COMENTÁRIO DA AMIGA FRANCISCA APARECIDA DA SILVA AO TEXTO /**ÁGUAS REVESTIDAS DE LUZES E MAGIAS**/
ÁGUAS REVESTIDAS DE LUZES E MAGIAS
Manoel Ferreira Neto.
Muito profundo!
Indagações e afirmações refletem um momento de reverso, de busca do
próprio "Eu", algumas descrições de lugares guardados no íntimo
"Ser", ondulando e marcando instantes, perseguindo pensamentos
ouvidos, outros pensados-sentidos, uma mistura de dores e alegria vertentes na
Alma, uma profusão sintomática de sentimentos.
Francisca Aparecida da Silva
*ÁGUAS REVESTIDAS DE LUZES E MAGIAS*
Há certa intensidade de clímax que o homem mal pode ultrapassar, e não
sem umedecer os olhos, não sem sensibilizar a alma de desejos do
instante-limite do além, re-vestido de verbos, inspirando o silêncio. Para
apreciar qualquer fino gole d’água, a goela hei de encher, beber até fartar,
saciar-me a sede verdadeiramente real dos sentidos, sentimentos do amor pleno
de entregas e doações, da sensibilidade de amar as emoções do verbo
in-trans-itivo de vivenciar a plen-itude do ex-tase do sonho.
Aqui, a água, que segue o rio sem margens, medita e vive poderosa e
satisfeita, o passado se re-torce e se torna mínimo, o presente emoldura de
imagens distantes a cintilância de luzes, tecendo a eternidade de magias e
mistérios. Com prazer, bebo em honra ao sonho, ao desejo, à liberdade, aqui as
águas são boas de verdade. Os termos vagam sobre onda que, de hesitados e
tumultuados, ficam indecisos.
O vento bate e espalha os meus cabelos, um ser que brinca – não estou só
nesta praia deserta, não me sinto vazio nesta areia a receber as ondas do mar –
antes de fazer uma estapafúrdia com todos os naipes escondidos. Desejo sair de
mim mesmo para o universo no sentido de des-cobrir o ser. Procuro um bom copo,
é hora de brindar...
Bela nascente aflora em realidade. Palavra e imagem a mudarem os matizes
de ser do habitante da concha de pedra que conserva sua própria água e se abre.
Falsos sentidos e lugar. Estão aqui e a variar, estão lá e acolá a des-variar.
O meu "ser" cont-empla o arco-íris que colore o céu - cor da
vida, cor do amor, cor do desejo, cor do sonho, cor da esperança, cor da fé,
cor do eterno, absoluto. Mergulha profundo no horizonte de outros idílios
iluminando os êxtases, volúpias brilhando de glórias, fantasias tecendo de
alegrias o vir-a-ser do Verbo Amar. Realidades simples a-nunciando a verdade
que frutifica a árvore, cuja perspectiva e expectativa é alimentar e saciar os
desejos.
Quimeras que regam de águas divinas os mistérios, enigmas do tempo e
busca do Ser. Sente no uni-verso de suas buscas e querências a pó-ética do Amor
que ilumina os Verbos, quando no mundo fenece o silvestre do espírito, a
essência da Verdade que eleva a alma aos auspícios da montanha onde o rio
corre, per-corre, in-corre, re-fazendo sendas, criando veredas, rumo ao
infinito do mar, a "eidos" do Absoluto que evangeliza, espiritualiza
de seren-itude as etern-itudes do clímax divino, da divin-idade do gozo.
Verbaliza a musicalidade do cântico dos cânticos, a melodia das canções
folclóricas da natureza em harmonia com a beleza mágica da vida, o ritmo das
líricas românticas que recitam o verbo-de-amar com os sentimentos lúdicos do
pleno e do eterno, re-fazendo de sendas o horizonte das esperanças, de atalhos
o infinito da fé no há-de vir, de trilhas os confins do desejo de presença da
solidariedade, compaixão, amizade re-nascendo de cinzas o éden de flores e
lilases na estética dos poetas sonhadores, na beleza das letras que compõem de
linhas, entre-linhas e além-linhas o outro da alma sedenta de lirismo criando
de utopias a ética do amor em harmonia, sincronia, sintonia com a rosa azul com
que os boêmios declamam a etern-itude des-abrochando no peito dos homens
espiritualidade da entrega ao Verbo-[às]-Esperanças da Vida Eterna.
