**TIBIRIBA ULA ULA** - Manoel Ferreira


Vamos rasgar fronteiras,
atravessar rios e oceanos,
passear no silvestre dos campos,
colher nas mãos feitas concha á água da fonte,
entrar nas amplidões,
nas multiplicidades um do outro,
e desfazer a solidão
de duas procuras,
de duas buscas,
de duas vontades e desejos,
de duas chamas ardentes.



Tu me lês,
em silêncio.
Tu sentes as letras
Na magia do espírito,
Nesse ilimitado campo de trevas,
o desejo de luzes ainda mais forte
para que a claridade
seja esplendorosa
aos nossos olhos,
então não apenas desdobrar
as asas e voar,
mas ser a Vida.



A voz cai no abismo
de teu silêncio,
as palavras elevam-se no deserto
de tuas necessidades de viver
o ser dos sonhos
e dos desejos.



O segredo da fascinação, do amor pelas águas cristalinas,
Essa presença que vaga, que anda por entre o verbo e a carne,
Cuja aparência é a passagem das sendas silvestres
À cristalidade do ser e do sangue que percorre as veias
E que cintila ao mesmo tempo
E que brilha nas furtivas miríades do verbo-uni do verso-alma.



No limiar do agora
Que se tem perdido para sempre,
Que se perdeu no sempre do limiar
Que no sempre perdeu o limiar,
Entre os liames do nada e do ser,
Levado pelo mais brando vento,
Pelo mais inaudível sibilo entre serras,
Pelo mais sensível som sideral dos horizontes,
Respiro uma vida profunda,
Suspiro esperanças e fé íntimos,
Re-velo sentimentos delicados,
Exprimo emoções di-versas, in-versas e re-versas,
Por vezes avessas às manifestações do verbo,
Modelo-me com a facilidade de uma máscara de cera:
Tudo o que cor-[res]-ponde a signo interior, alegria ou tristeza,
Cólera,
Ou esse poderoso hausto de vida que parece,
Às vezes,
Inflamar-me a alma sensível
Como chama de puro entusiasmo,
Inocente êxtase,
Ingênuo prazer,
Puro clímax.



Mergulho em todas as palavras, penetro-lhes os
Sentidos, ininteligíveis ou inconcebíveis,
Lívidos ou transparentes,
Vivo sentimentos outros, vivencio desejos outros,
Sinto querências outras dentro de única esperança
- Viver vida diferente -,
Ser diferente à luz de águas cristalinas
- meu olhar re-{s}-surge como um
Raio vindo misteriosamente do sub-terrâneo do espírito
Trans-forma perfeição
Em pétalas de versos,
Exalando o doce perfume da linguística do eterno
Torna prosa a pureza da rosa.



A voz sufocada dos momentos de solidão,
dos instantes desérticos da desolação,
Como uma dor que me ameaçasse o coração,
É a imagem re-fletida na camada mais profunda
Dos caminhos misteriosos da palavra que a-nuncia
As sendas silvestres às margens de águas cristalinas,
As águas cristalinas passando livres à imagem
Das sendas silvestres.



No silêncio das águas cristalinas,
Seguindo as sendas silvestres,
Sinto a profundeza com que em meu ser
A idéia da irremediável permanência
Da esperança aproxima a imagem do destino
Ao sonho do espírito do verbo e sublime,
Da fé comunga a perspectiva da sina e saga
Às utopias da alma e das conjugações do “Ser”
Absoluto e eterno.



Manoel Ferreira Neto.
(19 de abril de 2016)


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