Lispector, perpassá-las, pena e tintas mostrar-me-iam no futuro as
veredas trilhadas, as folhas soltas de minha árvore que pairam no ar leves,
levadas pela brisa suave da manhã que se a-nuncia no in-finito da terra e do
mundo - quê imagem e panorama de ser visto, memorizado e desfrutado no passar
de instantes de re-flexões, meditações, de orações em prol da felicidade e
alegrias, em nome desse pássaro de amor e paz que vislumbra a portinha de sua
gaiola aberta!, aquele pretinho que dá saltinho e outra vez pousa no galho e
canta; conheci-o no it-inerário, no inerário do it de outros sonhos e utopias
de letras cordiais, para a padaria, hoje mesmo, estava pousado no arame farpado
da cerca de terreno baldio, em cujo espaço aconteceram várias queimadas, e só
preocuparam o proprietário de pousada e moradores próximos, os bens materiais
estavam em xeque, interrompi os passos e fiquei con-templando os seus saltos -,
e outras sendo concebidas, geradas, nas suas raízes, nos interstícios da terra
o sentimento verdadeiro e forte, acompanhado das emoções das novas
des-cobertas, encontros, querências de abrir os horizontes con-templando os
versos e estrofes do soneto do infinito, decassílabo de sons e quimeras, de
bateria e angústias das sorrelfas que envelaram os medos da realidade, em
outras linguagens sensíveis e transcendentes, no re-verso das palavras o
sentido nítido de todas as ilusões, utopias, acredito mais nelas do que nas
certezas da razão e de seus in-versos, nas ad-jacências do avesso de minhas
perguntas insolentes, de meus questionamentos à luz do inferno das meiguices,
de minhas respostas à luz das mentiras, fugas, justificativas, que me escondem
a luminosidade e numinosidade de meu dia de amanhã, do panorama de meu querido
e estimado sertão, das pers-pectivas de suas utopias cristãs, da correnteza do
Riacho Fundo passando, soube que se transbordou, felizmente não causou
tragédias, levando a flor de meu ser que floriu nos primeiros instantes da
aurora, prolongou-se por horas linda e cheirosa, quando um belga entoou o seu
cântico à natureza, à divinidade da vida.
01 de janeiro...
“Será apenas mais um dia de esperanças e alegrias de um calendário? Um
dia que a vida passa, passa, e não se consegue segurar? Mais um dia de emoções
batidas, lembranças de decepções, mágoas e revoltas? Mais um dia do inexorável
tempo que passa tampando e tudo arrastando?
Mais um dia de dores, seqüestros, petróleos perdidos na baía? Mais um
chato dia de chuva, frio e ventania? Frio na alma e não se pode sair, sair de
si, passear, andar, virar outra sem dores, mágoas, pensamentos depressivos,
tristes?
Não, não serão agora dias pesados como os que foram, serão gritos de
alegria, muita alegria, gritos de festa, de recomeço no Ano Novo. Gritos de
libertação, mudança, viver de novo o querido e lindo dia e encher de festas as
noites. A riqueza virá trazendo tudo de bom. Deus dará felicidade, alegria, paz
no novo dia e ano. Esperanças mil de ano novo, o que passou passou, os restos
viraram cinza, viraram pó. Só restaram a alegria, a coragem de recomeçar,
“inicializar as origens do nascimento e a continuidade da vida.”
Guerreira do dia da vida, dos amores, ganhadora das coisas que
desabrocharão e farão do novo ano esperanças de vida plena e sadia, ”dos novos
sonhos e poesia o espírito do ser, a síntese da esperança e do amor de novos
sentimentos e emoções na sinfonia da magia e da verdade”. Amo, amo, amo o novo
dia. Feliz, feliz Ano Novo?”
