COMENTÁRIO DA SECRETÁRIA, ESCRITORA E POETISA ANA JÚLIA MACHADO AO POEMA /**SERENA É A ILUSÃO**/


SERENA É A ILUSÃO
Manoel Ferreira Neto.

Ilusões concebem esperanças. E esperanças sensivelmente concebem decepções. A dimensão da expectativa é directamente harmonioso ao do tombo. Esperanças sempre abrangem seres. E estes, invulgarmente praticam ou mesmo pretendem, precisamente o que aguardamos delas. Ilusões alimentam adulteradas alentas e, muitas ocasiões, extensos e improfícuos tempos de aguarda.
Elejo Demarcar meus sonhos de minhas ilusões. Não é acessível. A arca de sonhos estacou mais ou menos do mesmo volume da de ilusões. Mas eu não quero mais assimilar somente com meus desacertos, logo rejeito-me a alimentar esperanças. Agito a arca dos sonhos e enxergo que eles deveras só subordinam-se a mim para serem executados. E é neles que eu centro-me, aplicar meu tempo, meu coração, minha labuta.
As ilusões, apartei. Mas não deitei a arca para longe, larguei-a arrecadada em algum repositório secreto somente a meu conseguimento. Daqui a uns anos vou revolve-la. Quiçá possua algum facto que seria sonho e eu baralhei com ilusão pondo-a- na arca engatada. Mas igualmente, não vou desperdiçar meu tempo ou minhas noitadas de descanso com isso. Só o tempo me verbalizará se consistia correcta ou desacertada.
Alguém verbalizou: "Iluda-se menos, viva mais." E eu profiro: "Sonha mais, execute muito". Afinal, "ninguém nunca proferiu que a existência seria simples, meramente que ela mereceria a pena viver…por vezes, até disso duvido"…..
A intelecção absoluta das realidades mora serena em Si própria, intangível...e enxerga os entendimentos transitarem, as representações cursarem, as acções cursarem, os pareceres cursarem... não permanece reconhecimento...
O que continua é aquilo que eternamente foi e será...intelecção absoluta...
Tudo o mais na vida são sonhos...
São ilusões,
São fantasias...
São noções..somente...

E como profere o grande escritor Manoel:
Serena é a ilusão,
Sobre real precipício,
Tudo são horas e antigamentes
Além de.
Tudo são aqui-e-agoras
Pois é….afinal o que é sereno??? A ilusão que com certeza é um sorvedouro?
Um sonho que foi bonito, mas não se realizou???
Algumas realidades da vida dependem do ser….mas, muitas ele não consegue impedir que o desaire se dê…..
A vida é serena em alguns momentos….outros um inferno…..

Ana Júlia Machado



**SERENA É A ILUSÃO**



Serena é a ilusão,
Sobre ec-sistente abismo,
Tudo são horas e outroras
Além de.
Tudo são aqui-e-agoras
Aquém de.
As re-versas veredas,
Os in-versos e avessos caminhos,
As sin-uosas trilhas,
Tudo são sons de silêncio
e de solidão.
Tudo são
Silêncios e solidões
De sentidos,
Símbolos,
Signos.



Há fogo, há chamas
de quimeras e fantasias,
do gostinho de confins
nas arribas do instante,
no esquecimento voluntário.



Serena é a ilusão,
Mal refletida na superfície lisa
De todos os espelhos,
Em multidão de imagens,
Perspectivas, ângulos,
De retinas e íris,
De arco e flecha,
Traída pelos verbos de meus
Ossos e carne,
Re-versada pelos sonhos
De minhas veias e sangue,
Pré-(s)-sentindo gastar um quanto
De minhas carências e urgências:
Poderei ser rio,
poderei ser água límpida,
Poderei ser floresta silvestre,
Poderei ser verbo de sonhos,
Além de,
Poderei ser sonhos nos verbos
De meu ser
Atrás todos os desvarios
E devaneios,
Atrás ruas, alamedas,
Becos e avenidas,
Poderei ser abismos e crateras,
Poderei ser as asas das palavras,
Poderei ser o espírito de minhas imaginações
Em sinuosas trilhas,
Em tortuosas veredas,
Poderei ser,
Ouvir-me ser atrás de mim,
Ver-me sendo na
Imagem re-fletida de soslaio,
No espelho de milhares
De verdades e in-verdades,
Sublimes são as palavras,
Poderei ouvir-me sendo
No canto dos pintassilgos,
Dos chapinhas.



Serena é a ilusão,
Ilusão de saber,
De con-templar
No longínquo do sertão,
Os campos abertos ao infinito,
De conhecer os segredos,
Mágias das palavras,
De sentidos,
Signos.



Rios nascem,
Serena é a ilusão,
Toda a vida re-nasce, resplandece,
Dou, ao mar, às águas,
A alma sentida de todos os versos
E re-versos,
Os sentimentos de antanho.
Serena é a ilusão,
As esperanças do que há-de vir,
Há-de ser,
No severo exercício de traçar
Em linhas,
Os horizontes das palavras,
Os sentidos do coração,
O sensível da alma,
No espírito de outros momentos,
De novos amores,
De nova fé e esperanças,
Os vôos rasantes de meus olhos e asas
por todos
Os uni-versos.



Manoel Ferreira Neto.

(21 de abril de 2016)

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