Os significados dissipam-se, perdendo o ânimo, que, de voláteis e
inflamáveis, desmaiam, manifestando por processo exterior a descrição minuciosa
e fiel de uma extravagância. Os sentidos evolam-se, deixando os recursos, que,
de intensos e flamejantes, cochilam, re-velando a mudez e o som numa narração
sublime e leal de uma estupidez e inocência, de uma in-solência e in-ferno.
Penso poderia estar alhures. De mim já se afastou a última esperança.
Acaso a natureza ou nobre alma agora um bálsamo não têm, que me traga bonança?
Por vezes, não sinto limites no corpo. Con-templo ora o sorriso cínico e
irônico, revelando rebeldia e meditação acerca de o cristianismo com-templar a
morte e não a vida, dizendo-me da melancolia e nostalgia. Ponho em nível de
suas sensações as extremidades algo longínquas das mais nobres emoções. Imagino
estar algures.
”Aliás, jamais vi você com um livro para cima, sempre a morte, o desejo
não realizado, o amor ceifado...”, vejo-me dizendo-lhe que era necessário dizer
à humanidade que a re-denção da vida é encontrada na vida e não na morte. Creio
que não pestanejará para dizer que no mínimo há um nonsense nesta afirmação.
Con-vexos espelhos, anexos ao imaginário de distâncias indizíveis,
des-conexas imagens don-templadas em miríades côncavas de nadas, vazios,
nonadas, com-plexos sentimentos dis-persos, mergulhados em amplexos
des-contínuos, engrenagens de sofrimentos, dores, herméticas angústias e
nostalgias, per-plexos olhos deambulando no in-finito, entre sinuosos espaços e
ofuscantes luzes, in-vexas ilusões do perfeito em concha mais-que-perfeita de sorrelfas,
re-versas pers-pectivas des-conexas, emolduradas na aparência etérea, efêmera,
fugaz, volátil, des-contínuas de superfície lisa, em cujos atrás con-vexos
re-fletem os sinais que compõem os ângulos in-flexos do subterrâneo do
espírito, sarjeta des-lavada da alma.
Re-vexas etern-itudes em aclives de versos di-versos solicitam a
participação re-fletida e con-templadas nas anexas distâncias do inconsciente à
luz do espírito trans-parente, trans-elevado, trans-cendente, límpido, nítido,
à luz e cintilância do presente-verbo-de-não-ser, subjuntivo de além-trevas,
con-jugando "Silva", em temas e temáticas de silvestres sendeiros do
absoluto.
Con-templa o horizonte que, agora, se ergue imperceptivelmente num
movimento cansado, e sacia as duas sedes que ninguém pode enganar por muito
tempo, sem que o ser se estiole - a sede de amar e a de con-templar o verbo
amar.
Os olhos sentem os instantes de tristeza: servem-lhe de modo profundo na
atitude de vislumbramento e entre-visão. O sensual greta-se com o suave como
para dar melhor acolhida à nobreza dos sentimentos. Na esteira da face, chega o
tempo em que uma deliciosa quantidade de pitoresco afirma uma dis-fonia de
re-toques. Encontro o sentido do amor e da amizade. Nenhuma forma de vida detém
a totalidade mais tempo do que lhe é necessário para se dizer. Numa re-fração
de ouro claro, surge o momento em que palpitam as asas de uma águia recolhendo
a sin-fonia de águas re-vestidas de silêncio.
