RES-POSTA À CRÍTICA DA AMIGA, ESCRITORA, POETISA MARIA ISABEL FERNANDES DA CUNHA, "A DIALÉTICA ABSTRATA NA OBRA DE MANOEL FERREIRA NETO" - Manoel Ferreira
Dizer que o passado, à medida em que se distancia, longinqua, se
trans-muda em seu sentido, e que podemos a posteriori re-traçar uma história
inteligível do pensamento, desde que nesta síntese cada termo permaneça na
totalidade do mundo até então, e que o encadeamento das filosofias as mantenha
todas em sua posição de significações abertas, deixando subsistir entre elas
uma fluência de antecipações e matamorfoses. O sentido da filosofia é o de uma
gênese e não lhe seria, assim, possível totalizar-se fora do tempo, sendo ainda
expressão. Quanto mais, fora da filosofia, o escritor, que não sente nem pensa
atingir o cerne das coisas senão pela prática da linguagem e nunca fora dela.
A dialéctica que habita a minha obra funda-se, fundamenta-se, gênese e
tempo, retraça a "existência sensível" da contingência, percepção e
visão-do-mundo, inspiração, desejos, esperança, sonhos do Verbo do Ser, eidos
da Literatura e da Poesia, e o "pensamento", "idéia" que,
no vivenciário e no vivencial das coisas do mundo, cria, elabora, delineia, por
vezes, inventa sendas e veredas que revelem a trans-cendência na contingência,
é justamente esta síntese que concebe a minha obra literária.
Devo dizer da linguagem em sua relação com o sentido o que Simone de
Beauvoir diz do corpo em sua relação com o espírito: que não é primeiro, nem
segundo. Ninguém nunca fez do corpo um simples instrumento ou um meio, nem
defendeu por exemplo que se pudesse amar por princípios. E como tampouco é o
corpo só que ama, cabe dizer que tudo faz e que não faz nada, que em nós existe
e não existe. Nem fim nem meio, envolvido sempre em casos que o ultrapassam,
sempre cioso no entanto de sua autonomia, é suficientemente poderoso para
opor-se a qualquer fim que só fosse deliberado, mas de nenhum dispõe para nos
propor se a ele enfim nos dirigirmos e o auscultarmos.
A dialéctica não é a idéia da ação recíproca, nem a da solidariedade dos
contrários e seu ultrapassamento, nem a de um des-envolvimento que se
auto-propulsiona, nem a trans-crescença de uma qualidade, a instalar numa nova
ordem uma mudança até então quantitativa: tais idéias são consequências ou
aspectos da dialética.
Se é que assim possa esclarecer a sua crítica tão percuciente com o meu
pensamento, chamo a minha dialética, a que habita na obra, DIALÉTICA
LINGUÍSTICA DA EXISTÊNCIA.
Os meus sinceros cumprimentos, acompanhados dos sensíveis agradecimentos
ao seu reconhecimento.
Abraços!
Manoel Ferreira Neto.
(10 de abril de 2016)
Comentários
Postar um comentário