*DOMINGO - CRIANÇA, CRIAÇÃO** - Manoel Ferreira


Ausência... Silêncio... Distância...
Domingo de lembranças de instantes felizes: "Isto é ficção ou realidade?", "Não é ficção. Sou mesmo divorciado", momentos alegres: "Quero lhe dar asas para voar. Quero vê-lo sempre sorrindo. Vou lhe fazer muito feliz." Palavras eivando os sentimentos, preenchendo as carências de carinho, ternura.
Domingo solitário. Domingo de só emoções, sentimentos, sensações. Arranco palavras da pena, a tinta arrasta-se na linha da cadernetinha, não percebo representações, metáforas, sentidos. Baratujas apenas. Tirá-la de mim dentro, passar-lhe o braço no pescoço, a conversa acompanhada de carícias, ósculos, ternuras, pulsando o coração ardentemente. Diá-logo íntimo, no âmago da alma a saudade sonetiza versos e estrofes na solene expectativa da chamada no bate-papo. A espera. A inquietude. A ansiedade. Escrevesse, amenizaria a dor que não se cala, nada consigo dizer. Palavras carecem de sentimentos, do amor para re-velarem o espírito do verbo. O verbo carece de amor para expressar o espírito do sonho. O espírito carece da palavra-verbo para exprimir o amor. Tudo isso alçaria voo da entrega sem limites, êxtase, clímax, gozo. O tempo passando, vendo-se-lhe escorrer entre os dedos de ambas as mãos, prazer. Agora perpassa-me uma recordação: "Você é incisivo no que diz, a verdade de sua alma, mas carente de amor verdadeiro." Sem titubear, haver qualquer dúvida, a coragem de assumir: "Você mata a sede de minha compl-etude, mata a sede da minha felicidade."
Domingo solitário. Alguns dizem a saudade alimenta o desejo do encontro, havendo encontro a pers do amor des-abrocha a flor diva do afeto e carinho, tudo são volúpias, tudo são volos do enamoramento. A inquietude enorme, o sussurro, o murmúrio, o cochicho: "Você já está sentindo minha falta, se me ausento um instante, mas, meu amor, estou sempre junto de você, ao seu lado, pela vida a fora estarei de braços dados com você."
A inquietude crescendo, a ansiedade aumentando, nada do encontro. Sair, andar, entrar e sair de ruas, passar o tempo, divagar, deambular, perambular, gastar a sola do sapato, na mente, na alma o verbo do amor, o amor-gerúndio, amor-particípio, amor-infinitivo. Quem sabe agora, retornando a casa, haja mensagem no bate-papo dizendo "Ai, amor, que saudade de você. Preguicinha de sair da cama, dormi muito, chovendo aqui. Estou aqui para você. Vamos passar a noite juntos." Apresso os passos, passos longos.
Já é noite. A noite é uma criança.
Criança... Criação...



Manoel Ferreira Neto.
(27 de abril de 2016)


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