#TEMPO CONDICIONAL DE CON-JUGAÇÕES NAS LINHAS ILIMITADAS DOS CONFINS E ARRIBAS# - Manoel Ferreira


Nas linhas ilimitadas dos confins e arribas, no sertão mineiro de conjugações cristãs, nas utopias de con-jugações da fé e do místico, “seria” que ou não “seria” que houvesse possibilidades as mais di-versas possíveis, a perderem de vista, a vista embaralhar-se ou ofuscar-se de tantas, pro-jeto ou utopia no sonho de outros uni-versos e infinitos, ainda que mui remotos, ainda que in-ec-sistentes ou extintas, desde a Tirania dos anos 60 e subseqüentes, primevos nas luzes poucas que iluminam as trevas dos barrocos “abajures” do passado nas trevas da Idade Média, paixões e amores ilimitados nas sinuosidades do Romantismo, objetividade aparente e sutil nas malhas do Realismo, primitivos à luz das presentes sombras da Modernidade, de por linhas ilimitadas nos seus contornos, por idéias sem arribas, entre os raios que movimentam o oco do vácuo, por que não um paradoxo surrealista?, ainda que iluminadas e numinadas por intenções de escusas seriedades, sinceras in-verdades sem fronteiras, propósitos ambíguos e cínicos, contraditórios e sarcásticos, irônicos e dialéticos, brincar com esse tempo condicional do verbo “ser”, futuro do pretérito do subjuntivo, id-ent-ificando-lhe para enfatizar-lhe as perspectivas da essência, vencendo a morte, portanto alcançando o eterno – não esquecendo de que quem vive na essência não se prende a nenhuma hipocrisia, olha-a e escarnece dela não apenas por inter-médio dos olhares, mas através de todas as palavras no riste da língua afiada, penetrando nos brios transluzentes, arrancando-lhes de dentro, mostrando-lhes o lodo, reconhecido e aclamado como Patrimônio Intimo do Orgulho e da Lisonja.
Das sombras que residem em suas bordas e alforjes, cogitos e algibeiras, aprecio-lhe, sobremodo, por pensar, sentir ser erudito, emocionar ser clássico, o que mais amo fazer, a erudição ilumina o que há de inconsciência no espírito de desejos latentes e manifestos, jamais esperando por isso ser sábio, pois que me livra incondicionalmente da baixaria da Modernidade, despautério de suas intenções de ser luz, de ser princípio de outros verbos e versos no imaginário da humanidade, de ser verdade no tabernáculo das esperanças e sonhos, senáculo olímpico de toda a mesquinharia de suas idéias e projetos, discursos empolados eivados de incólume poder e des-enfreada insanidade, no pináculo das vulgaridades do caráter e das personalidades mesquinhas; quê tempo estranho e esquisito este, comungando tabernáculo e senáculo!
Esperaram com o coração nas mãos feitas concha que a Modernidade desse as respostas a todas as coisas, mas não dera alguma, o que fizera foi ainda mais aumentar os questionamentos, confundir os alhos com os bugalhos, noutra linguagem, bagunçar o coreto das necessidades e ausências, da falta do ser e do ser insuflado de in-verdades e ideologias vãs, do aqui-e-agora, mediocridade do porvir e do vir-a-ser, não que conheço a fundo as suas estratégias de construção no que tange aos questionamentos do efêmero e eterno, valores e virtudes da verdade transparente, construindo idéias com as palavras, criando utopias com os sentidos, fé e esperança com a continuidade do “Ser” que se faz continuamente, uma verdade que em mim vive e que dela não consigo, mesmo que fizesse todos os esforços possíveis, os impossíveis não fossem esforços, labutas e lutas, porém esperanças, desvencilhar-me das escravidões do tempo nos seus séculos e milênios, fazendo com que sejam múltiplos, não havendo qualquer chance de prendê-los, algemá-los, acorrentá-los a algumas verdades que res-pondam ou correspondam àquilo de dizer que a porteira de Ouro Fino está aberta à passagem da vida à luz da morte, que dêem a última e derradeira palavra aos interesses e ideologias da meia-noite, dos mistérios do lobisomem das culturas, dos pensamentos, atrás do mato de hoje, haverá coelhos, atrás do mato de amanhã, haverá coelhos e mais coelhos, atrás dos coelhos de hoje os matos de ontem foram íngremes, atrás dos coelhos de amanhã, os matos de hoje se estenderão pelos chapadões e abismos, por todos os cantos e re-cantos do sertão seco e íngreme, que tanto amo e sonho outros panoramas de perspectivas do amor