Sonia Gonçalves ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA CONSIDERA TESTEMUNHO SOBRE A ESSÊNCIA DA FÉ CRISTÃ NOS TEMPOS HODIERNOS ATRAVÉS DO CAPÍTULO XXII A Fé Cristã Coaduna-se com a Loucura


Amei sua explanação Manoel Ferreira Neto

é pela "loucura juvenil e temporária "que na madura essência tomamos ciência dos nossos erros e muitos abusos, alguns realmente extrapolam, ultrapassam a linha do bom senso, e literalmente profanam a sua fé interior, seja esta cristã de uns ou diferentes de outros. No nosso atual momento é uma boa hora para refletimos sobre as escrituras sagradas, lógico que há exageros, nós somos escritores e sabemos disso, fora traduções errôneas, porém a ESSÊNCIA isso que devemos notar, há na essência a verdade plena, pois é a base, a origem de todos os demais textos e lendas, pode comparar, seja nas diversas mitologias ou mesmo folclóricas, sempre lá está camuflada. Nessa era louca de quarentena, guerra pelo poder, pelo saber pela valorização da ciência inclusive, nos leva de volta aos tempos remotos, só falta mesmo a inquisição de cada um, coisa que penso está acontecendo de uma maneira diferente. Bem, encerro com a frase do teu texto, que sintetiza de maneira incontestável o nosso momento e felicitando-o pelo brilhantismo exacerbado.

"Impossível encontrar loucos mais extravagantes que os que se abandonam inteiramente à ardência da fé cristã"

Sonia Gonçalves

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CAPÍTULO XXIII – A RELIGIÃO CRISTÃ COADUNA-SE COM A LOUCURA

GRAÇA FONTIS: PINTURA

Manoel Ferreira Neto: NOVELA

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Não é de meu conhecimento que as portas do céu estejam fechadas para os loucos, o que merecem sem queixumes é penarem no fogo do inferno. Creio não haver Juízo Final para estes espíritos por mim iluminados; assim que desembarcam no céu, São Pedro já diz: “Podeis entrar!”, com aquele sorriso misericordioso e compassivo. Que pecados podem cometer no mundo? Nenhum – não é verdade?

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Não seria lícito silenciar-me no tangente ao sumo crédito de que desfruto e gozo no céu, pois aí se obtém o perdão com o meu nome, ao passo que não é favorável à sabedoria – irra!, um louco sábio! Pecou um homem com conhecimento de causa? Peço-vos a finesse e o obséquio de não pensardes que procure alegar suas luzes, pois pode alegar-se feliz aquando é dado cobrir-se com o sudário da loucura.

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Lembrai-vos de Adão, no Livro XII dos Números, talvez esteja eu equivocada, querendo rogar o perdão para si e para sua mulher: “Rogo-vos, Senhor, que não nos condeneis por esse pecado que totalmente cometemos.” Saul também age da mesma forma, para se desculpar com Davi: “Logo se vê que agi como um louco!” O próprio Davi procurando evitar a vingança divina, exclamou: “Senhor! Suplico-vos que canceleis a iniqüidade da parte de vosso servo, pois agimos como loucos.” Bem vedes que não esperava ser favorecido, se não aduzisse como desculpa a sua tolice e ignorância.

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De todas as provas, a que corta a cabeça do touro é a prece do Salvador na cruz pelos seus crucificadores: “Perdoai-lhes, Pai, - disse ele, e o Deus moribundo não aduziu em favor deles outra desculpa senão a da loucura, acrescentando: “... porque não sabem o que fazem.” Disse São Paulo a Timóteo: “Deus usou de misericórdia para comigo por haver sido a minha incredulidade efeito de minha ignorância.” Perguntais vós, pergunta efetivamente lícita: “Que significa essa ignorância?” Não significará mais estultice que malícia? “Qual o sentido dessas palavras: “Deus usou para comigo de misericórdia, porque, etc.?” Não seria a de demonstrar com clareza que, sem o crédito e a recomendação da Loucura, São Paulo não teria recebido qualquer misericórdia?

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O místico salmista mostrou-se do meu ponto de vista, tendo eu olvidado colocar no seu lugar: “Dignai-vos, Senhor, esquecer os delitos de minha juventude e das minhas ignorâncias.” Este divino cantor escusa-se por dois títulos: em primeva instância, pela juventude, idade de que sou a leal e inseparável companheira; a segunda, pela ignorância, e notai vós que expressa a sua ignorância no plural, o que demonstra a força imensa da sua loucura.

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Tantas citações, hein, Senhores, não é isto aquilo de gastar lábia infinita para puxar a farinha para o meu saco, nada disso ser verdade, mas a lábia persuade, ademais utilizo-me da força da oratória? As citações estão escritas na Bíblia. A “intenção fundamental” é a de vos fazerdes ver, em linguagem e estilo sucinto, que a religião cristã coaduna-se com perfeição com a loucura e não possui a menor relação com a sabedoria. Como essa proposição pareça um verdadeiro paradoxo – não vos esqueçais de que o paradoxo é o responsável pela felicidade e estética -, não serei tão irrazoável que intencione me acrediteis baseados apenas em minha boa fé.

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Impossível encontrar loucos mais extravagantes que os que se abandonam inteiramente à ardência da fé cristã – lembrando-vos de uma lenda australiana: “A serpente surda era a única, outrora, a possuir o fogo, que guardava escondido no interior de seu corpo.” Desprezam as injúrias, deixam-se enganar, não vêem diferença entre amigos e inimigos, sentem horror pela volúpia: as abstinências, a vigília, as lágrimas, os padecimentos, os ultrajes, eis as suas deliciosíssimas delícias, odeiam a vida, desejam a morte, ao ponto de parecerem privados do senso comum, não passando de corpos sem alma e sem sentimento? Que nome lhes daremos, se o de loucos não lhes fica bom?

RIO DE JANEIRO(RJ), 21 DE JANEIRO DE 2021, 20:29 p.m.

 

 


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