Desejo e esperança de Amor puro e verdadeiro... O verbo que habita o
Ser, de Sonho real e absoluto. A alegria e felicidade que perpassam a alma,
Desejo e esperança de a Vida real-izar o ser do Amar no Uno e Verso do
tempo, a volúpia e êxtase da querência de encontro, da união dos corpos na
estesia do instante, na beleza das carícias e toques, no clímax uno da carne e
do espírito, no gozo uníssono da alma e dos instintos, prazer e alegria,
Felicidade e contentamento, desejo e esperança do silvestre do campo ser de
entrelaçadas mãos, do rio sem margens, sem pressa seguir aos passos lentos
desse amor em direção ao infinito, de as estações serem de raios numinosos do
sol, serem de brilhos luminosos da lua, serem de cintilâncias esplendentes das
estrelas, a primavera seja de sonhos e utopias à luz das flores silvestres, o
verão seja de fantasias e ilusões à mercê dos crepúsculos resplandecentes, o
outono seja de quimeras e fé na comunhão da aurora e do entardecer, na síntese
do verbo e da carne do amor, do amar, o inverno seja de proteção e aconchego,
seja de dedicação e entrega ao espírito da Vida, desejo e esperança da vontade
de encontro, do toque e da carícia, apesar da dor e do sofrimento, sejam a
estrela guia a indicar os caminhos da felicidade, seja a pedra de toque que
abre todos os horizontes, uni-versos para o In-finito Espírito do Eterno, para
a Etern-itude Finita do Para-Sempre desejo e esperança de os corações em
uníssono recitarem o cântico da plen-itude do Verbo Amar, do Verbo Sonhar a
Vida Uno-Verso do Sentimento-{de}-Amor, de os corações em uníssono declamarem
os versos da felicidade em sintonia com o prazer, em sincronia com a alegria,
em comunhão com o clímax e o sonho da eternidade, desejo e esperança de o
vivenciário do amor em uníssono no tempo, vivifique o vivencial do verbo dos
corpos, que eternize o "eu" e o "outro" do "nós",
do amor nosso.
A face dos ventos arrasta e dispersa as nuvens, e faz sair um brilho nos
olhos, que experimenta a vereda, que evoca com as asas ensopadas, com o rosto
terrível coberto de uma barba pesada com a chuva, a água escorre de meus
cabelos brancos, a névoa me cobre a fronte, desprendem umidade minhas asas e
meu peito. Apresenta-se-me a olhos nus. Como o sensível vai ao encontro da
intimidade do outro, como a intuição exterioriza-se no outro, como o emotivo
penetra no outro. Tenho a sensação, muitas vezes, de estar a andar, a tal ponto
o ar luminoso e quente me cobre e lentamente me ergue. Mostrar-me a todos,
inteirar-lhes de minha individualidade, manifestar-me inteiro, reconhecer as
virtudes e valores. Perco-me numa des-organizada perseguição a coisas fugidias.
Letras rugem a estranheza que faz desse corpo um corpo, de dentro dessa cela
sem grades que encarnam a ênfase escondida sob sete chaves, quando descem das
idéias até o ventre e que se apagam quando tornam a subir do ventre para as
idéias. Estivesse numa situação em que disse a mim, na superficialidade, a
trapaça de encantos opostos, entender-me-iam, compreender-me-iam,
justificar-me-iam, mas, na profundidade, a paz vem de cruzar fronteiras, tudo é
tão in-eficaz e in-essencial. A intimidade, desde que se fixe, não mais vive.
Serpentes devoram mortais expulsos desta terra maculada de deuses. Por
limites, as águas apartam da morte olhos perspicazes não perturbados pela
embriaguez. Muitas vezes. Muitas vezes quando a luz se apaga sobre minha
insônia, pergunto-me – fazia-o mais assiduamente – com os ossos entre(dedos):
de onde vem esta indiferença? De onde me vem este mal-estar que não me permite
estar em lugar algum?
Música pura desenvolvendo-se numa terra sem homens, sonho eu. Movimentos
sem adjetivos. Inconscientes como a vida primitiva que pulsa nas árvores cegas
e surdas, nos pequenos insetos que nascem, voam, morrem e renascem sem
testemunhas, sem álibis. Enquanto a música volteia e se desenvolve, vivo a
madrugada, o dia forte, a noite, nota constante na sinfonia, a da
transformação. É a música sem apoio em coisas, em espaço ou tempo, da mesma cor
que a vida e a morte. Vida e morte em idéia, isoladas do prazer, dor, angústia,
desesperança. Tão distantes das qualidades humanas que poderiam se confirmar
com o silêncio. O silêncio, porque essa música seria a necessária, a única
possível, projeção vibrando da matéria.
Divido palavras para que se tornem lirismos, destinados a mascarar as
frases lançadas ao ocaso do acaso. São significados omissos na fisionomia, nos
olhos, nos esgares faciais, motivos e razões escondidos no in-cons-ci-ente. Em
sentenças soltas, capto vozes que ignoram as efêmeras interrogações da verdade.
A salvação do mais espantoso se dá pelo fato de que alguns se fizeram a caminho
na sua direção, quer dizer, do risível amor. Estou atrás do ser. Estão em
marcha os primórdios do tagarelar, e também agora e para sempre e para o qual
sempre de novo não encontram acesso (e que é por isso indagado): o que é a
leveza?
Manoel Ferreira Neto.
(11 de abril de 2016)
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