Desejo – eis aqui a palavra singular do primeiro dia do novo ano,
sentida no mais profundo do espírito, ad-mirando-me sobremodo por transcender
os sentidos contingentes que lhe atribuí no cotidiano das circunstâncias, dos verbos
que me habitam, ansiando por se tornarem carne, que começa chovendo, clima
agradável, continua até agora às dez e cinqüenta dois da manhã, prometendo
prosseguir por todo o dia, ouvindo Stand by me, inter-pretada por Lennon, que,
aliás, à meia noite, antes, minutos antes, ouvíramos músicas românticas
italianas e francesas, horário da passagem do ano, tomando champagne com a
doce-companheira-e-esposa, não o tradicional espumante, custa onze mil reais a
garrafa, se tivesse esse dinheiro todo, teríamos ido passar o Ano Novo em
Pitibiriba; ceando, ouvimo-la, impossível elencar tudo o que me habitou nesse
instante, o agradecimento e consideração espirituais por ela haver semeado em
mim, com seu amor, dedicação, ternura e carinho, as sementes de outras realizações
e felicidades, estar ora desfrutando, curtindo verdadeiramente o outro que é
manifesto, posso olhar à distância e saber para onde estou indo, o que estou
construindo, diria que meu espírito alçou vôo profundo por todos os cantos do
mundo e uni-verso, amor e ternura no peito, segurança e confiança, amar, ser
amado por ela, pelos íntimos de minha família de consideração, abriram-me as
janelas de frente ao infinito, suas asas de penas alvas movimentando-se livres
e espontâneas, tecendo imagens vivas e brilhantes no percurso, ouvindo as
palavras ditas e expressas pela humanidade, assistindo às comemorações de
passagem de ano, queima de fogos de artifício, sorrisos e alegrias várias,
faces esplendendo de esperanças e sonhos, no peito, coração pulsando, o ser se
mostrando límpido, transparente, sendo objetivos e projetos a cada anoitecer
sentir bem profundo que mais um desejo foi tornado real, felicidade e alegrias
perpassando todas as dimensões da sensibilidade, ser, espiritualidade, sendo a
verdade inconteste do coração de ano novo – neste ano melodias de letras no meu
coração, compostas de sensíveis notas das experiências e vivências, ritmos
criados a partir dos pequenos acontecimentos, problemas e sofrimentos, que
nasceram e re-nasceram de ilusões da verdade, daquela querência trazida, desde
a eternidade, desde a gênese do tempo, por inter-médio dela a vida se re-velar
outra, o outro de mim perpassar a minha linguagem e estilo, o que neles se
manifesta indizível, inexpressável, inaudito, trans-cender a mera cotidianidade
da forma e do conteúdo, seja através de metáforas ou símbolos, aliterações da
verdade e veracidade do verbo vero; notas de sombras passadas que regam as
sementes que encontro nas andanças por veredas ao longo dos passos, que abrem
esperanças do nascimento e da continuidade na vida, líricas de sentidos e
significações, compostos de sentimentos de paz, de emoções de entregas às
re-flexões do finito e da in-finitude, em cujos alicerces de verdades
incontestes das travessias do não-ser ao ser nas veredas do sertão, vice-versa,
me inspiro em todos os instantes solitários em que mergulho em mim em busca de
alimentos espirituais que saciem a fome secular e milenar, a sede de águas
cristalinas, quero a pena registrando com sua tinta as ilusões, quimeras,
fantasias do amor pleno e absoluto, a fé que afaga o coração na pujança de suas
pulsações, quando as dores e sofrimentos são inúmeros e indescritíveis em
gestos e palavras, inseguranças, medos, indecisões, quando o tempo vai
passando, deixando no coração a inércia da pena, a tinta ávida de prosseguir
sua jornada de impressão na página branca, deixando as suas marcas indeléveis,
deixando seus traços e rastros de amor pela vida, pela humanidade.
É um dia de domingo, tudo tem a face, a característica, a fisionomia
dele. É um dia de domingo, o tempo ensimesmado em decorrência da chuva que caiu
de madrugada, parece com os olhos dele. É um dia de domingo, o peru assado no
forno assemelha-se com ele. È um dia de domingo, a garrafa vazia de champagne
sobre a pia tem a cara dele. É um dia de domingo, a doce-companheira-e-esposa
prepara o café da manhã, tudo tem a sensibilidade e espiritualidade dela. É um
dia de domingo, a cidade (cansada) da correria de fim de ano descansa nele. É
um dia de domingo, o céu plúmbeo brinca com ele. É um dia de domingo, o sino da
igreja apenas está nele. É um dia de domingo, a esperança e o amor buscam
incansavelmente a paz ao longo dos dias e meses que se passarão, ficarão para
trás, cumprindo não olhar, cumprindo seguir em frente. È um dia de domingo,
primeiro dia do ano, dia da Confraternização Universal.
Instantes solitários,
Travessias do não-ser ao ser
Veredas do ser ao não-ser,
Descampados do sertão.
Abrem esperanças de origens,
Sementes, nascimento,
Em aliterações da verdade e veracidade
Do verbo vero,
Eufemismos do coronelismo à luz
Da comunhão espiritual ainda que tardia dos homens,
Prolongamento do “ver”
Na bonanza do inter-dito nas letras dito,
Do dito nas entre-linhas das palavras expressas;
Líricas de águas cristalinas,
Na continuidade da vida,
Em gestos e palavras,
Ações e atitudes,
Compostos de sentimentos de paz,
Da aurora ao crepúsculo,
Emoções outras compõem
As notas ávidas de ritmos e musicalidade
De entregas e re-flexões das verdades
Que espiritualizam os alicerces do amor
E esperança de re-nascimento,
Re-fazenda do ser;
Querências de buscas e desejos
Não são sonhos, são utopias,
Melodias de letras no meu coração,
Que alçam vôos profundos
Nos versos e estrofes da verdade
E do ser nas asas abertas,
Pairando nos horizontes do vento
As esperanças da continuidade da vida e espírito,
Liberdade de per-curso e it-inerário,
No it do inerário notas cadenciadas de quimeras e utopias,
Nos uni-versos do silêncio,
Das águas cristalinas,
Compor os verbos do novo amanhecer,
Na aurora de novo tempo,
Do homem que planta a semente,
Rega-a de água cristalina,
Para saciar sua sede
De felicidade e alegria.