e solidariedade, panorama de miséria a olhos nus, a multiplicidade deles re-vertesse as entre-linhas em linhas, vice-versa, e não ec-sistissem condições de discerni-las com inteligência, razão, mesmo com todas as tramóias do intelecto e sensibilidade, tendo de considerá-las únicas para que algum entendimento, compreensão seja não apenas trans-parente, mas que trans-cenda a mera contingência da vida, o bem e o mal, a virtude e a calhordice, os regaços da alma e os córregos dos instintos à flor da terra ou escondidos por vegetação rasteira, como posso observar sempre que me encosto na ponte do Córrego Santo Antônio, por vezes observando o prédio do hospital acima, onde abri os olhos no mundo, nalgumas viagens que empreendo e real-izo em busca de outras ins-pirações para id-ent-ificar a espiritualidade dos homens no misticismo e no mítico da fé e esperanças da “UTOPIA CRISTÃ NO SERTÃO MINEIRO”, o esgoto aberto a todas as manifestações da natureza, expressem a verdade ou mentira dos contrastes da vida contingente ou social, política e econômica, dizem do péssimo ou divino odor, até as narinas são livres para confundir o que inalam, que infesta todos os horizontes da terra.
Se houver possibilidade dessa brincadeira, desse jogo com o tempo condicional do verbo e palavras, habitando-lhes as dimensões da criativ-idade e artific-idade, da falta de arrebiques e ornamentos que contribuam para a inteligibilidade do sim e do não, esplendendo os desejos do bem e dos valores, utopias e quimeras, virtudes e desejos do belo e do estético, consciência-[da]-estética-e-ética, vontades de elevar a sensibilidade e o espírito dos homens, experiências e vivências adquiridas ao longo dos anos, situações e circunstâncias, sentimentos e emoções diante das realidades e ir-realidades do mundo aos auspícios da vida, sentir-me-ia mais que orgulhoso, pois venho desejando real-izar essa façanha, desde tempos imemoriais das letras e da vida, brincar e jogar tanto com as palavras que elas em si percam o rumo da linguagem e dos sentidos, ardem confusas e perdidas por tempo ilimitado nas chamas da volúpia e obtuso, com os interstícios da razão in-versa na re-vers-idade das visões, conceitos e definições, pontos de vista e simples opiniões, nos avessos da alienação e ignorância do ser e não-ser, até que não passe de simples despautério do sentido e não-sentido, nas cordas do sentimento e emoção, não da razão e intelecto, não da filosofia das idéias e dos projetos, da teologia do espírito e das cinzas ósseas, com as profundezas da sensibilidade nos avessos dos desejos e sonhos de outras perspectivas do nada e do obtuso.
Extasiam-me tais perspectivas, não por si mesmas, isto não tem qualquer senso ou significado – sendo assim, nenhum interesse desperta-me -, eu próprio me sinto perdido nessas teias do inolvidável e ininteligível, mas pelo que despertam para as buscas e verbos da continuidade e eternidade do que não é habitado pela essência do que seja, e o que seja aberto ao nada e obtuso do que jamais terá condições de significado e sentido ter. Esperavam todos por essa minha ousadia, determinação, estavam mesmo ansiosos por essa atitude, sentem-se ora felizes e orgulhosos de mim, ora em estado de êxtase sem precedentes, vou-lhes torcer o rabo do lado contrário, o movimento causando-lhes dores ou não pouco me importa, na verdade não importa, sinto-me regozijado; ademais conseguir confundir entre-linhas com linhas, linhas com entre-linhas mostra com transparência que umas e outras estão à mercê da engenhosidade com as falcatruas da razão e façanhas da sensibilidade, disparates dos instintos à flor dos interesses escusos, da carne dogmática e pecadora, dos ossos misteriosos por virem cinzas, destas por virem misturadas à terra, húmus das plantinhas rasteiras ao longo da cidade dos pés juntos, que os coveiros capinam sob os raios efervescentes do sol, o suor correndo-lhes na face, isto a pedido dos familiares, recebendo um agrado para o pão com manteiga e meia xícara de cafezinho, com os pensamentos que foram sendo apresentados e discutidos ao longo dos séculos e milênios, da agilidade com os ornamentos e arrebiques da imaginação e intuição, acima de tudo isso com os interesses e intenções que se pretende atingir.
