CAPÍTULO VII – O QUE É ISTO – O AMOR PRÓPRIO! GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: NOVELA @@@@


Julgar sem fundamentos para revelar os motivos do juízo nem se pode dizer ser inocência,m ingenuidade ou nonsense, trata-se unicamente jeriquice – ou melhor, idéia de jerico -, pois o juízo requer conhecimentos a priori. Mas, o que fazer? O juízo nestes tempos hodiernos alimenta-se in totum do descabido, inda mais que lhe habitam a inveja, o preconceito, a discriminação, a inveja, o ciúme, o despeito, o ciúme, coisas que obtusam a inteligência, sensibilidade, amofinam a intuição, a percepção, elevam a hipocrisia à mais alta potência, zera os homens, tornando-lhes puros instintos, uma pureza defectiva.

@@@

Ajuizam-me inconseqüente, grosseira, bruta, irreverente, indômita, mas não sabem patavina de mim, o mais sério, não conhecem a minha origem. Agora que renasci das cinzas, sou das cinzas, mas descobrirem isto vão demorar uma baba de tempo. Não estão equivocados. As ciências mais uma vez pecam pela estupidez. A minha origem é o AMOR PRÓPRIO!.

@@@

Ao tecer as minhas considerações e juízos acerca do “Amor Próprio”, por que motivo, o que justifica, hei de restringir a uma espécie ou duas de loucura? Quantos recursos surpreendentes não possuirá o meu inestimável amor próprio, que conferis, oh humanos, para evitar que o homem se desgoste se si mesmo? Só observar aquele homem ali sentado na mesa do botequim, tomando o seu drinque: não seja neste mundo mais horroroso, no entanto, julga-se o Rock Hudson, o mais lindo da raça. E perto dele, aquele que garatuja palavretas em sua agenda, intimamente julgando-se o Kant da razão prática. E aquele que está cantando, recostado ao parapeito da janela do quarto, pior que o galo da madrugada, pensando ter uma voz mais linda que a de Pavarotti.  Consideremos também que essa espécie de loucura é agradável. Inútil passar em revista os que professam as artes, os que lhes concedem valores ulteriores a tudo mais, por que com toda ciência da razão podem ser reconhecidos como os prediletos, os favoritos de meu amor próprio. Esses indivíduos estão de tal modo ficcionados pelo ínfimo mérito que a preferência é ceder uma côdea de seu patrimônio a confessarem-se ineptos, a assumirem a inércia. Palhaços, cômicos, músicos, escultores e pintores, oradores, poetas e escritores – eis aí os melhores amigos do amor próprio. Tanto mais ignorantes, tanto mais geniais e perfeitos se acham em sua arte, aproveitam todas as ocasiões e momentos para celebrarem o amor próprio, os próprios louvores. Haveria quem os aplauda, vangloriem? Toda asnada, por mais áspera que seja, encontra per siempre sequazes, álibis, capachos. Quanto mais adversa ao bom senso é uma coisa, tanto maior é o número é o seu de seus admiradores, serviçais. O que mais se opõe à razão é o que mais se adopta com maior avidez. Como dizia um tal de Senhorzinho Malta: “Estou certa ou estou errado”, balançando a sua pulseira.

@@@

A ignorância, santa ignorância!... Possui ela dois grandes e incólumes privilégios: o primeiro consiste em estar de acordo com o amor próprio e o outro que consiste em trazer em si a maior parte da raça humana.

@@@

Não seria de bom viltre, oportuno aqui e agora considerar outra reflexão no concernente ao amor próprio? Por mim, creio que sim. Todo homem ao colocar seus pés no mundo – aliás são os pés os primeiros a se revelarem no momento do parto -, ao nascer, recebe o seu amor próprio como um dom da natureza. Essa mãe comum a todos sem exceção não se limitou apenas aos homens, fez a mesma dádiva à sociedade, não se encontra única nação que não tenha o seu gosto particular. Os bárbaros tucos e todos os seus povos similares jactam-se de ser os únicos que vivem no seio da verdadeira religião, escarnecendo da idolatria dos cristãos, católicos. Os judeus vivem felizes e saltitantes à espera do Messias. Os evangélicos à espera da redenção dos pecados e da ressurreição. O amor próprio difunde por toda parte grandes alegrias.

@@@

Em que consiste o amor próprio? Quem seria o mais indicado para responder a este questionamento tão essencial, tão complexo e hermético senão eu que o trago nas entranhas de meu ser? Não consistirá ele em agradar, satisfazer a si mesmo, adular-se? A minha adulação reanima as almas desesperadas por suas dúvidas e inseguranças nas contingências da existência, os espíritos abatidos, alegra os nostálgicos, estimula os poltrões, consola os amores não correspondidos, alenta os fracassados, vencidos, frustrados, dá um “sossega leão” nos imbecis, restabelece os doentes, acalma os furibundos. A minha adulação instiga as crianças ao trabalho, aos estudos, consola os velhos; minha adulação faz com que os homens em uníssono, como tantos outros Narcisos, amem-se de paixão, dando origem à mais essencial felicidade da vida.

@@@

Mais cônscia até me encontro a posteriori ao meu renascimento das cinzas de que a minha missão outra não é senão divulgar o meu amor próprio a todos os ventos, estabelecer sua hegemonia e poder, depor e destituir o caos humano que a razão fez o obséquio de instituir no mundo e na vida. Missão árdua que levará tempo indizível, indescritível a ser realizada, mas sendo a única solução, não havendo mais problemas e tantas intempéries de toda sorte.

RIO DE JANEIRO(RJ), 14 DE JANEIRO DE 2021, 12:44 p.m.

 


Comentários