Desejo nesse novo ano que ora inicia compor a música de meu coração de
pena e tintas, e que ela seja uma re-presentação de Skyline Pigeon, de Elton
John, nos bastidores de Stand by me, a lírica de meu ser na continuidade dos
instantes, versos e estrofes do quotidiano de buscas e desejos, não apenas da
vida e espírito, mas também da essência do corpo e dos ossos na continuidade do
tempo e suas intempéries, de meus simples olhares às efemeridades e fugacidades
do presente feito de interesses e ideologias, de meus ouvidos ouvindo os
cânticos de glória ad-vindos dos horizontes de uni-versos infinitos, que são
estercos de outras pré-senças de paraísos terrestres e con-tingentes. Desejo
aquele sorriso esplendoroso e magnífico de meus leitores-amigos,
amigos-leitores, quando lhes entrego a nova edição, dizendo, como uma amiga
paulistana,“as suas letras tocam o mais profundo da alma, faz a gente buscar a
sensibilidade dos sonhos, os sonhos da sensibilidade, da espiritualidade, da
carne tornada verbos do amor e da paz”, que suas vidas seguem as veredas de
suas utopias, sentem-se alegres e esperançosos da verdade e amor puros,
singelos, serão outros com as sementes que planto em seus corações sedentos e
esfomeados de fantasias, de outros alvoreceres. Desejo desfazer as mãos em
concha, que real-izei em prol de con-templar as coisas, que nelas coloquei, das
alegrias e questionamentos, indagações, perguntas, sentindo forte e pré-sente
que se fazia mister andar o caminho sem margens, estar aberto e exposto à
amplitude e infinitude do quotidiano livre do sim e não, doando-lhes como
sementes de outras realidades, de outras verdades. Desejo que as pessoas percam
o sentido, as coisas percam o sentido, os gestos percam o sentido, o passado
perca o sentido, o presente perca o sentido, o futuro perca o sentido, o
sentido (tudo ou nada) perca o sentido. O amor no seio de todas as coisas, o
som rock ou clássico na imensidão delas, a busca de Cristo na confraternização
delas.
02 de janeiro...
Andar o único caminho sem margens...
Não é fácil ficar sem metáforas, é ficar sem água no deserto real, aos
raios incandescentes do sol, alfim elas cobrem e en-velam as incapacidades de
dizer de modo nítido e transparente o que habita as dimensões con-tingentes da
alma, o que perpassa a veia, quando o sangue nela corre e segue o seu
itinerário, o que na retina dos olhos observa as perspectivas das buscas do
belo por inter-médio de todas as mazelas da vida.
Julguem-me ilusionista, o que isto importa? - ilusório, um reflexo de
nada, até mesmo um reflexo baço de uma cericória, como desejam alguns que seja
assim, a realidade seja inconteste, a verdade seja divina, o sentido dela seja
ab-soluto, não suscite questionamentos, desconfianças, por mais absurda seja
esta idéia, por mais verdadeira, questionável, merecedora de pequena atenção,
sem fervores nem ardores, não merecedora de qualquer observação, mas, podendo
afiançar e asseverar que a ilusão, o nada consomem a ilusão e o nada, a
cericória consome o reflexo baço, por mais que o contra-senso se revele, de
imediato, diante de afirmação até sem sentido algum, “a ilusão e o nada
consomem a ilusão e o nada”, havendo sim sentido envelado, as palavras amam
ocultar-se e revelar-se, mas nas entrelinhas, deixe-me dizer logo, antes que
efemerize no tempo, há coelho atrás do mato, há outras perspectivas e ângulos a
serem intuídos e vislumbrados, des-lumbrados e a-lumbrados; isto querendo
significar o caminho sem margens continua sendo virgem, puro, inocente e
ingênuo, sob os pés, sob a imaginação das mãos, dos dedos performando os
caminhos do ser, sob a razão da cabeça, quanto mais o meu coração de pena e
tintas deseja abrir os uni-versos de palavras e ritmos, mais notas se a-nunciam
dentro em si, quanto mais ando, tenho de andar mais ainda, sem andar sou é
nada, ser alguma cosita quantas léguas se fazem mister pisar? Para chegar a
essas letras aqui registradas nesse início de ano e de outros olhares às
sementes da vida e de suas luzes de amor, andei por cinqüenta anos,
engatinhando, tropeçando, arrastando, seguindo em frente, caindo, levantando,
acreditando, desacreditando, perdido e confuso diante das discriminações,
pré-conceitos, invejas e despeitos dos que nada são e ostentam valores
insofismáveis, sendo, aliás, agora em janeiro, aniversário das letras, meio
século, merecedor de ser comemorado, sem champagne, sem entre-vistas
concedidas, com outras letras trazidas da essência de meu coração.