Não havendo tal possibilidade, a consciência da impossibilidade de linhas serem entre-linhas, de entre-linhas serem linhas, irá mostrar-me que, desde a eternidade, os lugares devidos jamais podem ser negligenciados, nunca podem ser trans-feridos, movidos para outros, isto desembocará num nonsense sem precedentes. Não me digam as coisas serem assim ou assadas, fritas ou cozidas, cruas e naturais, preciso saber por intermédio da prática e experiência, acima de tudo através da razão prática com os olhos esbugalhados e brilhantes na razão pura, e que Emmanuel Kant mexa e remexa os seus ossos na sepultura, as cinzas no interior da terra – é a minha liberdade que está em questão, acima disso o conhecimento das coisas interessa-me bastante.
Nada fácil empreender esse objetivo no que tange aos objetivos e propósitos traçados, elaborados, burilados e delineados na mente, alma, espírito, carne e ossos, porém felizmente encontrei o modo e estilo de fazê-lo com acuidade e percepção, isto é, jogando conversa fora, falando patacas, vomitando asnices, escarrando ridículos e gafes, torna-se bem mais confortável, não gasto neurônios espremendo os miolos; se nessa barafunda toda alguém encontrar no inter-dito idéias e pensamentos de lícitos e lídimos valores, teorias e verdades de nível elevadíssimo, tenha em mente que a interpretação é dele, nada disso pro-jetei. A intenção desde todos os outroras é mostrar que o talento não é apenas para ser profundo, é-o também para ser ridículo e tolo, quiçá assim terei o busto de bronze ornamentando a praça principal da cidade, seduzindo as consciências para a prática do ácido crítico deslavado, as sensibilidades simples e puras para a prática da busca da verdade e do verbo metafísico da ética, isto é, o metafisicar a ética na conjugação dos valores e virtudes do espírito.
Nós, que falamos, não sabemos aquilo que exprimimos necessariamente melhor do que aqueles que nos escutam. Digo que sei uma idéia, quando se institui em mim o poder de organizar à sua volta discursos que têm sentido coerente, e esse próprio poder não se deve a que eu tivesse tal idéia em minha posse e a con-templasse face a face, mas sim, ao fato de eu ter adquirido um certo estilo de pensamento.
O gosto do risco procura-o o herói real, de carne e osso, de força e determinação, o jogador que pode perder – o pôquer, por exemplo, ec-siste para jogadores desesperados por dinheiro, quem não o tem para perder, que importa arriscar o que tem para a sobrevivência, a vida? Mas o espectador da sua luta, degradado na sedução da ação, acentua a sua mediocridade no não poder aceitar a derrota, no fingir que corre o risco mesmo em ficção, seja ele mais excitante que o da verdade quotidiana incólume, insofismável, mas com a certeza prévia de que o risco é vencido. O que ele procura é a pequena lisonja à sua átima vaidade, ao seu orgulho minúsculo, a figuração da coragem para a sua covardia, a re-presentação da força pára e só a vitória do herói a quem passou procuração o pode lisonjear. E se o herói morre em grandeza, há o prazer ainda de o espectador estar vivo para saborear a coragem do que morreu e a não pode já saborear, saber-lhe o paladar suave e terno. A vida do herói estende-se assim para além da sua morte, para bem distante, longínquo em verdade, da sua imortalidade, da sua inesquecibilidade, onde a espera o espectador para se in-vestir da glória que lhe coube e ele já não pôde gozar, no poder que se lhe vestiu com estilo e bom gosto e ele já não pode saber a diferença entre a virtude súcia e a lídima ética, o valor esplendente e estúpida moral dos comportamentos, atitudes, gestos. É de dentro da vida e do conforto que o espectador da coragem saboreia o prazer da coragem que não tem, que não sabe nas pré-fundas de si a inveja estar presente, não sabendo ele de seu estado latente, haverá quando se manifestará por inteira. Daí, por vezes, a ilusão de que também ele poderia enfrentar os mesmos riscos, se os enfrentasse, se os peitasse em ação direta e reta, sem comer o angu pelas bordas por estar mesmo muito quente, fervendo, a fumaça a-nunciando-se plena e vigorosa, esvaecendo-se – jamais o disse, mas isso de comer o angu quente pelas bordas revela quem assim age lança seu rabo à escravidão e servidão, pensa nas necessidades futuras. O que lhe fica à superfície de toda a ação é o gosto da ação e não a dificuldade de realizá-la. Daí que na realidade ele pudesse quiçá atirar-se a essa ação, se tudo fosse possível efetivar-se num momento – no momento em que não teve tempo ainda de conhecer o que aí se esconde, no momento em que não teve tempo de saber que não era corajoso.
