COMENTÁRIO DA ESCRITORA E POETISA ANA JÚLIA MACHADO AO TEXTO /**DOMINGO**/


DOMINGO.
Manoel Ferreira Neto.



Nostalgia
Eternamente na minha existência fui à busca
De um ser que me colocasse o que distintos
Acontecimentos nunca advieram aptas de me legar.
A pesquisa foi demorada, quando já deixando
As expectativas de ímpeto, no meu itinerário
Surgiu o tal ser, uma companheira que
Sempre esteve do meu lado,
Mas que inicialmente não passava de uma mera afeição,
Desde então algo me conduziu a observá-la de outra forma,
E fui retribuído...
Por fim, permanecemos, adoramo-nos muito.
Ela me concedeu o que alguém conseguira conceder-me na vida...
Júbilo no meu coração.
Admito que foi uma alienação,
A chama da exaltação flagrava entre nós como jamais abrasou.
De ímpeto sem mais nem menos,
O termo de tudo, sem elucidações, sem fundamentos, deixei-a,
Eu, bem-querendo como jamais bem-queri, tudo porque,
Ela conseguiu-me me conceder ternura,
Querença, e tudo de uma feição muito relevante.
Até hoje combato para olvidar,
Um bem-querer que permaneceu quiçá apenas pra mim,
Mas que destacou excessivamente e me abandonou assim.
Instalei sensibilidades ademais em meu observar
E ele veio a transbordar doces gotas
A saltar em um precipício momentâneo e sisudo...
Nostalgia é a contrapartida que se remunera por habitar instantes inolvidáveis!
Sumi-me dentro de mim
Pois eu era dédalo
E presentemente, quando me experimento
É com nostalgia de mim.



Ana Júlia Machado



**DOMINGO**



Ausência... Silêncio... Distância...
Domingo de lembranças de instantes felizes: "Isto é ficção ou realidade?", "Não é ficção. Sou mesmo divorciado", momentos alegres: "Quero lhe dar asas para voar. Quero vê-lo sempre sorrindo. Vou lhe fazer muito feliz." Palavras eivando os sentimentos, preenchendo as carências de carinho, ternura.
Domingo solitário. Domingo de só emoções, sentimentos, sensações. Arranco palavras da pena, a tinta arrasta-se na linha da cadernetinha, não percebo representações, metáforas, sentidos. Baratujas apenas. Tirá-la de mim dentro, passar-lhe o braço no pescoço, a conversa acompanhada de carícias, ósculos, ternuras, pulsando o coração ardentemente. Diá-logo íntimo, no âmago da alma a saudade sonetiza versos e estrofes na solene expectativa da chamada no bate-papo. A espera. A inquietude. A ansiedade. Escrevesse, amenizaria a dor que não se cala, nada consigo dizer. Palavras carecem de sentimentos, do amor para re-velarem o espírito do verbo. O verbo carece de amor para expressar o espírito do sonho. O espírito carece da palavra-verbo para exprimir o amor. Tudo isso alçaria voo da entrega sem limites, êxtase, clímax, gozo. O tempo passando, vendo-se-lhe escorrer entre os dedos de ambas as mãos, prazer. Agora perpassa-me uma recordação: "Você é incisivo no que diz, a verdade de sua alma, mas carente de amor verdadeiro." Sem titubear, haver qualquer dúvida, a coragem de assumir: "Você mata a sede de minha compl-etude, mata a sede da minha felicidade."
Domingo solitário. Alguns dizem a saudade alimenta o desejo do encontro, havendo encontro a pers do amor des-abrocha a flor diva do afeto e carinho, tudo são volúpias, tudo são volos do enamoramento. A inquietude enorme, o sussurro, o murmúrio, o cochicho: "Você já está sentindo minha falta, se me ausento um instante, mas, meu amor, estou sempre junto de você, ao seu lado, pela vida a fora estarei de braços dados com você."
A inquietude crescendo, a ansiedade aumentando, nada do encontro. Sair, andar, entrar e sair de ruas, passar o tempo, divagar, deambular, perambular, gastar a sola do sapato, na mente, na alma o verbo do amor, o amor-gerúndio, amor-particípio, amor-infinitivo. Quem sabe agora, retornando a casa, haja mensagem no bate-papo dizendo "Ai, amor, que saudade de você. Preguicinha de sair da cama, dormi muito, chovendo aqui. Estou aqui para você. Vamos passar a noite juntos." Apresso os passos, passos longos.
Já é noite. A noite é uma criança.



Manoel Ferreira Neto.

(27 de abril de 2016)

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