Desejo a folha em branco deixar de ser branca – olhei sobre a mesa da
sala de estar uma folha em branco, minutos antes da meia-noite, ouvia Zingara,
passara a mão direita na face esquerda de minha doce-companheira-e-esposa,
sorri, beijei-a na boca, senti o gosto de sua língua molhada da saliva,
engoli-a, senti-lhe profundo no corpo – deixará de ser branca, em homenagem à
prosa-poética; dela, a mensagem e a palavra – a vida. A folha em branca
fotografará a paisagem sertaneja e os mistérios da fecunda fé em Deus, a força
viva da criação. A gota de orvalho expandir-se-á no silêncio contemplativo da
folha em branco – prosa poética.
Vai passando a noite, vai passando o luar, vai chegando a madrugada,
madrugada despertar. Despertar e trabalhar e pedir ao Salvador: Senhor do meu
sertão, Oh, Senhor do meu sertão, molhai esse chão sem vida, para os homens
plantarem e colherem bons frutos, espalhando a gratidão, divulgando louvores e
glórias.
Meia-noite! O mundo inteiro sonha com a paz, renova as esperanças de
realizá-la. Nas montanhas, pairam-se os ecos desesperados da humanidade. A lua
perde um pouco do brilho milenar, as águas fixam-se inertes. As estrelas,
brilhando no infinito do céu, despertam o esplendor e maravilha da metafísica
da gênese da felicidade, da dialética do ser e da continuidade na busca
incessante do amor e da felicidade, que brilha no ar, como a gota d’água que
descobre no ar os oxigênios que entram e penetram no pulmão.
Poesia, uma simplicidade cheia de segredos. O poeta faz da arte um
emblema que roga outros amanheceres, outros crepúsculos, não se arrepende de
ser o que é, não se orgulha de estar sempre à busca, por vezes encontrar, por
vezes des-encontrar. Sou a procura da solidão, do silêncio, de sua ópera mágica
e misteriosa, performado de espetáculo musical como o era na era áurea do
cinema, a oitava maravilha do mundo, o deserto vai imenso dentro de mim. Minha
existência, em corpo e alma, universalmente, fortalece o meu grito,
simbolizando mil segredos distantes de mim.
Chove torrencialmente no instante presente. Enxurradas rindo
carnavalescamente da fraqueza do estado das coisas, da força do estado de
calamidade pública, da sensibilidade dos miseráveis que choram compulsivamente
por elas levarem o que conseguiram construir e adquirir com tanta dificuldade.
A pequena flor do pé de tamarindo por um triz. De repente, quebra-se, tenta
resistir e cai, vai teimosamente arrastada; agiganta-se em vão.
Serei o amante eterno do amor, nesse ano que ora se inicia, e não me
limito na liberdade dele. Percorrerei a cidade sem celebridade, mas tenho o
infinito para alcançá-la. Meu passado brinca nos campos silvestres; quê verdes
ramos, quê vaga-lumes, quê inocência, quê saudade! O rio de águas límpidas
silencia-se, ao cair da tarde nublada. Não terei a pretensão nem o mistério de
ser o que sou perante a estrela – invariavelmente fixa no céu. Desejo fazer
sorrir o coração infinito da paz, do amor e da esperança. Percorrer as curvas
da plenitude, oferecendo um livro novo e um dom transcendental: viver por outra
vida.
Acordei nessa manhã chuvosa des-abraçando o in-finito, com o meu olhar
varando a distância e a minha inspiração reluzindo, no céu, um vasto horizonte.
Desejo fazer sorrir o coração infinito da paz, do amor e da esperança. No meu
coração de pena e tintas ec-sistirão novas alegrias, sentir-me-ei feliz por
haver nele des-coberto o imenso paraíso do amor e esperança. A luz de cada
aurora criará imagens na memória e no meu ser, pousará reflexos em todas as
madrugadas, cintilará à solidão dos mares o meu coração de pena e tintas.
Manoel Ferreira Neto.
(13 de abril de 2016)
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