Seria que ou não seria que pudesse dizer conheço o movimento dos dedos que digitam as palavras nas respectivas linhas? Não conheço os dedos que digitam palavras, porque eles são o gesto que formam. Não conheço os múltiplos sentidos que as palavras adquirem na frase que construo com o suor do ato de criar, com a formação do calo no traseiro de tanto ficar sentado, com os olhos cansados de tanto tê-los fixos na tela branca do computador, as costas adormecidas de tanto ficarem encostadas na cadeira de balanço, mesmo com a alegria de seguir com as pernas o ritmo das músicas que ouço, enquanto me dedico à criação – jamais consegui compreender o porquê de pensarem que por ser escritor o escrever se faz de olhos fechados, as mãos inertes, é coisa bem fácil, só os “oportunistas da imortalidade”, aqueles que nada escrevem e estão sentados em cadeiras dos célebres escritores uni-versais nas academias de letras, podem dizer que escrever é nada, escrever é simplesmente rimar águas com fráguas -, acredito que a razão seja de todos se fundamentarem no que já está escrito, mas até a escritura final o que acontece ninguém sabe, assim me esclarecera ser íntimo, quem conhece com profundidade as pré-fundas da História e da Fé, por ter estado escrevendo um texto para a sua pós-graduação; amigo, se me aproximo dele no instante de sua criação, folhas datilografadas sobre a mesa, pego de uma para ler, logo me chama a atenção, conhecerei quando estiver pronto, eis o que me diz; também não gosta que fique perto dele, o que compreendo, também eu não gosto disso, dizia Nietzsche que o ato de criar é eminentemente solitário - e mesmo que todos estivessem presentes, refiro-me aos leitores, ainda assim não saberiam dizer o que se passa no íntimo, razão, intelecto, sensibilidade, inspiração, intenções, propósitos, interesses, verbos que o escritor deseja conjugar com a eficiência de seu conhecimento, linguagem e pronúncia -, porque trans-cendem o poder da razão e da in-telectual-idade, trans-cendem a vida e a morte. E é porque eles são antes do mais um gesto, que não posso facilmente conhecer; o gesto que fazem sou eu gesticulando, ou seja, eu exprimindo-me, saindo de mim, pro-jetando-me no mundo, lançando-me à re-velia no quotidiano das situações, circunstâncias, no mais dia, no menos dia da massa nas mãos, até mesmo me com-prometendo com as in-verdades do sonho re-verso e in-verso, da utopia avessa e tergi-versada do nonsense, do in-verbo tergi-vessado na insanidade e farsa da adúltera conjugação da pessoalidade dos pronomes, sejam retos ou oblíquos, sejam austeros ou alteridades. Não conheço o meu gesto como não conheço a minha voz; a minha pessoa que conhece está no manifestar-se e não separada da manifestação para podê-la conhecer. As mãos sou eu dizendo, encolerizando-me, suplicando, acarinhando, acariciando. E é porque sou eu que, dificilmente, as conheço, como é impossível conhecer-me no ato de ser e só ambiguamente no ter sido?



Ritmo de músicas
Transcende a vida e a morte,
7Regendo linguagens do dito,
Interdito estilo da saudade e melancolia,
Querência e ilusões do ter sido
No ambíguo ato de jogar sobre a mesa
As leis naturais do sentido e significado,
Magnífico retrato dos sentimentos comungados
À poiésis da metafísica,
Às idéias re-colhidas e a-colhidas
Nos horizontes pretéritos das experiências,
Aos sonhos e utopias do belo contingente,
Da beleza transcendente,
No silêncio eloqüente da floresta silvestre,
Con-templar as águas brancas do Infinito
No seio des-encarnado de senso,
Contra-senso,
Comungar linhas e entre-linhas
Nas além-linhas do orgasmo,
Da magia.



