**DIS-CURSO POR OCASIÃO DO RECEBIMENTO DO CERTIFICADO DE POETA DO MÊS DE ABRIL - GRUPO FRAGMENTOS E POESIAS** - Manoel Ferreira



Sorrelfas do desejo manuseando o barro, inspirando o sonho da vida, em cujos interstícios mais recônditos a presença das dimensões contingenciais, a pedra de toque do Não-Ser, a pedra angular da Liberdade, a abertura solene às labutas por ultrapassar os instantes-limites das angústias, das náuseas, dos absurdos, por trans-cender e suprassumir dogmas e preceitos dos valores eternos que não andam no sapato do tempo, não se re-novam, não re-nascem, não são travessias, não são ideais e idéias para o "novo homem", não são o verbo das flores a exalarem o perfume das esperanças...
Ou esta solidão, sem supérfluos, ou a tempestade do amor, nada mais me interessa no mundo. Não terei esquecido nada? Acho que não. Sigo o dia, como de costume, diante do barro a tornar vida, este dia suntuoso sob a luz de sol escaldante, que trabalha, delineia, burila matéria da utopia. O céu e as águas do rio não acabam mais. Nele, como a tristeza está bem acompanhada!
Pela primeira vez, um horizonte à altura de uma respiração de homem, um espaço tão grande quanto sua audácia. Sempre estive dilacerado entre o meu apetite pelos seres, a vaidade da agitação e o desejo de me tornar igual aos mares de esquecimento, aos silêncios desmedidos, que são como o encantamento da morte.
Tenho o gosto das vaidades do mundo, dos meus semelhantes, dos rostos, mas, fora do meu tempo, tenho uma regra própria que é o mar e tudo neste mundo que se lhe assemelha. Ó suavidade das noites, em que todas as estradas oscilam e deslizam por cima dos mastros, e esse silêncio em mim, esse silêncio, alfim, que me liberta de tudo.
A vida é a nível do chão e seriam necessários muitos anos para a ela integrar-se.

Manoel Ferreira Neto.

(17 de abril de 2016)

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