UMA HOMENAGEM A POULOU(JEAN-PAUL SARTRE) - 21 de junho de 1905 - 15 de abril de 1980 - Manoel Ferreira


Estava sentado num degrau da escada do corredor das salas de aula da Faculdade de Letras, esperava o professor chegar. Mário Carlos, professor de História Medieval, aproximou-se de mim, dizendo: "Manoel, você sabia que Sartre morreu em Paris hoje". "Mário, estou com a macaca hoje, não comece a tirar sarro!" ´"É sério, Manoel... Morreu mesmo!" Senti a seriedade da informação.
Teria aula de Teoria da Literatura I.Teria de entregar um trabalho. Deixei o trabalho com Vera Lúcia, minha colega, e fui para o ponto de ônibus. Sartre morreu. O autor de A Náusea. Era a minha paixão este livro, lera até então não sei quantas vezes desde 1975. As obras lidas perpassavam-me a mente. A frase-chave de A Náusea nítida e perfeita na mente: "Todo ente nasce sem razão, prolonga-se por fraqueza e morre por encontro imprevisto". Lia as obras dele imaginando-o em seu escritório, a mesa entupigaitada de folhas de papel, às vezes escrevendo num café parisiense. E aquele sonho irreversível mesmo de ser tão famoso como escritor como Sartre. Terminado o curso de Letras, faria Filosofia.
O ônibus para o centro de Belo Horizonte parou no ponto, entrei. E Sartre morreu. O irreverente filósofo existencialista morreu. Fora sim o grande filósofo do século XX, junto com Heidegger evidentemente. Imagino como estarão as ruas de Paris quando o féretro passar.
Olhando através da janela do ônibus, lembrei-me de um fato. Não me lembrava como a obra de Jean Genet chegara às mãos de Sartre. Sartre lera e ficara vislumbrado. Nossa Senhora das Flores - se não me faltava a memória do título - era a "obra" para Sartre. Genet estava preso. Sartre odiava De Gaulle, verdadeiro ódio, ódio congênito. Mas De Gaulle havia dito que o que Sartre precisasse era só comunicar-se com ele. Sartre não perdeu tempo. Arrumou os seus modos de entrar em contato com De Gaulle. O pedido era que soltasse Jean Genet. E o pedido foi atendido por De Gaulle. Jean Genet foi libertado. Nossa... Um grande homem. Não pensava mesmo em si próprio. Sempre nos outros. Pedir ao Presidente da República para libertar um preso só porque estava vislumbrado com a sua obra. Isso é que é ser um homem digno, honrado, um grande escritor.
E Sartre acabava de falecer em Paris.
Trinta e seis anos hoje, 15 de abril de 2016, do falecimento de Sartre. Os anos foram passando, os sonhos das letras aumentando, e Sartre sempre na mochila nas minhas costas. Cada um é cada um. Realizei e estou realizando as letras, reconhecido. Por vezes, sinto aquela dorzinha no peito: "E se Sartre fosse vivo? Encontrar-me com ele num café parisiense e conversarmos cara a cara sobre nossas vidas literárias." Aqui estou com o meu grande mestre, escrevendo esta pequena homenagem para ele.
Muitas saudades, querido Mestre!



Manoel Ferreira Neto.

(15 de abril de 2016)

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