Os homens vivem em prazeres e alegrias como se a vida fosse uma festa sem fim, como se todos sorrissem em perene primavera! Somente eu estou só, somente eu não sei o que farei, que caminhos trilhar, que águas brancas do Infinito con-templar. Contudo, ando sossegado e bem tranqüilo, o silêncio auscultativo da alma escuta o silêncio eloqüente da alma.



Sossegado e bem tranqüilo
O silêncio auscultativo da alma
Escuta o silêncio eloqüente
Da alma,
Ouve o burburinho das palavras
Re-velando ingenuidades e fantasias,
Regendo as linguagens
Do dito e inter-dito,
No belo encarnado de poesia,
No feio des-encarnado
De senso e contra-senso.



A coisa não é tão fácil como se possa imaginar, a dificuldade trans-cende todos os esforços, capacidades sensíveis e racionais, porém não é de minha índole abaixar a cabeça, entregar-me, ir catar favas no asfalto que é bem mais fácil e tranqüilo, mesmo que tudo tenha sido vão, os resultados adquiridos re-velem nitidamente ingenuidades e fantasias, até mesmo tolice desvairada, quem não admite o óbvio é que algumas cartas extras e escusas pretende jogar sobre a mesa. As leis naturais do imutável regem toda a história humana, regem as linguagens do dito e do inter-dito. No memorial registro do ser há descobertas em cada era e tempo, em cada passo e traço das marcas de frustração e impotência, das cicatrizes da saudade e melancolia, das feridas abertas das querências e das ilusões do ser no não-ser das quimeras e fantasias. Na tela iluminada de arco-íris, o magnífico retrato das diferenças, novidades e inéditos, ostenta no brilho toda a imagem, desde as perspectivas aos ângulos, no belo encarnado de poesia, no feio des-encarnado de senso e contra-senso.
Seria que ou não seria que fora da terra, longe dos olhos, perto do coração, o que zanza no céu é uma lua tonta com tantas lembranças dobrando esquinas, “no fundo azul na noite da floresta/a lua iluminou a dança, a roda, a festa...”, recordações contornando curvas, entornando soluços nas encruzilhadas. Fora da terra, ausente de mim, o que tropeça no céu é uma lua atônita com íntimos passos em volta da pracinha de fonte luminosa e moças-memórias na poça dos olhos. Fora da terra, explodindo em mim, o que desmorona no céu é uma lua em pane cavando meu peito com seus clarões.



Tropeçando no céu a lua atônita,
Recordações contornando curvas,
Entornando soluços nas encruzilhadas
Da vida e morte,
Escrevo rastros de mim
Na história de minhas memórias,
Gerando linhas de sensibilidade,
Transcendência,
Desejando na memória inscrever
O inefável olhar
Feito de sonho,
De pré-cursoras idéias e sentimentos,
Nos interstícios primevos
Das entre-linhas verdes
Que transcendem o Infinito branco
Das emoções esplendentes
De amor e verbos da ec-sistência.
Há tanta leveza na palavra! No breve ato de sonolência, gesto pleno de calor e arte o humano desejo esculpe. Desfeita a fronteira do real, no sono dentro da pupila, visão noturna do inefável neste olhar feito de sonho, no con-templar feito de querências. Ainda que os passos sejam vacilantes nessa tentativa de entrelaçar linhas e entre-linhas, nesta trilha, escrevo rastro da história, passos da memória, marcas do ser em busca de outros uni-versos gerados no ventre do desafio, no seio de precursoras idéias e sentimentos, nos interstícios primevos dos desejos e querências dos valores eternos, das virtudes imortais, e mesmo entre-vejo dimensões transcendentes que me não são dadas descrever, transcendem a razão e a sensibilidade. Quanta força existe no ideal de sonhar! Seria ou não seria que alguém pudesse estabelecer ou instituir esta força no dinâmico percurso de cada época?
Seria que ou não seria que nessa brincadeira inconseqüente com as linhas e entre-linhas das palavras, ditos e inter-ditos dos sentidos, obviamente nada dizendo, expressando, sem sentidos e significados quaisquer, não vou eu plantando migalhas verdes nas estradas dos meus passos. Se acaso houver quem queira, sejam suas mãos grandes para muito colherem. Quem tem fome, siga-me, dar-lhe-ei o pão da alma que Deus semeou em mim na sedução da melodia, na música que se faz corpo, no orgasmo da magia. No âmago do seria que ou não seria que temos que temer as res-postas que servem apenas ao instante presente, aos interesses, às fugas do aqui-e-agora, temos que amar a busca contínua da verdade, mesmo que não a conheçamos plenamente. Contornos dos sentidos voltam a fixar-se na consciência, cravam-se com a força brutal de raízes que tentam penetrar numa terra mole. Instintivamente desconfio da insistência das palavras e da precisão com que ressurge na memória o sorriso da esperança.
Por devoção às dificuldades, esqueci-as. Minha necessária des-memorização - é o presente que me importa, que me fará dar outros passos com os meus pés descalços em busca de outros mundos e realidades, que me diz respeito, lutar por construir novos valores e virtudes, re-velar o novo homem que habita a semente que se encontra sendo regada nas profundezas da terra, lá onde sementes e raízes se entrelaçam e se confundem, nos raios de luz das estrelas, lua e sol, o passado diz apenas de minhas fomes e sedes de sobrevivência, de minhas carências de amor e paz, de minha interesseira des-lembrança, re-versa re-cordação, diria mesmo, se entendo ser verdadeiro com o que me perpassa a razão e o intelecto, sentimentos e emoções, com o que me habita o mais profundo do íntimo, com meu ideológico esquecimento, melhor ainda, meu utópico olvidamento que se utiliza do sudário das questões abstratas para cobrir os limites e fronteiras dos olhares à con-templação das verdades in-verdadeiras, das verdadeiras in-verdades. As dificuldades são esquivas, tomando em consideração estarem fundadas e estabelecidas na obtusidade do nada, nadificidade do obtuso; equívocas: as dúvidas que se a-nunciam são unicamente uma fantasia para semente de outras tentativas e esforços. Diante de minha adoração possessiva poderia retrair-me e jamais voltar a cuidar delas, transformá-las em facilidades, fazê-las curvarem-se, mostrar-lhes que não é tão fácil vencer-me, sou osso duro de roer, sou cabeça dura. Se fizer o sacrifício de focar-me nisso de re-verter as entrelinhas em linhas, vice-versa, vivenciar com ímpetos, êxtases e volúpias as veredas por onde transitar, até mesmo do sertão por onde enveredar, seguirei os passos, ainda que encontre aclives e declives inúmeros – subir para descer, descer para subir, vice-versa; são os pêndulos da vida e da história -, tomando-me o fôlego, abismos indevassáveis, caminhos sinuosos, até o corpo adquirindo seus trejeitos, ficando gauche, na tentativa de vencer as dificuldades, de realizar os propósitos.



Carências de amor e paz:
Sementes de outras fantasias
Nisso de re-verter entre-linhas em linhas,
De transitar entre êxtases e volúpias,
Entre sudários de limites e fronteiras,
Imagens de trilhas percorridas,
Figuradas de tentativas e esforço,
Representadas por desejos e vontades
Do eterno e imortal
Das virtudes contingentes e transcendentes,
Dos valores uni-versais e espirituais,
Por transformar abismos indevassáveis
Em a-nunciação de louvor e rogo
à verdade e absoluto.



Do pretérito vencido,
O silêncio incólume
No coração enigmático
Entrelaçado nos liames
Do deserto do ser e não ser,
Em busca do Infinito
De palavras que transformem
Linhas em entrelinhas,
As carências de amor e paz
Em teias de esperanças e desejos re-novados,
Nos interstícios da alma
A fé, decifrando o soluço de vida,
O murmúrio de ser
Nos prazeres, raios de luz,
Nas volúpias, dilúvios de
Sentimentos e emoções;
Longe e distante,
Metáforas fornecendo alento,
No telhado das luas di-versas,
Raios de luz esplendendo
Verbos da consciência,
Conjugações pretéritas e presentes
No Infinito do silêncio.



A virtude está, no que tange à minha visão-(de)-mundo, à consciência-[de]-vida, à concepção-{das}-coisas, em não pensar a priori em dificuldades ou facilidades, em fracasso ou realização, mas sempre estar lutando, entregando-me ao trabalho árduo, colocando a razão prática em ação, a razão pura em atitudes e gestos, ao desejo neurótico de in-ventar algo para que a ec-sistência não seja apenas in-venção gratuita para esconder a impotência de fazer algo que id-ent-ifique o humano atrás da carne e dos ossos, dos dedos em riste e das mãos em a-nunciação de louvor e rogo à verdade e absoluto, que se tornarão cinzas na solidão dos sete palmos de terra por cima. A vida prima por serem sonhos e buscas, por serem encontros e desencontros, por serem do infinitivo vencer, por serem do pretérito vencido, por mandarem aos vencedores as devidas batatas, aos vencidos o silêncio incólume. Nas andanças longe e distante de meu sertão aprendera a me levantar das quedas, mesmo quando coxeava, e me refiz logo: “foi a composição do tesouro! esse então deve ter sido o meu erro!” Fraco, e embora pisando cuidadoso na nova e escorregadia segurança, eu, no entanto, já me levantara o bastante da minha queda para poder sacudir, numa imitação da antiga arrogância e prepotência, a poeira e dar uma volta por cima.
Seria ou não seria que raras são as palavras, escassos os desejos, minguados os sentimentos? O silêncio arrogante refugiou-se no coração, a solidão prepotente se entrelaçou nos liames do passado e presente, o deserto do ser e não-ser se alinhou nas teias das esperanças e fracassos. Somente os ouvidos aguçados conseguem de-cifrar o soluço de vida, o murmúrio de ser, no coração enigmático das palavras. Na inércia dos dicionários, sejam antigos, sejam modernos, sejam re-novados com as novas regras da ortografia – que eu jamais irei assumir, não as conheço, sou-lhes indiferente de pavio a cabo, sou livre para escolher as letras com que registro as inquietudes de minha vida -, elas espiam os nomes, nomeiam seres e coisas. Belos adereços de metáfora fornecem alento ao ec-sistir, sustentam o rumo que decidi seguir nas andarilhas ruas do ser, o viajante das sorrelfas re-versas de avessos as segue de cabeça levantada e o peito estufado, no íntimo as esperanças e fé de cumprir os projetos pensados e estabelecidos. Sendo raras as palavras que possam contribuir eficazmente com os desejos que se me a-nunciaram, aquando, pela fresta, no telhado da lua, um raio de luz fugia teimoso, arrisco dizer não as encontrei ainda, empreendo homéricas voltas no íntimo, nas bordas do ser em busca de sentimentos que possam criá-las, re-criá-las, para que se re-velem transparentes, sendo-me, então, possíveis os objetivos e projetos serem realizados, sentindo-me saltitante de prazer nas volúpias dos dilúvios dos sentimentos e emoções, melhor ainda, exultante de satisfação por não haver sido apenas uma quimera aquilo de confundir entre-linhas e linhas, ditos e inter-ditos. Não sendo raras as palavras, ec-sistem centenas de milhares delas em todos os cantos, recantos da mente, do espírito, cabendo-me escolhê-las com acuidade, colocar-lhes, sabendo, nos seus devidos espaços, dar-lhes multíplices sentidos, comungar-lhes ritmos e musicalidades.
Uma vida inteira, por anos a pavio e cabo, na textura da palavra! Nesta linguagem tão abstrata do ser, tão trans-cendente do verbo, tão contingente do não-ser, tão aquém dos sonhos, todo sentimento cabe nas entre-linhas, desejos feitos num espaço de letras. Todo dia acrescento palavra nova, idéia inédita, pensamento novo, somo novas experiências a outras vontades do verso uno no uni-verso do sentido triplo de in-verdade, verdade, mentira, ou simplesmente tese, antítese, síntese. Descubro tanta metáfora na poética, tanta linguagem e estilo na prosa dos versos! E o ser trans-cende em cada verso, ritmado, musicalizado, neste ofício de palavrear o que habita os interstícios do “ser” homem, de o mundo estar coberto de não-ser em busca do inefável que o discurso nomeia. Na escritura da essência o desejo pronuncia nas profundezas do ser a sensibilidade alvorecendo infinita de recentes ilusões no linho do sentir, na pintura da vida o cântico de matizes explode o fruto do encontro grudado na alma, disfarçando a fugidia estrela cadente.



Manoel Ferreira Neto.
(14 de abril de 2016)


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